O anúncio foi feito pelo recém-nomeado diretor criativo, Cooper Hefner, filho do fundador da Playboy, Hugh Hefner. "Vou ser o primeiro a admitir que a maneira como a revista retratava a nudez era antiquada, mas removê-la completamente foi um erro", disse Cooper Hefner num comunicado publicado no Twitter. "A nudez nunca foi o problema porque a nudez não é um problema. Hoje estamos a recuperar a nossa identidade", acrescentou.

A Playboy divulgou a edição de março/abril com uma foto no Twitter de sua Playmate do Mês e a hashtag #NakedIsNormal (Nu é normal). Ao mesmo tempo, Cooper Hefner publicou um ensaio que atualizava "a filosofia da Playboy" que tinha sido adotada por seu pai, agora com 90 anos.

"Ficou claro que o objetivo do meu pai ao lançar a Playboy era promover uma conversa saudável sobre sexo, além de encorajar o diálogo sobre opiniões sociais, filosóficas e religiosas", escreveu. "No entanto, muitos interpretaram mal essa mensagem ou não a entenderam, escolhendo em vez disso focar no retrato sem remorso da nudez e da sua abordagem revolucionária do sexo. (...) E esta é a ironia final, dado que o sexo figurativamente é o big bang por trás da sua existência, da minha existência, de toda a existência consciente e da civilização em si", acrescentou.

A Playboy parou de publicar imagens de nudez a partir de sua edição de março de 2016, como parte de um esforço para ampliar a sua audiência online e impressa. A circulação da revista registava nessa altura uma queda drástica atribuída à multiplicação de pornografia e conteúdo sexual na internet.

Se na década de 1970 a Playboy tinha uma circulação de cerca de 5 milhões de revistas, em 2011 esse número situava-se nos 1,5 milhões e, no último ano, os números baixaram ainda mais, para cerca de 800 mil revistas em circulação.

O anúncio desta segunda-feira marca um novo rebranding - que também remove o "Entretenimento para homens" de suas capas. "A Playboy sempre será uma marca de estilo de vida focada nos interesses dos homens, mas como os papéis de género continuam a evoluir na sociedade, nós também continuaremos", disse Cooper Hefner.

Há um ano em Lisboa, a estratégia era outra

Fundada em 1953, a Playboy foi mudando ao longo dos anos. De revista com conteúdos para homens evoluiu para marca e, em 2016, decidiu que a nudez iria desaparecer das suas páginas. O que muitos não sabem é que foi Cory Jones, diretor de conteúdos, que entrou na Playboy em agosto de 2014, o mensageiro dessa decisão. Há cerca de um ano, de passagem por Lisboa para uma conferência que reuniu os principais responsáveis da revista no mundo, foi o próprio Jones que contou como tinha sido este processo: “Foi a primeira e a única vez que estive com ele (Hugh Hefner) o que acabou por ser muito interessante”, tendo em conta que Hugh Hefner “é um ícone americano. E mostrar-lhe como nós íamos mudar o seu bebé, o trabalho da sua vida é incrível. Ele foi muito rigoroso, o que foi muito interessante”.

A mudança tinha começadoantes. Em agosto de 2014, o site da Playboyfoi relançado depois de todo o conteúdo que continha nudez ter sido banido desta plataforma, o que tornou todo o conteúdo partilhável. A nudez deu lugar à sensualidade e Cory Jones mostrava resultados satisfatórios. De acordo com o então diretor de conteúdos da Playboy, as visitas tinham aumentado de 4 para 20 milhões de visitas por mês e a faixa etária dos utilizadores tinha baixado de 47 para 30 anos. “Vimos este enorme sucesso e nem precisámos mudar o ADN da marca. Nós continuámos a ser a Playboy, simplesmente não tínhamos nudez. Isso mostrou-nos que a marca, em si, era muito relevante”, afirmou.

O “coelhinho” da Playboy está no top 20 das marcas mais reconhecidas a nível mundial, onde constam nomes como a Nike, a Disney ou a McDonald’s, e os seus produtos são comercializados em mais de 180 países. Completa 64 anos de existência e nestas seis décadas muita coisa mudou. Se a nudez é ou não a razão principal do seu sucesso, é a pergunta que continua sem resposta definitiva.