Há poucos meses voltou para o seu espaço, reconstruído pela Cáritas, depois de cerca de ano e meio a residir em casa de uma irmã, na mesma aldeia, juntamente com um filho.
"São memórias muito tristes", começa por relatar Rosalina Rosa, de 80 anos, à agência Lusa, recordando que o incêndio, além da casa e de um barracão, lhe destruiu "o ouro, o azeite e o vinho".
"Eu e o meu filho ficámos só com a roupa do corpo", salienta.
Também escapou um pequeno café que os dois gerem na aldeia há cerca de 40 anos.
A casa foi reconstruída e mobilada totalmente pela Cáritas, mas o arranjo do barracão foi suportado por si.
É no café Retiro do Lino, mesmo ao lado de uma casa que ardeu, que Rosalina Rosa vai passando o tempo, ajudando o filho no negócio, que “está muito fraquinho".
"Vendo muito pouco. Tenho dias de tirar três cafés", enfatiza a mulher, que depois do incêndio passou a receber a alimentação através de uma instituição de solidariedade social do concelho e assim continua.
Em Vale de Nogueira, na freguesia de Vila Facaia, Edite e o marido, Joaquim Godinho, já dormem mais descansados depois da tragédia de junho de 2017, que lhes destruiu a casa, barracões, viaturas, alfaias agrícolas e animais.
Oito dias antes do Natal passado, o casal voltou para uma casa nova, "um pouco mais pequena", construída pela Mota Engil no mesmo local da anterior, depois de terem residido num imóvel emprestado na aldeia.
"Falta só terminar os anexos, que o empreiteiro ainda não veio acabar", adianta Edite Godinho, salientando que ficam a faltar os arrumos, que são por sua conta, mas não sabe se tem dinheiro para os concluir.
Há dois anos, as chamas chegaram rapidamente junto à sua antiga habitação e não restou a Edite e ao marido outra alternativa que não fugir de carro até Vila Facaia.
"Só peço a Deus que ninguém passe pelo inferno que vivemos", recorda Edite Godinho, para quem ter perdido o lar "foi muito difícil".
"Nunca mais vamos ter aquilo que tínhamos", sublinhou.
Ainda em Vale de Nogueira, num dos extremos da aldeia, Albino Domingues, de 73 anos, só desde março é que passou a usufruir da sua habitação, depois de terminadas as obras de recuperação suportadas pela Cáritas.
Durante este período, residiu com a mulher num pequeno anexo com um divã que foi poupado pelas chamas, enquanto um filho que vivia com o casal ficou alojado em casa de um vizinho.
"Já estava farta de ali estar naquele cubículo", confidenciou Graziela Jesus Coelho, de 72 anos.
Aos poucos a vida vai normalizando, mas o casal não esquece "um dia como aquele, com uma ventania e um barulho que só visto", em que o fogo "aparecia de todo o lado" e os obrigou a fugir com o filho.
"Ficámos cá, é o que interessa", sintetizou Graziela Coelho.
O incêndio que deflagrou há dois anos em Pedrógão Grande e que alastrou a concelhos vizinhos provocou a morte de 66 pessoas e 253 feridos, sete dos quais graves, e destruiu cerca de meio milhar de casas e 50 empresas.
Mais de dois terços das vítimas mortais (47 pessoas) seguiam em viaturas e ficaram cercadas pelas chamas na Estrada Nacional 236-1, entre Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos, no interior norte do distrito de Leiria, ou em acessos àquela via.
As chamas, que eclodiram pelas 14:00 de 17 de junho de 2017, foram extintas passado uma semana (24 de junho), depois de, em 20 de junho, se terem juntado ao fogo que, cerca de dez minutos depois do início daquele incêndio, no concelho de Pedrógão Grande (em Escalos Fundeiros), deflagrou no município de Góis (distrito de Coimbra), em Fonte Limpa.
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