Professor catedrático da Universidade Lusófona de Lisboa e Investigador Coordenador do Centro de Investigação em Ciência Política, Relações Internacionais e Segurança (CICPRIS) da mesma instituição, José Filipe Pinto apresenta na sexta-feira o livro "Populismo e Democracia - dinâmicas populistas na União Europeia".
O professor explicou à Lusa que no seu livro constrói uma definição de populismo servindo-se de dois índices: “o índice de populismo do sueco Andreas Heino - da Fundação Timbro - e o índice de democracia do The Economist".
O índice de populismo da Fundação Timbro contabiliza o número de mandatos (deputados eleitos) conseguidos pelos partidos populistas nas várias eleições na Europa, levando também em consideração se estes formam ou não governo.
A avaliação do índice de populismo feito pela Fundação Timbro que reconhece a existência em Portugal de 20,5% de peso eleitoral dos partidos populistas, disse o investigador.
“E isto é que me incomoda porque ouvi o senhor Presidente da República [no seu discurso no 25 de abril] dizer que Portugal, felizmente, estava alheio a este fenómeno populista. E estava a falar na Assembleia da República. À sua frente tinha três partidos cujos deputados são populistas: o Bloco de Esquerda (populista autoritário), o PCP (populista totalitário) e o Partido Ecologista Os Verdes (populista autoritário)”, explicou.
No ranking da UE, a Hungria surge à frente (com 66,4%), seguido da Grécia, da Polónia, da Itália, Chipre, Dinamarca, Áustria, República Checa, França, Espanha e Portugal.
“Estes também são os únicos acima dos 20%, tendo em conta os dois indicadores: número de mandatos e participação num Governo. […] O índice ainda não inclui o apoio de partidos populistas a soluções de governo, que é o caso de Portugal”, realçou.
A ascensão do populismo, considerou o investigador, nasce num contexto em que há um défice de qualidade na democracia e deixa um dado do índice de democracia da publicação The Economist.
O índice da democracia mede cinco rubricas: o processo eleitoral e o pluralismo, o funcionamento do Governo, a participação política, a cultura política e as liberdades civis.
“Na União Europeia, por enquanto, temos 28 países. Nenhum deles é um regime híbrido ou uma ditadura. Onze são democracias completas e 17 são democracias incompletas ou imperfeitas. Portugal está no grupo das democracias incompletas ou imperfeitas, mas bem colocado, com 7,86 pontos (igual ou acima de 8 seria uma democracia completa)”, explicou.
José Filipe Pinto considera que o populismo crescente é “o irmão gémeo da democracia” e não o seu “filho bastardo”, e resulta principalmente do descontentamento popular causado pelo mau desempenho dos eleitos, dos partidos tradicionais.
"Este descontentamento popular depois traduziu-se num voto de protesto e nas vozes encantatórias, que conseguem identificar-se como os representantes do povo”, concluiu.
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