“O vosso país tem que compreender que receber al-Sisi é como receber Bashar al-Assad mas sem o banho de sangue” que acontece na Síria, diz, em entrevista à Lusa, Ahmed Samih Farag, diretor do Instituto Andalus para os Estudos sobre Tolerância e Anti-Violência, na véspera da visita de dois dias de al-Sisi a Portugal.
Por seu turno, Hisham Kassem, dirigente do Movimento Mundial para a Democracia, considera que a crise económica vai afastar al-Sisi do poder nas eleições de 2018, que acredita virem a ser justas, apesar da repressão existente no país.
“Ele é incapaz para fazer as medidas fiscais” que o Fundo Monetário Internacional (que está a negociar um crédito de 12 mil milhões de dólares) quer, acusa o ativista, confiando na capacidade do povo egípcio de mudar a situação.
O Egito “não é o mesmo país que em 2011”, quando Hosni Mubarak governava, diz, referindo acreditar que “haverá eleições justas” em 2018 e considerando que as instituições reguladoras mantêm “algum grau de independência”.
Al-Sisi “vai falhar miseravelmente em governar este país com aço e violência”, considera Kassem, que vive no Cairo e sente todos os dias a pressão do regime.
Dirigente de várias organizações civis e atualmente a viver fora do país, Ahmed Samih Farag é também crítico do Governo e acusa a comunidade internacional de fechar os olhos.
Al-Sisi “não está a tentar exterminar os extremistas, está a tentar controlar o país. Ele acha que deve ser a única voz, numa espécie de modelo russo de Governo”, acusa.
Quanto à Europa, Ahmed Samih Farag considera que os dirigentes europeus estão a pensar o problema da imigração ilegal de modo errado, porque quanto mais opressivos forem os regimes dos países vizinhos mais os jovens quererão arriscar a vida num barco “apenas para terem o direito igual de viver em paz”.
“Se a Europa não quer mesmo mais emigrantes deve começar a trabalhar pelo sul e não pelo norte”, exigindo soluções democráticas e integradoras da sociedade.
A repressão do regime de al-Sisi “está a criar mais gente pronta a ser ‘jihadista’”, porque “há redes de recrutamento mais eficazes nas prisões do que nas mesquitas”, avisa Ahmed Samih Farag.
“É um erro colocar jovens nas mesmas celas que os elementos da irmandade islâmica. A opressão e a tortura nunca funcionam, apenas criam os melhores ambientes para criar mais ‘jihadistas’”, considera o ativista.
“O islamismo radical é um ideal como comunismo, racismo ou fascismo” e para “combater estas ideias não é possível só com armas ou com polícias a bater nas pessoas até à morte. É necessário combater com ideias, propostas, educação e mostrar que a vida é mais importante que morrer numa bomba suicida”, explica Ahmed Samih Farag.
Hoje em dia, “as pessoas sentem que Mubarak era mais liberal” porque os “militares estavam mais controlados” pelo Governo, algo que não se passa hoje.
“Estamos a militarizar-nos”, considera o dirigente do instituto Andalus, que só acredita numa mudança com a conjugação de três grupos de opositores: “revolucionários seculares, islâmicos moderados e antigos reformadores do regime de Mubarak”.
Hisham Kassem concorda com o excessivo poder dos militares, mas mantém-se confiante na capacidade do povo pressionar os políticos: “As pessoas estão a sofrer o aumento dos preços e é isso que mais as preocupa. Mais do que a política neste momento”.
O que se passou com o derrube de Mubarak (2011) foi “uma explosão social” alimentada por uma crise económica que ainda não foi superada, diz.
Com Morsi, em 2012, apoiado pela Irmandade Islâmica, “houve promessas mas a situação deteriorou-se” e o “povo protestou de novo”, analisa.
Al-Sisi “decidiu concorrer mas ele não é um democrata, não percebe o conceito de democracia”.
Por isso, depois da vitória, a pouco e pouco só se rodeou das “elementos militares e das agências de segurança”, afastando quadros da sociedade civil.
Hoje, “não governa democraticamente”, considera Kassem, que se queixa da incompetência do executivo.
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