Jubileu é o nome dado a um "Ano Santo", que pretende ser um tempo no qual os fiéis experimentam a transformação realizada por meio da "santidade de Deus".
"A sua frequência mudou ao longo do tempo: no início era a cada 100 anos; passou para 50 anos em 1343 com Clemente VI e para 25 em 1470 com Paulo II. Também há jubileus 'extraordinários': por exemplo, em 1933 Pio XI quis recordar o aniversário da Redenção e em 2015 o Papa Francisco proclamou o Ano da Misericórdia", é explicado no site dedicado ao Jubileu 2025.
Por sua vez, "a forma de celebrar estes anos também foi diferente: na sua origem, fazia-se a visita às Basílicas romanas de São Pedro e São Paulo, portanto uma peregrinação, mais tarde foram-se acrescentando outros sinais, como a Porta Santa. Ao participar no Ano Santo, vive-se a indulgência plenária".
Em 2025, Roma recebe mais um Jubileu, que se estende a todo o mundo católico. O SAPO24 preparou um guia para que fique a par das principais informações sobre este evento da Igreja Católica.
Quando começa o Jubileu?
Em 2025, o Jubileu tem como tema "Peregrinos de Esperança" e tudo começa já esta terça-feira, 24 de dezembro.
"O Santo Padre abrirá oficialmente o Ano Santo com o Rito de Abertura da Porta Santa da Basílica Papal de São Pedro, às 19 horas. Em seguida, presidirá à celebração da Santa Missa na noite de Natal do Senhor, no interior da Basílica", é referido.
Simbolicamente, "a Porta Santa assume um significado particular: é o sinal mais característico, porque o objetivo é ser de capaz atravessá-la".
De acordo com o rito de abertura da porta, divulgado pelo Vaticano, o Papa vai abrir a Porta Santa em silêncio, recolhendo-se em oração, e de seguida tocam os sinos. Sabe-se também que Francisco vai entrar na Basílica acompanhado por representantes de católicos dos cinco continentes, ao som do hino jubilar.
Contudo, a Porta Santa já começou a ser mexida no início de dezembro, com o rito da "recognitio". Segundo o Vatican News, esta é uma cerimónia em que é abatida a parede que fecha a porta do lado de dentro da Basílica e se verifica o conteúdo da caixa metálica que estava guardada dentro da parede, desde o encerramento do Jubileu anterior. Ou seja, reconhece-se que a Porta Santa fechada no último Jubileu está de facto intacta e selada, pronta para ser reaberta para o novo Ano Santo.
Dentro da caixa estão alguns objetos importantes: a chave que permitirá abrir a Porta Santa esta noite, o pergaminho que atestou o fecho da porta, quatro tijolos dourados e algumas medalhas, incluindo as dos pontificados dos papas Francisco, Bento XVI e João Paulo II.
De realçar que a parede que cobria a Porta Santa chegou a ser derrubada pelos papas, que empunhavam um martelo e batiam três vezes para partir. Contudo, essa tradição caiu em desuso por questões de segurança para os pontífices.
Além da Porta Santa da Basílica de São Pedro, em Roma há outras aberturas importantes, a saber:
- Porta Santa na prisão de Rebibbia - 26 de dezembro
- Porta Santa de São João de Latrão - 29 de dezembro
- Porta Santa de Santa Maria Maior - 1 de janeiro
- Porta Santa de São Paulo Fora dos Muros - 5 de janeiro
O que vai acontecer durante este Ano Santo?
Ao longo de 2025, vão ser vários os momentos de celebração do Ano Santo em Roma. D. Manuel Clemente, Cardeal Patriarca Emérito de Lisboa, explica ao SAPO24 que "os 'pontos altos' coletivos são os vários jubileus programados para todo o tipo de grupos ao longo do ano".
Assim, existem peregrinações destinadas a grupos em específico:
- 24 a 26 de janeiro - Jubileu do Mundo das Comunicações
- 8 e 9 de fevereiro - Jubileu das Forças Armadas, Polícia e Segurança
- 15 a 18 de fevereiro - Jubileu dos Artistas
- 21 a 23 de fevereiro - Jubileu dos Diáconos
- 8 e 9 de março - Jubileu do Mundo do Voluntariado
- 28 a 30 de março - Jubileu dos Missionários da Misericórdia
- 5 e 6 de abril - Jubileu dos Enfermos e o Mundo da Saúde
- 25 a 27 de abril - Jubileu dos Adolescentes
- 28 e 29 de abril - Jubileu das Pessoas com Deficiência
- 1 a 4 de maio - Jubileu dos Trabalhadores
- 4 e 5 de maio - Jubileu dos Empresários
- 10 e 11 de maio - Jubileu das Bandas Musicais e da Música Tradicional
- 12 a 14 de maio - Jubileu das Igrejas Orientais
- 16 a 18 de maio - Jubileu das Irmandades
- 30 de maio a 1 de junho - Jubileu das Famílias, das Crianças, dos Avós e dos Idosos
- 7 e 8 de junho - Jubileu dos Movimentos, Associações e novas Comunidades
- 9 de junho - Jubileu Santa Sé
- 14 e 15 de junho - Jubileu do Desporto
- 20 a 22 de junho - Jubileu dos Governantes
- 23 e 24 de junho - Jubileu dos Seminaristas
- 25 de junho - Jubileu dos Bispos
- 25 a 27 de junho - Jubileu dos Sacerdotes
- 28 e 29 de julho - Jubileu dos missionários digitais e dos influencers católicos
- 28 de julho a 3 de agosto - Jubileu dos Jovens
- 15 de setembro - Jubileu da Consolação
- 20 de setembro - Jubileu dos Operadores de Justiça
- 26 a 28 de setembro - Jubileu dos Catequistas
- 4 e 5 de outubro - Jubileu dos Migrantes e Jubileu do Mundo Missionário
- 8 e 9 de outubro - Jubileu da Vida Consagrada
- 11 e 12 de outubro - Jubileu da Espiritualidade Mariana
- 31 de outubro a 2 de novembro - Jubileu do Mundo Educativo
- 16 de novembro - Jubileu dos Pobres
- 22 e 23 de novembro - Jubileu dos Coros
- 14 de dezembro - Jubileu dos Reclusos
Todos estes momentos implicam a passagem pela Porta Santa, a possibilidade de confissão e missa presidida pelo Santo Padre. Além das cerimónias, o Jubileu terá também eventos culturais (ainda por anunciar).
Dentro de Roma estão também previstos caminhos para peregrinação:
- Peregrinação às quatro Basílicas Papais, que têm as portas santas abertas pelo Papa Francisco: São Pedro no Vaticano, São João de Latrão, Santa Maria Maior e São Paulo Fora dos Muros;
- Peregrinação das Sete Igrejas. Idealizada por Filippo Neri no século XVI, é uma das tradições romanas mais antigas. São cerca de 25 quilómetros que serpenteiam ao longo de toda a cidade, chegando ao campo romano e às catacumbas. As igrejas são: São Pedro no Vaticano, Basílica de Santa Maria Maior, São João de Latrão, São Paulo Fora dos Muros, San Lorenzo fora das muralhas, Santa Cruz em Jerusalém e São Sebastião fora das muralhas;
- Peregrinação "A Europa em Roma". Em causa está um percurso pelas 28 igrejas associadas à União Europeia "por razões de natureza cultural ou artística ou por uma tradição de acolhimento de peregrinos de um determinado país";
- Peregrinação "Mulheres Padroeiras da Europa e Doutoras da Igreja". Um percurso que "pretende trazer de volta à atenção dos fiéis e turistas as figuras das santas europeias proclamadas Padroeiras da Europa e Doutoras da Igreja", através da visita a igrejas dedicadas a estas mulheres e onde se podem venerar algumas das suas relíquias.
Quais as propostas do Papa para o Jubileu?
A bula de proclamação do 27.º jubileu ordinário da história da Igreja Católica, intitulada "Spes non confundit" [A esperança não desilude] traz algumas das propostas do Papa Francisco para este Ano Santo:
Cessar-fogo global: "Que o primeiro sinal de esperança se traduza em paz para o mundo, mais uma vez imerso na tragédia da guerra. Esquecida dos dramas do passado, a humanidade encontra-se de novo submetida a uma difícil prova que vê muitas populações oprimidas pela brutalidade da violência", escreve o Papa. "A necessidade da paz interpela a todos e impõe a prossecução de projetos concretos. Que não falte o empenho da diplomacia para se construírem, de forma corajosa e criativa, espaços de negociação em vista duma paz duradoura";
Amnistia a reclusos: "Proponho aos Governos que, no Ano Jubilar, tomem iniciativas que lhes restituam esperança: formas de amnistia ou de perdão da pena, que ajudem as pessoas a recuperar a confiança em si mesmas e na sociedade; percursos de reinserção na comunidade, aos quais corresponda um compromisso concreto de cumprir as leis";
Mais atenção aos jovens: "Que o Jubileu seja, na Igreja, ocasião para um impulso a favor deles: com renovada paixão, cuidemos dos adolescentes, dos estudantes, dos namorados, das gerações jovens! Mantenhamo-nos próximo dos jovens, alegria e esperança da Igreja e do mundo";
Fundo para acabar com a fome: "Com o dinheiro usado em armas e noutras despesas militares, constituamos um Fundo global para acabar de vez com a fome e para o desenvolvimento dos países mais pobres, a fim de que os seus habitantes não recorram a soluções violentas ou enganadoras, nem precisem de abandonar os seus países à procura duma vida mais digna";
Perdão da dívida dos países pobres: "Outro convite premente que desejo fazer, tendo em vista o Ano Jubilar, destina-se às nações mais ricas, para que reconheçam a gravidade de muitas decisões tomadas e estabeleçam o perdão das dívidas dos países que nunca poderão pagá-las. Mais do que magnanimidade, é uma questão de justiça";
Só uma data para a Páscoa: "Um apelo a todos os cristãos do Oriente e do Ocidente para darem resolutamente um passo rumo à unidade em torno duma data comum para a Páscoa".
O Jubileu implica indulgências. O que é isso?
No site oficial do Jubileu é explicado que "a indulgência é uma manifestação concreta da misericórdia de Deus, que transcende os limites da justiça humana e as transforma". Assim, "permite libertar o coração do fardo do pecado, para que a reparação devido possa ser dada em total liberdade".
Como refere D. Manuel Clemente, "desde há muito que os jubileus são vividos em Roma e pelo mundo além, diocese a diocese. O primeiro, em 1300, foi em Roma com a multidão de peregrinos que rumou aos túmulos de Pedro e Paulo, para obterem a remissão das penas dos seus pecados".
Na prática, a concessão da indulgência tem normas, publicadas pela Penitenciaria Apostólica do Vaticano em maio deste ano. Para o fiel, esta "pleníssima Indulgência, remissão e perdão dos seus pecados" pode ser atingida em várias situações:
Peregrinação
- A qualquer lugar sagrado do Jubileu em Roma, incluindo pelo menos uma das Basílicas Papais. Aí, o crente deve participar num momento de oração, celebração ou reconciliação. Deve também participar em momentos de adoração eucarística ou de meditação, concluindo com o Pai-Nosso, a Profissão de Fé e invocações a Maria;
- A mesma indulgência é atribuída a quem visitar as Basílicas Papais menores de Assis, São Francisco e Santa Maria dos Anjos, as Basílicas Pontifícias de Nossa Senhora do Loreto, Nossa Senhora de Pompeia ou Santo António de Pádua;
- O mesmo acontece com a visita a uma das três basílicas da Terra Santa (Santo Sepulcro em Jerusalém, Natividade em Belém e Anunciação em Nazaré);
- Fora destes lugares, os bispos "terão em conta as necessidades dos fiéis, assim como a própria oportunidade de manter intacto o significado da peregrinação com toda a sua força simbólica", pelo que vão existir outras igrejas jubilares onde se poderá ir em peregrinação. Em Portugal, cada diocese indicará quais as igrejas nestas condições.
Para quem não pode peregrinar
- No caso de impedimentos graves, os fiéis "verdadeiramente arrependidos que não possam participar nas celebrações, peregrinações ou visitas", podem obter a indulgência jubilar se "recitarem nas suas casas ou onde quer que o impedimento os detenha, o Pai-Nosso, a Profissão de Fé em qualquer forma legítima e outras orações conformes aos objetivos do Ano Santo, oferecendo os seus sofrimentos ou as dificuldades da sua vida".
Obras de misericórdia e penitência
- A indulgência também é concedida a quem fizer "com mais frequência as obras de caridade ou de misericórdia, principalmente ao serviço dos irmãos e das irmãs que estão sobrecarregados por várias necessidades";
- Outra forma é através da visita a quem está "em necessidade ou em dificuldade (os doentes, os presos, os idosos na solidão, os deficientes...)";
- Os fiéis devem também fazer penitência, "durante pelo menos um dia, de distrações fúteis (reais ou virtuais) e de consumos supérfluos". São também convidados a doar "uma soma proporcional de dinheiro aos pobres" ou a apoiar "obras de carácter religioso ou social, especialmente em favor da defesa e proteção da vida";
- A indulgência também pode ser atribuída a quem dedicar "parte do tempo livre a atividades de voluntariado".
Como é que Roma se prepara para o Jubileu?
Roma tem estado, nos últimos meses, a preparar-se para o Jubileu com obras públicas que visam melhorar vários espaços.
Esta semana, a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, lembrava, na inauguração de um espaço reabilitado, que o "método jubilar" — ou seja, obras que acontecem sem demora — serve "para lembrar que as coisas em Itália podem ser feitas bem e rapidamente, que a administração pública pode surpreender quando quiser".
Uma das obras em destaque foi a reabilitação da Fontana di Trevi, que entretanto já foi oficialmente reaberta após várias semanas de limpeza. No total, o trabalho demorou três meses e foram removidos elementos de degradação, ervas daninhas e incrustações de cal.
O presidente da Câmara de Roma, Roberto Gualtieri, falou sobre todos os inconvenientes das obras — o site Roma Si Trasforma mostra um mapa com todas as que estão em curso — ao jornal La Stampa. "Eu disse aos romanos: preparem-se para muitas obras e sacrifícios. E agora os cidadãos começam a ver os resultados: estamos a transformar uma cidade que estava em colapso, demonstrando que não é verdade que Roma está condenada a fazer as coisas mal".
Além das obras, Roma está também a apostar no reforço da segurança, já que é esperado que cerca de 30 milhões de peregrinos visitem a capital italiana.
Nesse sentido, estão já em curso reuniões com as forças de segurança para "coordenar os recursos disponíveis, partilhar as estratégias operacionais e otimizar o controlo e intervenções de segurança na região metropolitana".
Entre todos os eventos, o Jubileu da Juventude em Tor Vergata está a ser particularmente analisado pelas autoridades, devido ao número de peregrinos esperado.
Para ajudar todos os peregrinos em Roma, foi criado o Info Point do Jubileu 2025, que já está em funcionamento há vários meses na via della Conciliazione 7 e "é o ponto de referência oficial para os peregrinos e turistas que chegam a Roma para viver o Ano Santo".
"No Info Point, aberto todos os dias, de segunda-feira a domingo, das 10h00 às 17h00, os visitantes são acolhidos por voluntários que lhes dão informações sobre o Jubileu e os ajudam a inscrever-se na peregrinação às Portas Santas e nos principais eventos do Jubileu", é referido.
Para que não existam dúvidas, "uma equipa de funcionários e voluntários está sempre presente nas instalações do Info Point, pronta a ajudar os peregrinos com informações logísticas e práticas".
É também neste local que se pode receber o Testimonium, "o diploma oficial que será entregue a todos aqueles que fizeram a peregrinação a Roma".
(Artigo atualizado às 10h44 com declarações de D. Manuel Clemente, Cardeal Patriarca Emérito de Lisboa)
Comentários