A diferença é esta: “Aqui sinto-me mais em casa. Tenho a minha própria cama, quarto e casa de banho. É bem diferente dos dormitórios onde tenho passado até agora, onde por vezes parecemos animais num estábulo sobrelotado.”

As palavras são de Mario Brezza, 53 anos, citadas pela cadeia NBC News, dos Estados Unidos. E referem-se ao facto de ele ser, agora, um dos cerca de 50 homens e mulheres sem-abrigo que dormem nos 16 quartos do Palazzo Migliori, um edifício do início do século XIX que, oferecido à Igreja pela família que lhe deu o nome, já foi casa de religiosas onde eram acolhidas mães solteiras e, agora, poderia ter sido um hotel com vista privilegiada para a Praça de São Pedro.

A vista continua lá, mas o Papa Francisco quis que o edifício, depois de algumas obras, fosse destinado a acolher pessoas pobres e sem-abrigo. E, acrescenta a Renascença, o Papa ordenou explicitamente ao esmoler do Vaticano, o cardeal Konrad Krajewski, que o prédio fosse adaptado ao uso que agora começou a ser feito.

Com uma perna amputada por causa de uma doença circulatória grave, Brezza vive com um subsídio mensal de invalidez de cerca de 270 euros. E é uma das cinco dezenas de pessoas que, com o apoio da Comunidade de Sant’Egídio, têm possibilidade de satisfazer as necessidades básicas: comer, dormir debaixo de um teto, lavar-se e vestir-se. No edifício, há ainda salas para formação, serviços, aconselhamento ou utilização de computadores – uma das ideias da casa e do projeto é que os sem-abrigo são ajudados a procurar de novo trabalho, como forma de reinserção.

O Palazzo está ainda preparado, se necessário, para acolher mais pessoas, caso o frio em Roma obrigue os sem-abrigo a refugiar-se em sítios mais protegidos.

Carlo Santoro, da Comunidade Sant’Egidio, grupo católico que tenta ligar oração e ação social e desenvolve vários projectos ligados à paz, define o Palazzo Migliori como um “paradoxo”: “É um belo palácio ao lado da Praça de São Pedro e da Basílica e é o lar de quem até há pouco tempo não tinha uma casa para onde ir”, afirmou, citado pela NBC.

Sharon Christner, 23 anos, norte-americana oriunda da Pensilvânia, voluntária no projeto, afirma, na mesma reportagem: “O que há de especial neste lugar é que não se trata de maximizar cifrões”. E acrescenta a jovem, que foi para Roma fazer uma pesquisa sobre questões sociais e falta de casa que se trata, antes, de “dar às pessoas um lugar realmente bonito para se estar, com a ideia de que a beleza cura”.

“A beleza cura” foi a expressão usada pelo Papa quando foi visitou o palácio, depois do final das obras em novembro, e almoçou com as pessoas que agora ali moram. Não é a primeira vez, aliás, que Francisco toma decisões para apoiar os pobres e os sem-abrigo que vivem na zona do Vaticano: já foi assim com a instalação de duches para crianças, de um centro médico e, antes disso, de uma lavandaria, vários outros duches e uma barbearia.