"No sábado, íamos a sair do edifício e já não conseguimos", descreveu Castro à agência Lusa. "As ruas em torno do bairro foram cercadas, com cordão policial, e uma barreira foi colocada à porta do prédio", disse.
Alexandre Castro, treinador de futebol radicado há dois anos em Cantão, cidade com 15 milhões de pessoas, foi apanhado no epicentro do surto que resultou em dezenas de infeções locais desde 21 de maio. O súbito aumento de casos na capital da província de Guangdong abalou as autoridades chinesas, que pensavam que tinham a doença sob controlo.
O bairro onde o português vive - Zhonghai Huawan Yihao - foi dos primeiros a ser isolado, após terem sido detetados vários casos entre os moradores. O condomínio é composto por mais de vinte torres, servindo de residência a milhares de famílias.
Na semana passada, após terem sido detetados os primeiros casos no bairro, todos os moradores foram testados. No sábado, as autoridades procederam a isolar o quarteirão, impedindo saídas. Pelo menos cinco estações de metro próximas da área foram encerradas, segundo o português.
A nível provincial, as autoridades impuseram na segunda-feira restrições à saída de pessoas de Guangdong, passando a exigir um teste realizado nas 72 horas anteriores.
Guangdong, que faz fronteira com Macau e Hong Kong, é a província chinesa que mais exporta e integra três das seis Zonas Económicas Especiais da China - Shenzhen, Shantou e Zhuhai.
O fornecimento de mantimentos para o bairro de Alexandre, situado no sul de Cantão, continua a ser uma incógnita.
"Fomos informados que íamos receber mantimentos, mas até agora nada", resumiu.
Desde março de 2019, quando o Partido Comunista Chinês declarou vitória sobre a doença, as autoridades têm atuado rapidamente para impedir que novos surtos se alastrem, colocando sob quarentena bairros ou cidades inteiras, enquanto testam massivamente a população local assim que os primeiros casos são diagnosticados.
O relato de Alexandre ilustra a eficácia do sistema chinês em lidar com a doença, mas também o seu lado mais sombrio: o vírus foi mantido sob controle, mas apenas devido ao poder do regime de ditar mudanças colossais, enquanto dispõe de um amplo aparelho de vigilância.
Praticamente todas as pessoas que vivem na China são hoje obrigadas a usar um aplicativo no telemóvel que regista em detalhe onde o usuário esteve. O aplicativo é exigido à entrada de edifícios de escritórios, centros comerciais ou supermercados.
Comités de Prevenção da Epidemia foram oficialmente criados em todos os bairros, ilustrando a mobilização nacional, depois de o Presidente chinês, Xi Jinping, ter designado o combate ao vírus como uma "guerra popular".
Desde o início da pandemia de covid-19, o país registou 91.122 casos da doença e 4.636 mortos, segundo os dados da Comissão Nacional de Saúde da China.
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 3.543.125 mortos no mundo, resultantes de mais de 170,2 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 17.025 pessoas dos 849.093 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
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