Cerca de 2.000 agentes da Polícia Militar, Polícia Civil e de outras forças de segurança participam na incursão desde o amanhecer, segundo o governo, em comunidades como Cidade de Deus, Gardênia Azul e Rio das Pedras.
Vinte pessoas tinhan sido presas até as 11h30 (hora local), informou o governador Cláudio Castro numa conferência de imprensa. Castro afirmou que não houve confrontos e admitiu que pode ter havido "fugas de informação" a alertar para a operação que ocorreria nesta segunda-feira.
A operação, sem data para terminar, visa "acabar com esta guerra que está conflagrada hoje entre trafico e milícias nessa parte da zona oeste do Rio", onde a criminalidade teve um "aumento significativo", disse o governador.
"É uma área que a gente sabe que o CV (Comando Vermelho) tem tentado retomar as milicias", acrescentou, referindo-se à principal facção criminosa do Rio de Janeiro.
Na Cidade de Deus, dominada pelo Comando Vermelho, havia uma forte presença policial na manhã desta segunda-feira, incluindo agentes do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE), relatou um jornalista da AFP.
O patrulhamento incluiu o uso de veículos blindados e agentes que caminhavam por algumas ruas, armados com armas automáticas. Os agentes removeram algumas barricadas de lixo ou cimento, frequentemente colocadas pelos criminosos nas favelas para controlar a circulação.
As primeiras horas transcorreram sem confrontos e a população parecia seguir a sua vida normalmente. O governador disse que recebeu denúncias de "possíveis fugas" que estão a ser investigadas e que os agentes públicos envolvidos serão punidos.
A segurança será uma questão-chave em outubro, quando o Brasil realizará eleições municipais para eleger prefeitos e vereadores em quase 6.000 municípios, incluindo o Rio de Janeiro
Domínio territorial e lavagem de dinheiro
As operações policiais são frequentes nas favelas do Rio de Janeiro, onde os agentes trocam tiros com traficantes e a população sofre devido ao fogo cruzado. Especialistas criticam esta abordagem, argumentando que tem baixa eficácia contra as organizações criminosas. No início de julho, por exemplo, seis pessoas foram mortas a tiro durante uma operação na Cidade de Deus.
Segundo o governo, a operação desta segunda-feira visa retomar o "controlo territorial" face aos grupos criminosos e combater as suas atividades de "lavagem de dinheiro".
"Libertaremos a nossa população de um jugo territorial. Retomaremos serviços públicos que infelizmente têm sido utilizados por essa criminalidade na intenção de obtenção de recursos e lavagem de dinheiro", afirmou Castro.
A zona oeste do Rio é o berço histórico das milícias, grupos paramilitares armados surgidos há quatro décadas que extorquem os moradores em troca de "proteção", controlam serviços básicos e nos últimos anos também se envolveram no tráfico de drogas e armas.
Em outubro passado, a atividade desses grupos no Rio de Janeiro tornou-se uma questão de segurança nacional após um ataque por milicianos que deixou 35 autocarros e um comboio em chamas, em resposta a uma operação policial na qual um dos seus líderes foi morto.
No Rio de Janeiro e respetiva área metropolitana, 18,2% do território está sob domínio de algum grupo armado, segundo dados de 2023 do Mapa Histórico dos Grupos Armados do Rio de Janeiro elaborado pelo instituto Fogo Cruzado e pela Universidade Federal Fluminense. O Comando Vermelho controla mais da metade desses territórios (51,9%), enquanto as milícias controlam 38,9%.
Comentários