O médico Rui Pato, antigo diretor do Centro Hospitalar de Coimbra, atualmente aposentado, considerou que "é um profundo disparate, que não passa pela cabeça de ninguém", construir a nova maternidade no perímetro dos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC), polo principal do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.
"Estudos internacionais referem que os HUC, em horário de ponta, têm a maior concentração e congestionamento de trânsito da Europa", salientou o pneumologista.
Rui Pato condenou que queiram instalar mais um equipamento numa área totalmente atrofiada, "só para terem tudo à volta, desperdiçando a possibilidade de criarem um polo de saúde no outro lado da cidade, na margem esquerda, que era fundamental".
O médico argumentou ainda que na margem esquerda do Rio Mondego"já lá está o Instituto Nacional do Sangue, o centro saúde, uma escola de enfermagem e outra de técnicos de saúde e 33 hectares de terreno livre nos Covões".
Para Rui Pato, os argumentos técnicos apresentados para justificar a nova maternidade no perímetro dos HUC "são encomendados" e não são credíveis, estando inquinados “pelos interesses universitários".
O médico cardiologista Fernando Martinho, que trabalhou sempre em dedicação exclusiva nos HUC, salientou que as duas maternidades existentes na cidade - Daniel de Matos e Bissaya Barreto - "atingiram o limite da sobrevivência e da dignidade" por falta de recursos humanos e estruturais.
Segundo afirmou à agência Lusa, atualmente uma "quantidade enorme de parturientes vão ter os filhos às instâncias privadas da cidade, onde não há cuidados intensivos, nem toda aquela gama de exigências técnico-científicas que são aduzidas para a maternidade ser construída nos HUC.
"No nosso manifesto consideramos muito importante a necessidade de investimento em pessoal e na recuperação das instalações das atuais maternidades, porque calculamos que a nova vai demorar muito tempo, não vai ser construída em um nem em dois anos", vincou Fernando Martinho.
O especialista, atualmente aposentado, sublinhou que, até do ponto de vista económico, fica mais barato instalar a nova maternidade no Hospital dos Covões, que, na sua opinião, ficaria muito abaixo dos 16 milhões de euros anunciados pelo Governo para as novas instalações.
"Nós sabemos como são as derrapagens nas obras públicas, do que aconteceu no novo Hospital Pediátrico, cujo investimento dava para fazer três, da Ponte Rainha Santa Isabel, que também dava para fazer três pontes iguais, e no Centro de Congressos São Francisco, que dava para fazer não sei quantos centros", disse Fernando Martinho, salientando que “os 16 milhões anunciados é para encher o olho".
O antigo diretor do Centro Hospitalar de Coimbra Armando Gonsalves defendeu que o Hospital dos Covões deve voltar a ter as suas valências, que foram sendo esvaziadas com a criação do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, e ser dotado de uma maternidade.
O cardiologista lamentou que os Covões, um dos melhores hospitais do país nos serviços de cardiologia, otorrino e urgência, "tenha sido destruído, porque acharam que um único hospital seria suficiente para 2,4 milhões de habitantes" da região Centro.
A nova maternidade de Coimbra deverá substituir as duas existentes (Bissaya Barreto e Daniel de Matos), que realizam aproximadamente 2.500 partos e cerca de 18 mil consultas por ano.
O grupo de trabalho definido pelo Governo para estudar a localização da nova maternidade - constituído por dois elementos da Administração Regional de Saúde do Centro, dois representantes do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra e um da câmara municipal - defende a sua construção no perímetro dos HUC, anunciou a ministra da saúde, no dia 07 de junho, em Coimbra.
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