Portugal regista hoje mais quatro mortes causadas pela covid-19 do que no domingo e mais 266 infetados, cerca de 85% dos quais na Região de Lisboa e Vale do Tejo. O número total de pessoas recuperadas subiu para 27.205.
Na habitual conferência de imprensa sobre a situação da pandemia em Portugal, que agora se realiza apenas às segundas, quartas e sextas-feiras, o secretário de Estado da Saúde, António Sales, salientou os seguintes dados após ter sido revelado o boletim epidemiológico das últimas 24 horas:
- Desde o início da pandemia já morreram 1.568 pessoas e há registo de 41.912 casos, dos quais 13.139 estão ativos;
- Destes últimos, 96% dos casos ativos encontram-se a recuperar em casa, ao passo que 3,7% estão internados — 0,5% nas unidades de cuidados intensivos e 3,2% em enfermaria;
- A taxa de letalidade global é de 3,7% e a taxa de letalidade acima dos 70 anos é de 16,3%;
- Ao todo, 3.143 profissionais de saúde com covid-19 já recuperaram. "São mais de 80% dos que tiveram a doença e estão já de volta aos seus empregos e às suas rotinas e a quem muito agradecemos pelo inestimável trabalho ao serviço do país", afirmou António Lacerda Sales;
- A situação nos lares também foi referida pelo secretário de Estado, que garantiu haver agora menos casos ativos registados: "São hoje 213 com situações de covid-19", o que representa "8,4% do universo de estruturas residenciais para idosos a nível nacional".
- Lisboa é a região que mais testa desde o dia 13 de maio;
- Foram reforçados os centros de saúde pública mais afetados com a entrada de 10 médicos (a somar aos 20 que já tinham sido anunciados a semana passada) e de 80 médicos internos provenientes de vários hospitais, em especial para tempo parcial. Este reforço é "essencial para o mapeamento e georreferenciação de todos os casos ativos por concelho e freguesia para que se identifique as cadeias de transmissão na região".
Não há "sobrecarga" em Lisboa e Vale do Tejo
António Lacerda Sales lembrou que "a situação na região de Lisboa e Vale do Tejo continua a ser a que inspira mais atenção das autoridades de saúde, porque concentra a grande maioria dos casos diários".
Todavia, o secretário de Estado afirmou hoje que "não existe sobrecarga" nas unidades de cuidados de saúde em Lisboa e garante haver "capacidade de resposta" para o elevado número de casos que tem aparecido na região.
Para isso, deu conta que dos 66% dos casos em cuidados intensivos — "em linha com aquela que se verifica no resto do país" que é de 65% — só 20% são doentes infetados com a covid-19.
"Este é o momento do trabalho no terreno. Não de ignorar os números, mas não de nos deixarmos derrotar por eles. É o tempo de reforço de equipas, de definição de estratégias, dirigidas a uma zona do país que tem características diferentes das outras", aferiu António Sales.
O gabinete regional de intervenção, "o acelerador"
Depois da intervenção inicial do governante, Rui Portugal, líder do gabinete regional de intervenção em Lisboa e Vale to Tejo, convidado para comparecer na conferência de imprensa, explicou que o seu gabinete é um "acelerador" no combate à pandemia. E, em três pontos, deu conta da missão a levar a cabo:
- Notificação rápida após o diagnóstico;
- Identificar os contactos próximos o mais rapidamente possível (e deu conta que é aqui que se verifica o "acelerador deste gabinete" em relação a esta zona;
- Determinar o isolamento dos casos e dos contactos.
A estes pontos, soma-se agora a nova atividade de um conjunto de "equipas que vão para o terreno" como se está a verificar neste momento em Odivelas, Loures, Amadora, Sintra e na cidade de Lisboa.
"[Estas equipas] estão organizadas em termos de unidades de cuidados na comunidade, proteção civil, segurança social e um apoio nas forças de segurança caso seja necessário, para que o isolamento seja efetuado", explicou Rui Portugal.
Público na Liga dos Campeões?
António Sales não quer fazer exercícios de futurologia e por isso diz que qualquer decisão terá de ser tomada tendo em conta a evolução da pandemia.
"Em relação à questão do público e em função daquilo que é a situação atual pandémica, obviamente não. Não sabemos como vai ser a evolução da pandemia e tal como temos feito em outras situações, tomamos medidas de acordo com a própria evolução e proporcionalidade evolutiva da pandemia. Não poderei antecipar o futuro. Nesta fase obviamente que não", disse António Lacerda Sales.
O governante respondia a um pedido de comentário às declarações do primeiro-ministro António Costa que, no domingo, em entrevista a Ricardo Araújo Pereira, na SIC, afirmou que estes jogos da ‘champions’ iriam ter menos público do que a plateia daquele programa, composta por poucas dezenas de pessoas, na conferência de imprensa trissemanal de balanço sobre a pandemia de covid-19 em Portugal.
A UEFA decidiu em 17 de junho que os quartos de final, meias-finais e final da Liga dos Campeões vão ser disputados em Lisboa, nos Estádios da Luz (Benfica) e José Alvalade, entre 12 e 23 de agosto, em eliminatórias de jogo único.
Contudo, o governante garante que o processo tem decorrido com toda a normalidade e que será um "projeto de sucesso". Salientou, ainda, que a situação está a ser moderada numa "cooperação muito intensa" entre as entidades envolvidas na realização do evento: Estado português, a Direção-Geral da Saúde, Federação Portuguesa de Futebol e UEFA.
Governo "estuda soluções" para os transportes de Lisboa e Vale do Tejo
"Estamos a estudar soluções, acelerando alguma recuperação de algum material circulante. Hoje está a haver uma reunião no respetivo Ministério", revelou António Lacerda Sales.
Questionado sobre se a situação dos transportes nesta região preocupa a tutela por eventuais sobrecargas poderem significar potencial risco de contágio do novo coronavírus, António Lacerda Sales admitiu que "há algumas viagens ao longo do dia que têm sobrecarga" e que "essa situação preocupa".
Mas o governante também garantiu que "em média [os transportes públicos em LVT] têm uma taxa de ocupação entre os 40 e os 45% ao longo do dia" e pediu que se tivesse em atenção outras soluções para além de aumento de veículos.
"Às vezes pensamos que a única medida é mais transportes, mais comboios e mais autocarros e não. É importante perceber as medidas de segurança que têm sido tomadas, desde as medidas adicionais de limpeza e de desinfeção", disse o secretário de Estado.
De acordo com António Lacerda Sales, "existem cerca de 700 pessoas a trabalhar na limpeza dos transportes públicos" da região.
A situação dos Lares
Portugal regista 1.528 casos de utentes de lares infetados com o novo coronavírus, menos 58 que no domingo, estando 145 internados e 303 a aguardar resultados de testes.
De acordo com António Lacerda Sales de um universo de 11.285 utentes, o panorama atual do país em número de infetados em lares aponta para 1.528 casos. "São menos 58 que no dia de ontem [domingo], 145 estão internados e 303 aguardam resultados".
António Lacerda Sales também somou 707 profissionais que trabalham neste setor infetados de um universo de 9.797.
Antes, o coordenador do gabinete de supressão da covid-19 em Lisboa e Vale do Tejo (LVT), Rui Portugal, questionado sobre a situação de um lar específico, em São Domingos de Rana, no concelho de Cascais, tinha feito já um balanço dos casos em residências naquela região.
Quanto ao lar de São Domingos de Rana, este registou um óbito e 41 dos 46 utentes estão infetados, somando-se seis profissionais.
Rui Portugal falou ainda da Casa de Vale de Lobos, no concelho de Sintra, que tem, disse, "16 casos positivos" e de "uma instituição no Barreiro com 19 casos".
Sobre este tema, a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, admitiu que "os lares continuam a ser uma grande preocupação", lembrando que "Portugal adotou a política internacional que é a proteção dos mais vulneráveis".
"Estão neste momento a ser adaptadas e atualizadas orientações para que a eficácia do combate a surtos a lares ainda seja maior do que aquela que se verifica. É preciso cumprir regras. São os profissionais que introduzem o vírus nos lares, portanto mais uma vez o apelo aos profissionais para que cumpram as regras todas e minimizem a possibilidade de infeção" referiu Graça Freitas.
A diretora-geral também pediu que "rapidamente se dê o alerta em relação aos primeiros casos".
"A precocidade com que se alerta a autoridade de saúde é importante. Perante uma suspeita ou situação anómala, comuniquem imediatamente. Quanto mais rápida for a intervenção, mais rápida será a contenção de casos", concluiu.
"Nunca falámos em milagre"
Questionado se as autoridades da saúde não estavam a conseguir fazer passar a mensagem aos mais jovens sobre a gravidade de transmissão da covid-19 e dos números menos positivos registados por Portugal nas últimas semanas — se comparados com outros países europeus —, António Sales indicou que nunca se "falou em milagre".
"Temos agido no terreno com rapidez e eficácia — aquilo que é importante neste momento. Nunca falámos em milagre. Nós aqui nunca nos considerámos bestiais como agora não nos consideramos o oposto. O que fizemos foi proteger o nosso Serviço Nacional de Saúde através de um comportamento individual e coletivo responsável", disse, antes de alongar que ainda "estamos vulneráveis ao risco até que haja imunidade de grupo, uma vacina ou um tratamento".
"O balanço certo estará na capacidade de encontrarmos um equilíbrio entre as medidas restritivas e o apoio à retoma social e económica", rematou.
A evolução da testagem feita a quem sofre sintomas ligeiros
A DGS está aguardar por estudos internacionais para perceber se haverá ou não alteração nos casos mais ligeiros, de modo a determinar ao fim de quantos dias é que uma pessoa infetada pode ser considerada curada da doença.
Graça Freitas tocou no tema relembrando que no início da pandemia qualquer doente deveria ter dois testes negativos intervalados de 24 horas. Porém, mais tarde, uma nova orientação do Centro Europeu de Doenças Transmissíveis determinou que para os casos em que o doente apenas sofria de sintomas ligeiros ("aqueles que ficavam em casa"), bastava um teste negativo ("e por isso nós mudámos a norma").
"Agora começa a haver evidência que, se calhar, para esses [casos] muito ligeiros nem é preciso nenhum teste. E, se for feito, não é preciso também esperar 14 dias, serão dez. Nós só estamos à espera que saia mais literatura que apoie esta questão para alterarmos a norma", começou por explicar.
"O que nós entretanto aprendemos com os outros países é que de facto há doentes que dão dois testes negativos (...) e passado um tempo se fizerem um teste acabam por ter ainda partículas na garganta presentes e esse teste pode dar positivo sem que isso signifique infeção. Quer isso dizer que não só essa pessoa não está infetada como não transmite a outros", concluiu, antes de dizer que é preciso esperar "por mais dados científicos para se tomar uma decisão".
Aplicação para rastreamento de contactos ("contact tracing")
Questionada sobre a aplicação para smartphones de rastreio que está a ser desenvolvida e provavelmente será utilizada (de forma voluntária) em Portugal, Graça Freitas esclareceu que "os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde têm toda a capacidade tecnológica" para a desenvolver.
A diretora-geral da Saúde clarificou que a instalação e utilização desta aplicação será "obviamente" voluntária, pois "as pessoas apenas disponibilizarão os seus dados se assim o entenderem".
A aplicação vai permitir fazer um "autoreporte" — os utilizadores poderão comunicar diretamente às autoridades se estiveram ou não em contacto com alguém infetado.
Os números do boletim epidemiológico ao detalhe
Portugal regista hoje mais quatro mortes causadas pela covid-19 do que no domingo e mais 266 infetados, cerca de 85% dos quais na Região de Lisboa e Vale do Tejo, divulgou hoje a Direção-Geral da Saúde.
De acordo com o boletim epidemiológico da DGS, o número de mortos relacionadas com a covid-19 ascende hoje a 1.568 pessoas enquanto os casos confirmados desde o início da pandemia totalizam 41.912 infetados.
Em comparação com os dados de domingo, constatou-se hoje um aumento de óbitos de 0,3%, enquanto a evolução dos casos de infeção mostrou um crescimento de 0,6%.
Na região de Lisboa e Vale do Tejo, onde se tem registado o maior número de surtos, a pandemia de covid-19 atingiu os 18.977 casos, mais 225 do que no domingo.
Esta região tem atualmente 45% dos infetados em todo o país.
Em Portugal continental registou-se um aumento do número de infetados, com o norte a representar a segunda região com maior crescimento. Nesta região, a DGS contabiliza mais 25 pessoas infetadas com o novo coronavírus, atingindo hoje as 17.501.
A região Centro surge na posição seguinte da lista das regiões com maior crescimento do número de infetados, tendo registado mais seis do que no domingo, o que totaliza 4.100 pessoas infetadas com covid-19.
Também no Alentejo foram detetados mais seis infetados, atingindo 477, enquanto o Algarve somou mais três doentes, chegando aos 615.
Os Açores registam mais um caso de infeção pelo novo coronavírus SARS-Cov-2, enquanto a Madeira continua com 92 pessoas infetadas e sem qualquer óbito registado.
Do total de pessoas infetadas em Portugal, 489 estão internadas, mais 31 do que no domingo, estando 71 em unidades de cuidados intensivos, menos quatro do que na contabilização anterior.
Na distribuição dos casos infetados por concelhos, Lisboa é o que regista o maior número de casos, com 3.453 (mais 30 do que no domingo), seguido por Sintra, com 2.614 (mais 50).
No terceiro lugar dos concelhos com mais infetados encontra-se Loures, com um total de 1.812 (mais 21), seguindo-se a Amadora, com 1.666 (mais 21 infetados do que no sábado), e Vila Nova de Gaia, com 1.649 (mais nove).
Ainda acima dos mil casos, contam-se o Porto, que manteve os 1.414 casos de infeções, Matosinhos, que também continua com o mesmo número registado no sábado: 1.292; e Braga, que também mantém o número anterior, somando 1.256 doentes.
A lista dos concelhos com mais de mil infetados inclui ainda Gondomar, com 1.093 casos, e Odivelas, com 1.098.
Os dados do relatório da DGS indicam que, do total de mortes registadas até hoje, 782 são homens e 786 são mulheres.
Por faixa etária, o maior número de mortes regista-se entre as pessoas com 80 ou mais anos (1.051), seguida pela faixa entre os 70 e os 79 anos (302).
Entre a população com idades compreendidas entre os 60 e 69 anos há 143 mortes, além de 50 mortes entre as pessoas com idade entre os 50 e os 59 anos.
Entre os 40 e os 49 anos houve 18 mortos, duas entre os 30 e os 39 anos e duas na faixa etária dos 20 aos 29 anos.
Em termos globais, a faixa etária mais afetada pela doença é a dos 40 aos 49 anos (6.982), seguida da faixa entre os 30 e os 39 anos (6.677) e das pessoas com idades compreendidas entre os 50 e os 59 anos (6.590).
A aguardar resultado laboratorial de testes estão 1.498 pessoas e em vigilância pelas autoridades de saúde estão 31.310.
Desde o dia 1 de janeiro, Portugal registou 378.073 casos suspeitos, segundo adianta o boletim, referindo que 27.205 se recuperaram, o que representa mais 139 do que no sábado.
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