O céu vai negro como os trajes, mas pelas ruas do Porto as cartolas coloridas serpenteiam a calçada molhada. Os sapatos de sola lisa escorregam no empedrado, as bebidas salpicam dos copos — e os sorrisos pintam os rostos. É o Cortejo: o dia em que milhares de estudantes do ensino superior saem à rua, parando a cidade que, de orgulho engalanado, vê passar, da Cordoaria aos Aliados, os futuros doutores.

Há futuros médicos e futuros farmacêuticos. Futuros engenheiros e futuros jornalistas. Futuros disto, futuros daquilo. Todos eles vão, finalistas que estão (ainda que a nota final ainda certa não seja), celebrando o fim do ano letivo. Uns levam copos, outros flores. Há quem equilibre as duas coisas e há quem se desequilibre de todas as coisas e vá tombar no chão.

Começou atrasado, mas lá pelas quatro o Cortejo da Queima das Fitas arrancava. Lento diante da Cadeia da Relação, rápido a descer os Clérigos — e em marcha silenciosa diante da tribuna de honra, protestando contra a forma como a autarquia trata os estudantes.

No tempo em que não saía do lugar onde estava, os estudantes iam esperando — entre cartoladas, bengaladas, cânticos e brindes.

créditos: PEDRO SOARES BOTELHO / MADREMEDIA

À beira do caminho, pais, avós, padrinhos. Todos orgulhosos, de câmara em punho, de telemóvel em riste, para apanhar a passagem dos finalistas.

Pelas ruas do percurso, tarjas repetem os cânticos. Das fachadas leem-se odes às maravilhas deste curso e do outro. A grandeza de uns comparada com os outros.

créditos: PEDRO SOARES BOTELHO / MADREMEDIA

Chegados à rua dos Clérigos, desatam numa correria. Há de ser um tal ritual, uma vontade de acelerar o passo, que vai lento até ali chegar (e lento continuará depois de aquele trecho de calçada descer).

Durante a semana, várias notícias deram conta de problemas na semana académica do Porto. Excessos, vídeos íntimos, violência policial. E pelo caminho do Cortejo, lá está ele também, espreitando: o álcool. Não são todos quem o traz, tampouco há de ser a maioria que dele se alimenta.

créditos: PEDRO SOARES BOTELHO / MADREMEDIA

Mas nada disso há de importar. Como não importam os protestos que a Praxe encena diante da tribuna, pondo a festa ao serviço da reivindicação (e levando o presidente da câmara a abandonar o Cortejo). Não importa a chuva, não importa a calçada escorregadia, não importa nada. Hoje, há que celebrar. Celebram os caloiros, que vão no primeiro Cortejo, pintados e mascarados; celebram os alunos do segundo ano, na antecâmara que estão de ser finalistas — e celebram esses cujo curso vai findando, os finalistas, de garrida cartola e respetiva bengala.

As cores significam coisas. O amarelo é para os alunos de Medicina. O azul claro, para os de Ciências. Azul escuro, Letras. Cor de tijolo, Engenharia. Roxo, Farmácia. E por aí diante, por aí fora, num corrido colorido e fervilhante, dos corpos que saltitam e se animam estrada abaixo, acenando aos pais, às mães, tias, tios.

créditos: PEDRO SOARES BOTELHO / MADREMEDIA

Descansadas as pernas, vistos os concertos, esta segunda-feira há que voltar às aulas no Porto. Ou aos estágios. Ou aos estudos árduos para os exames cuja data vem correndo para perto.

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