O ministro da Saúde, Manuel Pizarro, disse na quinta-feira, depois de uma reunião do Conselho de Ministros, que o governo não tem intenção, “pelo menos no curto prazo”, de regressar ao estado de alerta e impor medidas de saúde pública para combater a covid-19.

Durante quase dois anos, Governo e peritos reuniram-se no auditório do Infarmed para avaliarem os indicadores que permitiram avançar ou recuar nas medidas de combate à covid-19. A última dessas reuniões ocorreu em fevereiro.

Estes são os principais pontos da reunião desta sexta-feira:

Lições aprendidas — Henrique de Barros

  • Henrique de Barros, presidente do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, começou por fazer um "exercício de memória" no que diz respeito à pandemia, de forma a rever as "lições aprendidas";
  • "A pandemia atual é aquilo a que os economistas chamam um exemplo de incerteza radical, ou seja, é demasiado complexa para ser capturada por modelos simples", apontou;
  • "Há imensas coisas que nós sabíamos que não sabíamos, mas imensas coisas que nem sabíamos que não sabíamos", referiu ainda, acrescentando que é importante "transformar a informação e conhecimento em ação útil";
  • Comparando com 1861, Henrique Barros referiu que ainda muitos profissionais de saúde não tinham o cuidado de higienizar as mãos no início da covid-19 — e este é "uma medida central de prevenção";
  • A transmissão online da reunião foi interrompida durante a intervenção de Henrique de Barros e recomeçou minutos depois;
  • Henrique de Barros lembrou de seguida que "as vacinas são indispensáveis", mas "podem não ser suficientes". Com esta medida, foram prevenidas mais de um milhão de infeções, mais de dois milhões de dias de internamento e 130 mil em cuidados intensivos, bem como 12 mil mortos;
  • Contudo, "é possível que haja escape imunitário", principalmente devido às novas variantes, bem como perda de imunidade, quer individual, quer de grupo. Por isso, é preciso haver "uma estratégia de imunização" e que o acesso à vacina seja igual para todos;
  • "Havendo vacinas disponíveis, como nós temos, nada justifica que as pessoas não possam vacinar-se qualquer que seja a sua idade. Diria mesmo: devem vacinar-se", acrescentou;
  • Reforçando que a vacina não é suficiente, Henrique Barros lembrou que é necessário manter de forma responsável um "conjunto de medidas", sendo que a primeira é "estando doente, ficar em casa", ou seja, não continuar a "funcionar socialmente";
  • Outras medidas: lavagem das mãos, manter a distância física, utilizar a máscara quanto há sintomas e em situações de maior risco, bem como nas unidades hospitalares;
  • Assim, "é essencial vigiar", principalmente porque já se sabe que está em causa uma infeção com tendência sazonal, o que leva a que não seja necessária a "obsessiva" realização de testes;
  • Henrique de Barros referiu que o combate à pandemia também se faz com as opões digitais existentes, como foi o caso da aplicação Stayaway Covid. "Parecia que tinham medo que a máquina lhes tirasse o lugar, não é isso que se passa", frisou, pedindo a "melhoria de condições técnicas" para ajudar ao diagnóstico;
  • Como conclusão, o especialista apontou que "a pandemia deve ser vista como um fenómeno crescentemente integrado no processo de identificação e resposta às infeções respiratórias" e que "a dimensão social e política da pandemia é central e determina a resposta sanitária, a nível nacional e internacional".

Informação genética do vírus — João Paulo Gomes

  • João Paulo Gomes, professor do INSA, começou a apresentação por fazer um ponto de situação sobre as variantes, linhagens e sub-linhagens que caracterizam o panorama epidemiológico a nível nacional e internacional;
  • A variante Delta foi a mais severa e esteve em Portugal cerca de 7 meses, até que "importámos da África do Sul a famosa Ómicron", explicou;
  • Com a taxa de vacinação "excelente", a imunidade aumentou. Assim, passou-se a falar apenas das variantes da Ómicron — "com nomes infindáveis": BA.1, BA.e e BA.5;
  • Segundo João Paulo Gomes, é a BA.5 que está presente em Portugal e no resto do mundo "há muitos meses", causando entre 75 e 95% das infeções;
  • Por sua vez, a sub-linhagem BQ.1.1 "tem sido muitíssimo publicitada porque está a crescer a sua frequência relativa na maioria dos países onde tem estrado" e está "associada a uma fuga ao sistema imunitário";
  • Cerca de 30% dos casos devem-se já a esta sub-linhagem, a mais transmissível atualmente. Todavia, "não há evidências de que estas sub-linhagens sejam mais severas";
  • As vacinas têm-se mostrado "muito eficazes", mas "menos contra estas linhagens emergentes";
  • João Paulo Gomes apontou ainda que "não é consensual a grande vantagem da atualização das vacinas relativamente à original", referindo-se às vacinas bivalentes. Assim, o reforço com este tipo de vacinas "parece potenciar apenas ligeiramente" a resposta imunitária e a "infeção natural" tem um "efeito protetor mais vincado";
  • "Não há qualquer motivo para alarme, mas temos todos os motivos para manter uma vigilância ativa", concluiu.

Tratamentos farmacológicos — Carlos Alves

  • Carlos Alves, médico infecciologista e membro do Infarmed, começou por "reforçar que as medidas não farmacológicas" são "importantes", mas as farmacológicas "fizeram a grande diferença" no combate à pandemia;
  • Nesse sentido, "as vacinas foram a medida que mais impacto teve na evolução da pandemia". Na Europa, o acesso às vacinas foi "bastante ágil" — "aconteceu algo nunca visto", apontou;
  • Existem duas vacinas na Europa baseadas na tecnologia RNH mensageiro, "aquelas que estão a ser a base do programa nacional de vacinação"; duas associadas a vetores víricos, "bastante utilizadas numa fase inicial"; duas vacinas proteicas, "uma tecnologia mais clássica", uma delas ontem aprovada. Além destas, foi também aprovada uma "vacina de vírus inativados", que também está autorizada para esquema de vacinação primária — mas que nunca foi utilizada em Portugal;
  • Carlos Alves explicou que a utilização de vacinas proteicas pode ser uma forma de "ultrapassar alguma da hesitação" associada às vacinas com tecnologias mais recentes e que estas "são mais fáceis de manusear em termos de logística";
  • "Estar vacinado faz a diferença. É importante fazer reforços", frisou;
  • Relativamente aos antivíricos, existem três em utilização: Remdesvir, Paxlovid e Molnupiravir;
  • O Molnupiravir e o Paxlovid  têm de ser utilizados "em situações de doença precoce, doença ligeira", com o objetivo de "evitar a doença grave", ou seja, não têm aplicação em casos em que "o doente já está com doença grave estabelecida";
  • O Remdesvir, administrado por via venosa e não oral, faz com que o seu uso seja maioritariamente em ambiente hospitalar, em dois contextos: "doentes já com doença grave, com necessidade de oxigénio", com resultados que não foram excecionais, e "em doentes com doença ligeira";
  • Além destes, há "várias dezenas de antivíricos em investigação", mas não devem entrar "num futuro próximo na nossa prática clínica".

Vírus respiratórios — Pedro Pinto Leite

  • Portugal regista um aumento de infeções respiratórias, semelhante ao período antes da pandemia, com reflexo na pressão sobre os serviços de saúde, mas com impacto reduzido na mortalidade, disse o investigador da Direção-Geral da Saúde;
  • Pedro Pinto Leite reforçou a necessidade de “uma abordagem integrada da covid-19 com as outras infeções respiratórias víricas, nomeadamente a gripe e a infeção pelo Vírus Sincicial Respiratório”;
  • “Na época de outono/inverno ocorrem temperaturas baixas e um aumento da incidência de infeções respiratórias” disse Pedro Pinto Leite, advertindo que “a dinâmica da covid-19 pode ainda não se encontrar estabilizada” e ainda constitui uma emergência de saúde pública de âmbito Internacional;
  • Segundo Pedro Pinto Leite, tem-se observado “um ligeiro aumento” no número total de internamentos por covid-19, que sugere uma incidência com tendência crescente, mas com valores inferiores aos da última onda e com um padrão semelhante ao do ano passado;
  • Nos internamentos nas unidades de cuidados intensivos por covid-19, observa-se “uma estabilização”, também com valores inferiores ao da última onda e um padrão semelhante a 2021;
  • Verifica-se que o aumento dos internamentos em enfermarias deve-se sobretudo a pessoas com mais de 65 anos, mas recentemente tem vindo a observar-se um aumento no grupo entre os 50 e 59 anos;
  • Nas unidades de cuidados intensivos, há uma estabilização dos internamentos em todos os grupos etários, disse o especialista, acrescentando que esta estabilização também é encontrada na mortalidade por covid-19;
  • Relativamente ao Vírus Sincicial Respiratório, Pedro Pinto Leite disse, citando o último relatório do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), que aumentaram recentemente os internamentos devido a esta doença em crianças abaixo dos dois anos;
  • “Este aumento é superior ao que é esperado para esta altura do ano”, observou, destacando que 43% dos internamentos são de crianças até aos três meses, 15% de prematuros e 14% de bebés com baixo peso, segundo dados desde outubro de 2021;
  • Aludindo à atividade gripal na Austrália, país referência para prever o que vai acontecer no inverno na Europa, o investigador alertou que é preciso “olhar com cautela” para a atividade gripal” este ano em Portugal;
  • Ao nível dos serviços de urgência, registou-se um aumento da proporção de episódios de urgência por síndroma gripal e outras infeções respiratórias mais recentes na última semana, ultrapassando os 10%;
  • “A mortalidade encontra-se dentro do esperado para altura do ano e, portanto, pelo que se entende que não há impacto neste momento pela dinâmica da transmissão da covid, da gripe, e de outro vírus respiratórios”, concluiu.

Vacinação contra a covid-19 e a gripe — Coronel Penha Gonçalves

  • O coordenador do plano de vacinação contra a covid-19 anunciou hoje um aumento de 10% na capacidade vacinal para permitir vacinar as pessoas acima dos 50 anos antes do final do ano;
  • A estrutura montada está com uma capacidade de 290 mil vacinas por semana e o aumento desta capacidade pode ser feito sem alterar o dispositivo atual;
  • O responsável informou que estão a funcionar 395 pontos de vacinação no país, 322 pontos em estruturas de saúde, 65 pontos em estruturas municipais e oito em estruturas de outras entidades, sublinhando que "44% da capacidade vacinal está nas estruturas municipais";
  • Carlos Penha Gonçalves disse ainda que, comparativamente ao ano de 2021, o ritmo de vacinação está este ano mais avançado e que se deverá chegar aos 1.850.000 vacinados com um mês de avanço;
  • Segundo os números que apresentou, que reportam a 10 de novembro, já foram vacinados com a 'dose de outono' da vacina contra a covid-19 1.863.885 pessoas. Quanto à vacina da gripe, foi administrada a 1.890.476 pessoas;
  • Do total de pessoas com a 'dose de outono' da vacina contra a covid.19, 260 mil pertenciam aos grupos prioritários, mais de 171 mil tinham comorbilidades e mais de 5.500 tinham prescrição médica para tal;
  • No que se refere à gripe, do total de vacinados, quase 240 mil pertenciam aos grupos prioritários, mais de 166 mil tinham comorbilidades e 8.657 eram portadores de prescrição médica. Dentro de duas semanas deverão ser atingidos os dois milhões de vacinados;
  • Penha Gonçalves destacou a participação das farmácias na vacinação contra a gripe, revelando que do total de vacinas administradas, mais de 194 mil foram nas farmácias;
  • A vacinação (covid-19 e gripe) nos estabelecimentos prisionais está concluída e que faltam três núcleos de intervenção nos sem abrigo.

(Notícia atualizada às 13h06)

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