O estudo do projeto Foresight Portugal 2030 é “um exercício de prospetiva”, que cruza questões económicas e financeiras com questões demográficas, sociais, tecnológicas, ambientais, geoeconómicas e geopolíticas.
Coordenado pelo economista José Félix Ribeiro, mas com contributos de vários especialistas ao longo de três volumes, o estudo tem três objetivos assumidos: “retomar o crescimento do país, após décadas de quase estagnação; contribuir para a mitigação e a adaptação às alterações climáticas, sem travar o crescimento; e promover a coesão e a mobilidade sociais, num contexto de mais forte solidariedade intergeracional”.
O estudo traça três cenários, que aplica a cada tema analisado, sendo que o primeiro assenta na “continuidade” do que já existe atualmente, enquanto os outros dois sugerem estratégias de “ajustamento” ou “reposicionamento” para “mudar a trajetória de Portugal das últimas décadas”, de forma a “que o país chegue a 2030 muito mais capaz de crescer e prosperar”.
No capítulo referente a recursos hídricos e zonas costeiras, os autores do estudo constatam que, no atual cenário, não há diversificação de fontes primárias de água, assinalando ainda uma “limitada intervenção da ‘economia circular’ na gestão do ciclo urbano da água”.
Verifica-se ainda uma “insuficiente proteção dos aquíferos subterrâneos, que constituem reservas estratégicas do país”, nota o estudo, destacando as regiões do Alentejo e Algarve, onde se combinam “limitações na oferta de recursos hídricos” e “uma cada vez maior” utilização de água para as atividades turísticas e agrícolas.
Por isto, os autores identificam as políticas da água como prioritárias.
Tanto no cenário de “ajustamento” como no de “reposicionamento”, os autores sublinham a necessidade de priorizar a política de constituição de reservas estratégicas de água, “quer no que respeita à armazenagem de águas superficiais, quer aos aquíferos subterrâneos”.
Simultaneamente, defendem o reforço da “regulamentação, monitorização e sancionamento de práticas indesejáveis”.
O cenário de “reposicionamento” sugere duas vias para a “diversificação das fontes primárias e secundárias de água”, nomeadamente nas grandes zonas urbanas e turísticas: a gestão do ciclo urbano da água nas principais metrópoles, assegurando maior reintegração de águas utilizadas, adotando uma abordagem de economia circular e a aplicação de sistemas de dessalinização.
O cenário de “ajustamento” sugere a “ampliação seletiva dos recursos hídricos disponíveis em bacias hidrográficas internacionais, mediante recurso eventual a transferências de águas superficiais originadas internamente noutros locais”.
Ambos os modelos colocam a tecnologia ao serviço de melhorias, quer na qualidade das redes de abastecimento de água, quer na utilização mais eficiente da água no setor agrícola.
A proteção das zonas costeiras passa por maiores investimentos em qualquer um dos cenários traçados, com enfoque na proteção das principais zonas estuarinas (Tejo e Sado, Ria de Aveiro e Ria Formosa).
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