“Portugal fará a sua parte, recebendo alguns dos migrantes do navio #OceanViking, em coerência com os nossos valores nacionais e europeus. Saudamos o importante papel desempenhado pela França neste processo”, escreveu o ministro dos Negócios Estrangeiros português, João Cravinho, na rede social Twitter.

Na mensagem, Cravinho não fez qualquer referência à recusa italiana em autorizar o desembarque. A agência Lusa pediu ao Ministério dos Negócios Estrangeiros um comentário sobre o comportamento do novo Governo italiano, mas ainda não obteve resposta.

Segundo as autoridades marítimas francesas, após uma decisão tomada a “título excecional”, os 234 migrantes resgatados no Mediterrâneo ao largo da costa da Líbia começaram a desembarcar hoje de manhã em Toulon, com Paris a lançar duras críticas a Roma por nunca ter permitido ao ‘Ocean Viking’ aportar em Itália.

Das críticas às sanções, Paris, através do ministro do Interior, Gérald Darmanin, reforçou quinta-feira a segurança na fronteira com Itália em cerca de uma dezena de postos fronteiriços, aumentando o controlo em “estações de serviço, eixos secundários e autoestradas, sobretudo a A8, saídas de estradas e pontos de portagens”, tal como indicou hoje a Direção-Geral da Polícia Nacional (DGPN) francesa.

Cerca de 500 polícias e gendarmes (polícia militarizada) foram mobilizados para os postos de controlo em “pontos de passagem autorizados” para garantir “segurança H24 [24 horas]”, disse a mesma fonte.

Apesar da maior parte das rotas de entrada de migrantes para França ficarem situadas nos Alpes Marítimos, o reforço “estende-se a vários pontos nas outras zonas de montanha”.

A decisão de Paris já suscitou uma reação da nova primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, que criticou hoje a “resposta agressiva” de França, que exige que a União Europeia (UE) também imponha sanções a Roma.

“Quando se fala em retaliação no âmbito da UE, há alguma coisa que não está a funcionar. Fiquei impressionada com a reação agressiva, incompreensível e injustificável do Governo francês”, afirmou Meloni, numa conferência de imprensa, em que alegou que a Itália não pode ser o único destino para os migrantes procedentes de África.

“Não é inteligente discutir com França, Espanha, Grécia, Malta ou com outros países. Quero procurar uma solução comum”, assegurou Meloni, para quem é necessário encontrar “uma solução europeia” para a questão da migração.

Segundo o ministro do Interior francês, França também suspendeu “com efeitos imediatos” o acolhimento de 3.500 refugiados, que deveriam ser transferidos, no próximo verão, de território italiano para solo francês, parte de um acordo no âmbito do mecanismo europeu para a recolocação noutros países europeus de refugiados que chegam aos principais países recetores, nomeadamente Itália.

“O Governo italiano é quem perde”, considerou Gérald Darmanin, reiterando que “haverá consequências extremamente fortes no relacionamento bilateral” entre os dois países e no relacionamento de Itália com a UE.

Nas mesmas declarações, Gérald Darmanin defendeu ainda que “todos os outros participantes [no mecanismo], em particular a Alemanha”, deveriam suspender também o acolhimento previsto de refugiados atualmente instalados em território italiano.

O ‘Ocean Viking’, da organização não-governamental (ONG) europeia SOS Méditerranée, com bandeira norueguesa, estava há 19 dias no mar, com 234 migrantes a bordo, à espera de uma autorização das autoridades de Itália para atracar num porto italiano.

Segundo alertou a ONG na segunda-feira, a situação a bordo era já “insuportável”, já que os migrantes apresentavam “sinais significativos de ansiedade e depressão”.

De acordo com o ministro do Interior de França, um terço dos passageiros será realojado em território francês, mas os que não cumprirem os critérios para serem requerentes de asilo “serão devolvidos diretamente”.

O novo Governo de extrema-direita de Itália, liderado pela primeira-ministra Giorgia Meloni, acusa as organizações humanitárias que resgatam migrantes no mar de encorajarem o fenómeno migratório, pelo que decidiu não autorizar ou não responder aos seus pedidos para atracar em portos italianos.

Vários navios com centenas de migrantes mantiveram-se, durante dias, ao largo da costa italiana, apesar da degradação do estado de saúde dos passageiros.

Itália é abrangida pela chamada rota do Mediterrâneo Central, uma das rotas migratórias mais mortais, que sai da Líbia, Argélia e da Tunísia em direção à Europa, nomeadamente aos territórios italiano e maltês.

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