Na conferência "Da Hostilidade à Hospitalidade", promovida pelo Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS, na sigla em inglês), no Mercado de Culturas, em Lisboa, Paulo Almeida Santos afirmou que "os populismos" procuram "dar uma resposta que é criar arames farpados, muros e fechar as fronteiras".

"A Europa é um continente de acolhimento, de migrações. Esse paradigma mudou radicalmente depois de 2015, com a crise dos refugiados. Nestes últimos anos, houve um crescimento da hostilidade, que ameaça a identidade europeia, com extremismos e outras circunstâncias", frisou.

O especialista de assuntos europeus, um dos consultores políticos do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, denunciou que, desde 2015, início do fluxo migratório com a travessia massiva de pessoas no Mediterrâneo, "países europeus negaram o direito à cidadania" e sublinhou que a UE "não é mais do que o princípio de cidadania inclusiva".

"Houve uma enorme pressão nas fronteiras europeias e vimos a hostilidade crescer", disse, exemplificando com "os muros e o arame farpado na Hungria".

Em iniciativa promovida por ocasião do Dia Internacional dos Migrantes, que se celebra hoje, Paulo Almeida Sande referiu que o acordo entre a UE e a Turquia, estabelecido em março de 2016, travou também as migrações para o continente europeu.

Realçando que as políticas contra as migrações na Europa "é um paradoxo para um continente que está em perda demográfica", o especialista em assuntos europeus revelou que, em outubro de 2015, o registo de chegadas à Turquia foi de 10 mil pessoas por dia.

Em março de 2016, após celebrado o acordo UE-Turquia, "o número médio de chegadas diminuiu para 74 pessoas por dia", uma "redução de 98%.

"Por a Europa estar no 'inverno demográfico', precisamos urgentemente dos migrantes, de migrações sustentáveis, seja de refugiados, seja de imigrantes ou emigrantes dentro do espaço europeu, seja de migrantes ilegais", defendeu Paulo Almeida Sande, denunciando que "alguns atores políticos rejeitam a hospitalidade".

Paulo Almeida Sande acentuou ainda que "uma em cada 113 pessoas no planeta é solicitante de pedido de refúgio, deslocada ou refugiada".

Na conferência "Da Hostilidade à Hospitalidade", André Costa Jorge, diretor do JRS Portugal, fez referência às novas realidades, não só a coligação de Governo na Áustria, que tem um Governo de coligação com um partido de extrema-direita, como ao processo de colocação de refugiados na Europa e ao tráfico humano na Líbia, onde homens e mulheres são vendidos como escravos.

Enquanto o padre jesuíta Vasco Pinto Magalhães relevou a importância da "adaptação" nas migrações e da "inculturação", enquanto Paula Guimarães, da Fundação Montepio e presidente do Grupo de Reflexão e Apoio à Cidadania Empresarial (GRACE), assinalou que "o acesso ao emprego é importante" e que "as empresas não podem passar ao lado das migrações, dos refugiados".