Em declarações aos jornalistas, após o discurso desta manhã da candidata indigitada pelo Conselho Europeu na assembleia europeia, João Ferreira considerou que Von der Leyen é “a candidata do grande consenso que tem mandado na União Europeia nas últimas décadas”.
“Esta é a candidata das desigualdades entre países, em que os superavits de uns são construídos em cima dos desequilíbrios, dos défices, dos sacrifícios de outros. Esta é a candidata das recomendações por país que mandam desregular o mercado de trabalho, privatizar empresas, subfinanciar os serviços públicos. Portanto, esta candidata só pode contar com aqueles que têm estado com esse tipo de políticas, não pode contar com aqueles que se têm oposto a estas políticas e defendido outro caminho para a Europa, como é o caso do PCP”, avaliou.
O eurodeputado português argumentou que, olhando para o programa que a política alemã apresentou hoje na sessão plenária, não encontra “linhas de rutura com aquilo que tem sido a atuação da UE”, uma vez que no seu discurso a ainda ministra alemã da Defesa reafirmou “procedimentos como o Semestre Europeu, o aprofundamento da União Económica e Monetária, enquanto máquina geradora de desequilíbrios”.
“Mesmo um certo discurso que se tende a aproximar de preocupações ambientais, é interessante como esta candidata veio aqui afirmar a prioridade às alterações climáticas e a solução que tem para apontar é o alargamento do mercado do carbono, pensando que criando um mercado de direitos de poluir vamos combater as alterações climáticas. Está demonstrado que não. O mercado do carbono desse ponto de vista é um falhanço. E o que ela nos está a dizer é que quer insistir naquilo que demonstrou ser um falhanço e faz disso uma bandeira eleitoral”, criticou.
Referindo-se à amplitude de promessas feitas hoje por Von der Leyen, que alcançam quase todos os grupos políticos, Ferreira encontrou semelhanças com os processos de nomeação dos últimos dois presidentes da Comissão, Jean-Claude Juncker (há cinco anos) e Durão Barroso (há dez e 15 anos).
“Sabemos que estes candidatos têm de agradar a um espetro que abarca a direita e a social democracia. Sabemos que sempre contaram com o apoio destas grandes famílias políticas, mas que na hora dos discursos tem de ajudar a justificar determinados apoios”, manifestou.
O grupo da Esquerda Unitária, onde têm assento o PCP e o Bloco de Esquerda, anunciou na passada semana que não apoiará a candidata indigitada, ao considerar “insuficientes” as suas propostas em temas como as alterações climáticas e migrações.
O Parlamento Europeu vota hoje, às 18:00 locais (menos uma hora em Lisboa), a nomeação da alemã Ursula von der Leyen para a presidência da Comissão Europeia.
A política alemã necessita obter uma maioria absoluta - metade dos eurodeputados mais um, ou seja, 374 – para suceder ao luxemburguês Jean-Claude Juncker na presidência do executivo comunitário.
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