Em causa está o desagrado da população dessa autarquia do distrito de Aveiro quanto ao facto de o novo modelo do Governo para gestão dos serviços de saúde desafetar os cerca de 55.000 utentes de Ovar do hospital de Santa Maria da Feira, que, no concelho contíguo e a poucos quilómetros, tem sido a unidade de referência para a população vareira desde a abertura dessa unidade clínica, em 1999.

Após a polémica gerada pelo inicial apoio da Câmara de Ovar, liderada pelo PSD, à referenciação para Aveiro, diferentes estruturas políticas vareiras opuseram-se a essa opção e a população organizou um protesto contra a medida, mas o Serviço Nacional de Saúde (SNS) confirmou na semana passada que, a partir de 01 janeiro, as unidades de Ovar passarão a ser geridas pela ULS da Região de Aveiro – que assim integrará o Hospital Francisco Zagalo de Ovar, o Centro Hospitalar do Baixo Vouga e o Agrupamento de Centros de Saúde do Baixo Vouga.

Isso significa que os utentes de Ovar passarão a ser seguidos nos hospitais de Aveiro e Coimbra, a distâncias muito maiores, o que, para a plataforma Coração Vareiro, é uma “situação extremamente grave” e justifica a convocatória pública para uma manifestação no dia 30.

“Estamos a ser empurrados para Aveiro no que diz respeito ao tratamento da nossa saúde, com todas as consequências e riscos que já debatemos e de que todos temos consciência. Avisámos atempadamente que este executivo tinha ‘condenado a nossa saúde’ ao validar o apoio à Comunidade Intermunicipal da Ria de Aveiro – em que a Câmara de Ovar tem a vice-presidência – quando esta informou que Ovar iria para Aveiro”, recordou Daniela Patarena, da organização do protesto.

A responsável critica “o silêncio ensurdecedor” do PSD sobre a posição do Governo (disponível no ‘site’ do SNS) e afirma que o PS de Ovar “não teve força política junto dos seus camaradas de Governo” para manter a comunidade vareira ligada ao hospital da Feira, mas defende que pedir demissões é mero “jogo político”, já que “os mandatos são para cumprir”.

“Exigir a demissão do ministro da saúde, Manuel Pizarro, ou do diretor-executivo do SNS, Fernando Araújo, não resolve absolutamente nada e muito menos exigir a demissão do presidente da Câmara de Ovar, Salvador Malheiro, e do seu vice-presidente, Domingos Silva, porque, se isso viesse a suceder, seria Ana Cunha, responsável pelo pelouro da Saúde, a nova presidente da Câmara, pura ironia”, disse a ativista.

O que a plataforma Coração Vareiro pretende é “uma resposta cívica, apartidária”, na convicção de que ainda “é possível parar a referenciação para Aveiro, mas sem politiquice”.

Nesse contexto, a mesma estrutura mostra-se expectante quanto à intervenção da Associação Nacional dos Municípios Portugueses, cuja presidente se disponibilizou para analisar o plano final do Governo e apresentar propostas de melhoria.

Com um trajeto a iniciar às 11:00 entre a estação de comboios e o tribunal de Ovar, a manifestação do dia 30 pretende, por isso, “mostrar o que pensa Ovar” sobre as novas ULS da Região de Aveiro e do Entre Douro e Vouga (nome formal da que terá sede em Santa Maria da Feira). Nessa ocasião será tornado público um “documento com as reivindicações” da população no que concerne ao novo modelo de funcionamento dos serviços de saúde regionais.