Segundo Getachew Balcha, porta-voz da região de Oromia, a região "contou cerca de 50 mortos" na terça-feira, enquanto o Congresso Federalista Oromo (OFC), oposição, disse que hoje nove pessoas foram mortas durante confrontos em Ambo, na região de Oromia, a 100 quilómetros a oeste da capital, Adis Abeba.

De acordo com a mesma fonte, Ambo, cidade natal do cantor Hachalu Hundessa, morto a tiro, na segunda-feira, em Adis Abeba, foi hoje palco de novos confrontos entre as forças de segurança e residentes.

Teshome Bongase, representante do Congresso Federalista Oromo (OFC), disse à AFP que nove pessoas morreram no hospital principal de Ambo, enquanto outras 10 ficaram gravemente feridas.

A oficial de comunicações de Ambo, Milkessa Beyene, adiantou os confrontos começaram quando um grupo de jovens nacionalistas oromo exigiu que o artista fosse enterrado em Adis Abeba e não em Ambo.

Segundo Milkessa, um tio de Hachalu Hundessa encontra-se entre os mortos de Ambo.

Hachalu Hundessa, considerado a voz do povo oromo durante os anos de protestos antigovernamentais que levaram o atual primeiro-ministro, Abiy Ahmed, ao poder em 2018, foi morto a tiro na segunda-feira à noite na capital Adis Abeba.

A notícia da morte do cantor, conhecido pelas suas canções de protesto político, desencadeou uma série de manifestações, que degeneraram em confrontos com as forças de segurança, em Adis Abeba, na região de Oromia, e em outras zonas do país de mais de 110 milhões de habitantes.

Getu Argaw, comissário de polícia na capital etíope, disse que Hachalu Hundessa, de 36 anos, foi baleado no distrito de Akaki Kality no sul de Adis Abeba e levado para um hospital, onde acabaria por morrer.

Em declarações aos meios de comunicação social estatais na noite de segunda-feira, o comissário disse que tinha sido aberta uma investigação e que "alguns suspeitos" estavam sob custódia policial.

O primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, também de etnia oromo, expressou as suas condolências pela morte do artista e apelou à calma numa mensagem publicada na sua conta do Twitter.

As letras de Hachalu abordavam frequentemente os direitos da etnia oromo e o compositor desempenhou um papel importante na onda de protestos que levou à ascensão de Abiy ao poder em abril de 2018.

A sua ascensão à chefia do Governo pôs fim a décadas em que a coligação governamental multiétnica foi dominada por líderes da minoria tigray.

Até então, os Oromo queixavam-se tradicionalmente da marginalização política e económica.

Abiy, 43 anos, impulsionou grandes reformas na Etiópia, o segundo país mais populoso de África, incluindo o fim do estado de emergência decretado pelo seu antecessor, amnistiou milhares de prisioneiros políticos, legalizou os partidos da oposição e comprometeu-se a realizar eleições.

Em 2019, recebeu o Prémio Nobel da Paz pela sua contribuição para pôr fim ao conflito entre a Etiópia e a Eritreia.

No entanto, Abiy tem sido criticado por não conseguir resolver alguns dos problemas de raiz do Estado etíope, nomeadamente as tensões étnicas que têm causado ondas de violência e feito da Etiópia o segundo país com mais deslocados do mundo.