Um dos maiores momentos desta iniciativa decorre este fim de semana, com a já esgotada sessão dupla de "The Room" (2003), considerado o "melhor pior filme de sempre", e conta com a presença do ator Greg Sestero, que escreveu o livro "The Disaster Artist", baseado na produção da película, posteriormente adaptado para cinema e nomeado para Óscares.
Todos os meses há temas diferentes, o de fevereiro – intitulado “É mau? Ótimo” – é baseado em filmes sérios que correram mal, mas conseguiram mexer com os sentimentos das pessoas e, questionado sobre se há público que paga para ver maus filmes, o curador apontou para a “experiência conjunta”.
“No caso do ‘The Room’, muito organicamente foram-se criando regras para o visionamento, como atirar colheres, (bater palmas, cantar, dizer certas falas em coro), entre outras coisas. Portanto, é mais uma desculpa para todos se divertirem em conjunto e terem um programa divertido, do que propriamente para ver mau cinema e maus filmes”, afirmou.
Ainda assim, José Santiago garantiu que tudo é feito “sem malícia”, até porque esses filmes já foram “aceites pelos autores como alguma coisa que lhes fugiu das mãos e não está ao alcance deles”, sendo que até ao final do mês vai ser possível assistir a “Samurai Cop” (1991), “Missão em Hawai” (1987) e “Tammy and the T-Rex” (1994).
“É como se a arte se transformasse por si própria nos espectadores e a magia aconteceu. As pessoas pagam para ter uma experiência e se poderem divertir, porque os outros filmes estão ao nível do ‘The Room’, mas não são tão conhecidos”, apontou.
A ideia para o Passos no Escuro começou a ser desenvolvida há cerca de um ano, depois de uma visita ao cinema Prince Charles, em Londres, em que o profissional de ‘marketing’ reparou no “culto de ir ao cinema ver filmes que já tinham sido exibidos” há vários anos, conferindo-lhes um sentimento de “nostalgia”, uma aposta que não existia no Porto.
“Há uma grande aposta no cinema independente nas salas de cinema do Porto, mas estão focados no cinema de autor – algo que é meritório e deve existir – mas não havia espaço para o cinema, digamos de série ‘B’ ou o cinema culto, filmes que agora restaurados e em ‘streaming’ ganharam uma nova vida e também ganham com a experiência coletiva”, explicou.
O programador admitiu que o projeto surgiu também “como uma desculpa para poder ver os filmes no cinema” e que a programação é um pouco “enviesada” com maior rácio de filmes de terror, mas que os outros “géneros virão por arrasto”.
Com lotação para 180 pessoas, as sessões do Passos no Escuro têm vindo a aumentar de forma consistente, desde as 50 a 60 pessoas nas primeiras sessões, em outubro, dedicadas ao realizador italiano Dario Argento, até às cerca de 100 em janeiro, mês que acompanhou a trilogia “Evil Dead” e terminou com a produção portuguesa “Mutant Blast”.
Março vai ser um mês dedicado ao ‘body horror’, subgénero de terror, com “bons exemplos de realizadores que começaram em filmes de culto e de ‘série B’”, como “Veio do Outro Mundo” (1982), de John Carpenter, “A Mosca” (1987), de David Cronenberg, “Braindead – Morte Cerebral” (1992), de Peter Jackson, e “Um Lobisomem Americano em Londres” (1981), de John Landis.
A iniciativa vai continuar, pelo menos, até ao final do ano e depois vai ser feita nova avaliação, dependente da “resposta do público”, não havendo um “plano definido”, mas sim “uma gestão de risco” numa “espécie de cinema que é território quase desconhecido”.
“Sabemos que em festival resulta, como é o caso do Motel X e do Fantasporto, sabemos que semana a semana, até agora, temos esta média de espectadores. Não planeamos os ciclos com grande avanço, fazêmo-lo de dois em dois meses. As salas de cinema têm ‘remakes’, ‘reboots’ e sequelas, queremos estar atentos a isso, mostrar os originais, ou os primeiros filmes de realizadores nomeados a Óscares”, finalizou.
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