Intitulada “Um Museu do Outro Mundo”, a exposição pode ser visitada a partir de sexta-feira e até 3 de junho, para assinalar o décimo aniversário deste espaço museológico, e os 30 anos da Fundação Oriente, que tutela o museu.
José de Guimarães disse hoje à agência Lusa que pediu a colaboração do arquiteto Pedro Campos Costa e do curador Nuno Faria para construir “toda uma cidade fantasmagórica que vai de uma zona escura, até uma zona clara, atravessada por uma zona dourada”, onde as peças se reúnem simbolicamente.
O artista, cuja vida e obra é marcada por viagens pela Ásia, a África e a América Latina, reuniu ao longo de décadas uma coleção de arte chinesa que percorre desde o período Neolítico à unificação do império, passando por várias dinastias, a Qin e Han.
“Nas minhas viagens, recolhi vários artefactos, e nesta exposição coloco as peças antigas em diálogo com a arte contemporânea”, num conceito, segundo o artista, “cada vez mais atual”.
Na exposição, cruzam-se as obras do acervo do Museu do Oriente, da coleção pessoal de arte chinesa de José de Guimarães e novas obras criadas pelo artista.
José de Guimarães, de 78 anos, criou uma espécie de relicários para apresentar peças da sua coleção de arte antiga chinesa, sobretudo em jade, algumas com mais de dois mil anos.
“O jade era considerado um material muito especial no Oriente. Havia imperadores que o esmagavam e comiam, acreditando que poderiam receber os seus poderes”, apontou, na entrevista à Lusa.
Além destas peças da coleção pessoal do artista – também em terracota e bronze – há outras obras recentes, criadas especialmente por José de Guimarães para a exposição, e pinturas em papel, de grandes dimensões, “que evocam a noção de efémero”, entre outras, como papagaios e esculturas também em papel.
O diálogo — contemporâneo, arqueológico e etnográfico – criado pelo artista envolve peças orientais retiradas das reservas do acervo do Museu do Oriente, muitas delas nunca apresentadas antes ao público, nomeadamente objetos da coleção Kwon On.
As peças – algumas delas ligadas a rituais e ao culto dos mortos – são apresentadas ao longo de um percurso que começa numa sala negra, atravessa uma passagem dourada, e continua para uma sala branca, com espelhos no seu interior, que reflete os visitantes e as obras.
“É uma experiência especial, esta passagem pela sala negra, mais intimista e urbana, a sala dourada, de transição, e a sala branca, mais reflexiva, celestial”, comentou o arquiteto Pedro Campos Costa à Lusa.
José de Guimarães foi convidado para fazer uma exposição comemorativa dentro da lógica do seu trabalho: “Envolve um conceito de alteridade, de recolha de elementos de outras culturas, através de artefactos que me permitem descobrir as culturas que não são as minhas, ocidentais”.
Esta mostra, de acordo com o Museu do Oriente, assinala o arranque das comemorações, estando inscrita no Ano Europeu do Património Cultural 2018.
O Museu do Oriente, que abriu portas em maio de 2008, foi distinguido em 2009 como o melhor museu português desse ano pela Associação Portuguesa de Museologia (APCOM).
Possui um património museológico com mais de 15.000 peças, muitas delas sobre a presença portuguesa na Ásia, que vão desde as máscaras ao mobiliário, passando por armaduras, mapas, têxteis, biombos, porcelanas, terracotas, desenhos e pinturas.
Localizado em Alcântara, o museu foi instalado após obras de recuperação e adaptação do edifício originalmente desenhado pelo arquiteto João Simões, construído em 1939, um dos símbolos da arquitetura portuária do Estado Novo.
O novo projeto é da autoria dos arquitetos João Luís Carrilho da Graça e Rui Francisco.
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