Numa entrevista à Lusa, a comissária afirma-se convicta de que “esse alargamento vai existir” e considera que a própria reconstrução da Ucrânia vai dinamizar toda a economia europeia.
Mas, para que tal aconteça, diz, “a política de coesão tem de ser reforçada para poder acomodar de uma forma normal, à semelhança do que aconteceu em todos os outros alargamentos, o alargamento à Ucrânia e aos outros países”.
Citando o exemplo dos países que aderiram à União desde 2004, cuja média de rendimento por habitante era de cerca de metade do da União, e que passou para 80%, a comissária vinca que “foi a política de coesão o grande ator que os estimulou a crescer”.
Portanto, diz, “é importante que os fundos que neste momento estão disponíveis, sejam utilizados de forma a aumentar a resiliência, a capacidade da competitividade, toda esta economia, o próprio equilíbrio interno”.
Para Elisa Ferreira, “há todo um processo de adaptação que tem o seu calendário”, mas deve pensar-se que a longo prazo se está “a abrir ainda mais o mercado europeu e a dar oportunidades para a própria reconstrução da Ucrânia, que é um mini-Plano Marshall, mas que é bem-vindo para redinamizar toda a economia europeia”.
Quanto ao papel de Portugal neste campo, a comissária considera que o país tem de ser “interventor” tanto no calendário, como nas condições prévias, para que se concretize “um efetivo mercado interno (…) em que as empresas não distorçam a concorrência” e cumpram “as normas habituais de contratação pública”.
Elisa Ferreira não deixou, porém, de ser crítica relativamente à maneira como o próprio país geriu e gere os fundos de coesão disponíveis, interrogando-se se, efetivamente, Portugal não pode fazer melhor. E pode, no seu entender.
A comissária considera que os portugueses já ultrapassaram “os problemas históricos relativos à criação de infra-estruturas do país”, chamando porém a atenção “para a importância da completar a ferrovia, porque de facto é essencial”.
Elisa Ferreira apela a que se “pense de outra forma, nomeadamente criando no país vários “polos de concorrência”, porque não se pode “depender só de uma indústria, só de um setor, ou só de uma cidade, ou região”.
Por isso reclama que “mais do que discutir dinheiro, temos de discutir políticas económicas” e não necessariamente políticas partidárias, porque “esse é outro tema”.
“O centro da preocupação” agora — diz — tem de ser criar valor acrescentado e empregos de qualidade bem pagos, que “contrariem esta tendência de perdermos os nossos melhores”.
Questionada sobre a “fuga de cérebros” dos jovens portugueses, Elisa Ferreira considera que esse facto entrava o desenvolvimento do país, até porque Portugal é um dos países que está a envelhecer mais rapidamente.
“Isto significa que Portugal precisa não só de ser, digamos, cuidadoso, e não estou a dizer protetor, estou a dizer que tem de tratar a imigração e acolher imigrantes porque no curto prazo a situação não vai mudar”, diz.
Segundo a comissária para a Coesão, seria ainda mais grave que isto acontecesse “ao mesmo tempo que as pessoas em que o país mais investiu, os nossos jovens, não encontrem espaços para se realizarem”, o que, no seu entender, também tem uma dimensão empresarial e territorial”.
E remata: “há realmente que pensar coletivamente se de facto o reequilíbrio territorial não será um dos fatores essenciais para redinamizar a economia portuguesa e contrariar tendências como essa de perda dos melhores”.
Luísa Meireles, da Lusa.
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