“Solicitei máquinas de rasto, que não existiam. A primeira chegou às 23:00 ao local e depois de pedida à Câmara de Pombal. Pedi ao comando nacional mais meios pesados. Como o comando nacional não tinha mais meios disponíveis, perguntou se então queríamos máquinas de rasto. E pedi para as mandarem”, adiantou o segundo comandante distrital de Leiria, Mário Cerol.
A sessão inicial da fase de instrução do processo judicial sobre as responsabilidades do incêndio de 2017 em Pedrógão Grande, que tem 13 arguidos, decorre hoje no Tribunal da Comarca de Leiria.
Nesta sessão, durante a manhã, Cerol explicou que “todos os grupos de reforço são mobilizados pelo comando nacional”.
“Não temos autonomia para mobilizar as Forças Especiais de Bombeiros [FEB] e outros grupos de reforço e a FEB não foi mobilizada”, sublinhou.
Segundo referiu, a informação que chegou do comando nacional é que estaria para chegar um grupo de Évora, “mas a verdade é que nunca chegou”.
“Os meios chegaram ao teatro de operações já muito depois e eu já não era COS [comandante de operações de socorro]”, recordou, explicando que enquanto assumiu a liderança “chegaram meios de emergência médica que foram solicitados e mais um grupo de reforço de Leiria”.
Mário Cerol explicou ainda que por duas vezes os meios aéreos foram retirados do local “por falta de autonomia” e que depois deixou de haver condições para operar “devido às altas temperaturas e o vento forte”.
O comandante disse ainda que as comunicações falharam por volta das 20:30. “Começámos por receber informação de Pedrógão a informar que estavam sem comunicações e a seguir falhou tudo”.
“Estavam às escuras?”, questionou o juiz de instrução: “Sim”, disse Cerol.
O comandante garantiu ainda que o posto de comando “nunca esteve em risco” e que a mudança ocorreu devido às falhas de internet.
Augusto Arnaut, por outro lado, garantiu que a forma como o incêndio se desenrolou “nunca” o levou a acreditar que chegasse à Estrada Nacional 236, onde viria a morrer a maioria das 66 pessoas que aquele incêndio vitimou.
“Fiz o corte da Nacional 2 e do IC8 [itinerário complementar 8]. Longe de mim imaginar que o fogo fosse nesse sentido e chegasse a essa zona. Nem nunca me foi reportada nenhuma informação nesse sentido. A minha preocupação foi atacar a frente de fogo e evitar que o incêndio entrasse na vila” de Pedrógão Grande.
“Foi quando o posto de comando estava nos estaleiros que tivemos a perceção onde é que o incêndio estava”, acrescentou.
Augusto Arnaut explicou ainda foi utilizado o SITAC para definir a estratégia, mas que “nada é apagado”. “Vamos atualizando a informação”.
O comandante garantiu ainda que não “ignorou” o incêndio de Regadas, mas a avaliação que fez, com base em todas as informações que tinha, é que “seria uma projeção”. “Mandei para lá o comando 4, mas não tinha mais meios”.
Augusto Arnaut insistiu que pediu reforços. “Estava farto de solicitar meios e diziam todos que estavam em trânsito. A hora crítica - das 16:00 às 18:00 - foi quando mais precisava de meios e não tinha nenhuns. Não entendo por que é que Góis [outro incêndio], passados nove minutos, tinha quatro meios aéreos”, desabafou.
O grande incêndio que deflagrou em 17 de junho de 2017 em Escalos Fundeiros, concelho de Pedrógão Grande, e que alastrou depois a municípios vizinhos, nos distritos de Leiria, Coimbra e Castelo Branco, provocou 66 mortos e 253 feridos, sete deles com gravidade, e destruiu cerca de 500 casas, 261 das quais eram habitações permanentes, e 50 empresas.
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