"Por onde anda o fogo?" é a pergunta habitual no café "O Jardim", no centro de Pedrógão Grande.
Mó Pequena, Casalinho, Adega, Troviscais, Escalos Fundeiros, Cimeiros, Sarzedas de São Pedro, Soeiro, Rapos, Vila Facaia, Picha, Venda da Gaita, entre tantos outros, são nomes que se repetem um pouco por todo o lado.
A dona, Tatiana, ouve todos os avisos e passa o dia ao telemóvel enquanto atende clientes.
"Isto é o diabo", diz Américo Costa, mais conhecido por '501'.
"O fogo anda a fugir e vai escapar-se", responde outro cliente.
Ao lado, uns estrangeiros falam alemão entre eles e perguntam a uma das empregadas: "onde é que ele está?"
Ninguém sabe, mas todos temem os seus caminhos.
"Hoje à noite na Derreada vai ser um inferno e não há um único bombeiro", diz uma idosa.
"Na Derreada não. Ele vai é a Vale de Góis", retorque uma amiga, em conversa.
Todos viveram horas de terror mais ou menos evidente nos últimos dias, visíveis nas olheiras e nos rostos cansados de todos os moradores.
"O meu marido ficou lá na aldeia, que foi evacuada, a ajudar outros. Estou à espera que me ligue", diz Amélia, com o marido na Louriceira, uma das aldeias que esta tarde fez fronteira das chamas.
Mais a oeste, em Castanheira de Pêra, no café junto ao edifício da Câmara, as conversas são as mesmas.
"Ele vai por ali, pelo Coentral a dentro e ninguém o para até à Lousã", diz António, sentado na esplanada.
"Ele" também andou por Figueiró dos Vinhos. Em Amieiras, António Lopes viu o fogo a circular a encosta há uns anos, destruindo a horta e queimando a tinta das paredes. . Este ano foi menos grave, "ele ainda não saltou o vale".
"Vai lá chegar, é uma questão de tempo", avisa o vizinho, que o ajudava a arrumar uma pequena casa, empilhando os móveis nos quartos de dentro.
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