“Como província já precisávamos realmente de infraestruturas, a situação piorou com este nível de destruição”, avançou o diretor provincial de Educação em Cabo de Delgado, Ivaldo Quincardete, em declarações aos jornalistas, em Pemba.

De acordo com o responsável do setor de Educação, foram destruídas um total de 510 salas de aulas com a passagem, em 2019, do ciclone Kenneth, e 400 salas por ações de grupos terroristas, que desde 2017 atuam naquela província.

Além disso, explicou ainda, foram destruídas, em oito distritos do sul de Cabo Delgado, 1.419 salas com a passagem, em 15 de dezembro de 2024, do ciclone Chido, um dos três que fustigou o norte do país na última época chuvosa.

Apesar da “destruição massiva” de infraestruturas, Ivaldo Quincardete aponta a recuperação de algumas das destruídas naquele ciclone: “Tínhamos conseguido recuperar e construir, até final de abril, 314 salas”.

“A maior parte das salas, em Mocímboa da Praia, estão em funcionamento”, avançou ainda Ivaldo Quincardete, apontando problemas no distrito de Quissanga, que “tem poucas escolas a funcionar”.

Em 2023, Ivaldo Quincardete anunciou o plano de reconstrução de centenas de escolas em Cabo Delgado.

“Temos o plano de reconstrução de Cabo Delgado, para alguns distritos está a andar de uma forma aceitável, e aqui refiro-me principalmente a Palma. Em Palma têm estado a acontecer realmente algumas reabilitações e algumas construções”, disse, em entrevista à Lusa, na altura.

Contudo, o responsável da Educação na província reconheceu, na mesma ocasião, que a reabilitação das escolas nos distritos de Mocímboa da Praia e de Quissanga, fortemente afetados pelos ataques, “não estava a acontecer” como previsto.

“São dois distritos realmente que tiveram muita destruição, muito abandono, as escolas ficaram abandonadas com as nossas salas precárias com o tempo elas foram-se degradando, foram caindo e realmente não está a mexer muito em termos de plano de reconstrução”, admitiu.

Desde outubro de 2017, a província de Cabo Delgado, rica em gás, enfrenta uma rebelião armada com ataques reclamados por movimentos associados ao grupo extremista Estado Islâmico.

O último grande ataque deu-se a 10 e 11 de maio de 2024, à sede distrital de Macomia, com cerca de uma centena de insurgentes a saquearem a vila, provocando vários mortos e fortes combates com as Forças de Defesa e Segurança de Moçambique e militares ruandeses, que apoiam Moçambique no combate aos rebeldes.

Só em 2024, pelo menos 349 pessoas morreram em ataques de grupos extremistas islâmicos no norte de Moçambique, um aumento de 36% face ao ano anterior, segundo um estudo divulgado pelo Centro de Estudos Estratégicos de África (ACSS), uma instituição académica do Departamento de Defesa do Governo norte-americano.

A última época chuvosa em Moçambique, que se iniciou em outubro e terminou em abril passado, registou os ciclones Chido, em 14 de dezembro, e Dikeledi, em 13 de janeiro, matando cerca de 170 pessoas e deixando um rasto de destruição no norte do país, sobretudo nas províncias de Cabo Delgado e Nampula.

Moçambique é considerado um dos territórios mais severamente afetados pelas alterações climáticas globais, enfrentando ciclicamente cheias e ciclones tropicais durante a época chuvosa, mas também períodos prolongados de seca severa.