O ministro respondia a críticas da deputada do Bloco de Esquerda Joana Mortágua, que questionou a utilização pelo ministro João Gomes Cravinho da expressão “pausa humanitária”, quando as Nações Unidas aprovaram uma resolução com a palavra “que o primeiro-ministro usa, que é cessar-fogo”.

“Diz que a resolução na qual votámos apela a um ‘cessar-fogo’, mas a palavra utilizada é ‘truce’, palavra inglesa para ‘trégua’”, sublinhou o ministro, que está hoje a ser ouvido na comissão parlamentar de Orçamento e Finanças sobre o Orçamento de Estado para 2024.

“Nós revemo-nos perfeitamente nesse aspeto da resolução”, sublinhou o ministro, defendendo que, “não sendo possível haver um cessar-fogo, é melhor haver uma pausa” nas hostilidades.

A Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou, há uma semana, uma resolução na qual apela a uma “trégua humanitária imediata, duradoura e sustentada” em Gaza e à rescisão da ordem de Israel para deslocação da população para o sul do enclave.

O projeto de resolução apresentado pela Jordânia, e copatrocinado por mais de 40 Estados-membros da ONU, obteve 120 votos a favor, 14 contra e 45 abstenções.

Apesar de não ter caráter vinculativo, esta resolução carrega um peso político e mostra o posicionamento da comunidade internacional em relação à forma como Israel está a conduzir a guerra contra o grupo islamita Hamas.

Um ataque de surpresa realizado pelo Hamas contra o território israelita no dia 07 de outubro, que provocou cerca de 1.400 mortos, mais de 5.400 feridos e durante o qual foram feitos mais de 240 reféns - levou Israel a declarar guerra e a retaliar com bombardeamentos a Gaza desde então.

As operações militares de Israel, que duram há 28 dias, já mataram mais de 9.000 palestinianos e provocaram mais de 20.000 feridos, segundo números do Hamas.

Na comissão de hoje, João Gomes Cravinho insistiu que um cessar-fogo seria o ideal, mas lembrou que perante “uma situação absolutamente dramática” o que é preciso é “salvar vidas” e “isso significa fazer uma pausa, uma trégua, um cessar-fogo, qualquer coisa que pare os mísseis”.

Por outro lado, acrescentou, é preciso “caminhar para a cessação de hostilidades” e “é preciso usar este momento trágico para engendrar um processo de paz, que, nos últimos anos, de processo de paz não tinha nada”.

Vários deputados presentes na comissão parlamentar, do Bloco de Esquerda, PCP e Livre, pediram ao ministro que clarificasse a posição de Portugal em relação ao conflito, defendendo que reconheça o Estado da Palestina e chame os palestinianos de amigos como fez em relação a Israel.

Sublinhando que o mais importante é defender os civis, o ministro afirmou que “Portugal é amigo de Israel, mas, às vezes, é preciso dizer aos amigos coisas duras de ouvir”.

“É evidente que temos, em relação à Palestina, uma proximidade, um sentimento de afeto e, sobretudo, uma vontade de contribuir para que tenham um futuro melhor”, disse o ministro.

Esse futuro “tem de passar por uma solução de dois Estados”, defendeu, adiantando querer “acreditar que desta tragédia sairá uma lição global” relativamente à Palestina.

É preciso “uma solução confortável para os palestinianos e que também permita a Israel viver em paz e segurança. E isso significa uma aproximação e uma efetivação da solução de dois Estados”, concluiu.

(notícia atualizada às 18:48)