Esta terça-feira, as cerimónias religiosas iniciaram com a procissão eucarística no recinto, às 07:00 e, duas horas depois, o terço, na Capelinha.

A missa, com a bênção dos doentes e a procissão do adeus, encerra a peregrinação, que também é conhecida como peregrinação dos emigrantes.

Na homilia, o bispo de Coimbra criticou os malfeitores que "prometem paraísos aos mais pobres das periferias do mundo” e advertiu para os casos em que a comunidade é lugar de discriminação e o trabalho meio de exploração.

“O mundo tem notícia da existência de muitos rostos escondidos que, sem escrúpulos, prometem paraísos aos mais pobres das periferias do mundo. E por detrás de uns milhares de euros ou de dólares, aqueles rostos, que inicialmente se apresentam como bons samaritanos, acabam por revelar-se rostos de cruéis malfeitores, que abandonam homens, mulheres e crianças caídos à beira do caminho ou então que os entregam à sua sorte nas vagas do mar, sem esperança e sem futuro, prelúdio de morte ou, pelo menos, de embate com a dura realidade que os espera na praia”, disse D. Virgílio Antunes.

Na missa de encerramento da peregrinação internacional de agosto, que integra a peregrinação nacional do migrante e do refugiado, o também vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa afirmou que a atualidade “continua marcada pelas migrações de portugueses”.

“Persiste também nos nossos jovens a necessidade da mudança não desejada, seja por motivo de estudo, de investigação, de trabalho em condições mais favoráveis, de procura de realização mais adequada aos seus ideais de vida”, adiantou D. Virgílio Antunes.

Aos cerca de 50 mil participantes na celebração, o prelado recordou que se há imigrantes que escolhem o país “pelos mesmos motivos que levam os portugueses a sair”, muitos outros fazem-no a “fugir dos flagelos da pobreza ou da guerra e à busca de novas oportunidades de vida”, alertando que para estes “o desenraizamento e a entrada numa realidade nova são motivos de não poucas dificuldades”.

“Também os que chegam ao meio de nós têm de enfrentar a novidade do desconhecido, do desconhecido em terra estrangeira que é sempre fonte de apreensões e, não raro, de imensa solidão”, prosseguiu.

O bispo de Coimbra aludiu ainda à imagem da casa, para sublinhar que esta “é a habitação digna e necessária, essencial à vida da família”, mas significa também a “inserção na sociedade, o acolhimento e o respeito mútuos”.

“Quantas vezes ouvimos dizer aos migrantes ‘já tenho casa, já tenho trabalho, já conheço pessoas que estimo e que me querem bem, já estou integrado, já me sinto em casa, já estou em casa’. Porém, sabemos também que aquilo que se espera, por vezes, não acontece. A casa, a sociedade, torna-se lugar de rejeição, a comunidade, às vezes, torna-se um lugar de discriminação e o trabalho, frequentemente, torna-se um meio de exploração”, destacou.

O presidente da peregrinação salientou ainda que todos precisam de uma luz e “a luz de Deus vai à frente” e os seus reflexos “hão de ser as luzes dos homens, mas também dos Estados, das organizações, das instituições que acompanham, que protegem, que ajudam a rasgar horizontes de esperança aos mais vulneráveis, como são os exilados, os refugiados e os migrantes”.

Sobre o santuário, onde foi reitor, o bispo da Diocese de Coimbra assinalou que Fátima “continua a ser para os migrantes reduto de fé, lugar de súplica e de gratidão”, apelando à Virgem para ajudar a “acabar com as guerras” e “a construir um mundo de paz”.

Na missa, concelebrada por quatro bispos e 90 sacerdotes, cumpriu-se também a tradição, iniciada há 84 anos por um grupo de jovens da Juventude Agrária Católica de 17 paróquias da então diocese de Leiria, da oferta de trigo.

Segundo o santuário, no ano passado, foram oferecidos 5.635 quilogramas de trigo e 477 de farinha. Nesse ano, foram consumidas, aproximadamente, 13.539 hóstias médias, 410 hóstias grandes, 659 mil partículas e 480 partículas para celíacos.