Fitas marcam as áreas interditas, há tocas nos aterros, a vegetação rende-se aos animais e, aqui e ali, jazem os ossos e os corpos magros de alguns dos muitos coelhos que parecem estar prontos a recuperar o território que perderam na contínua expansão de Madrid, conta o The Guardian.

"Quando os edifícios aumentaram e as estradas foram construídas, todos os predadores naturais dos coelhos desapareceram, deixando-os em paz", diz Mateo Meléndrez, artesão e porta-voz da Associação de Vizinhos do Carabanchel Alto.

"O número de coelhos está agora fora da escala e, se registarmos uma primavera húmida, a população pode triplicar", aponta. Por isso, a população começa a temer que alguns parasitas dos animais passem para os humanos — como é o caso da leishmaniose.

No final do mês passado, várias associações locais alertaram que a situação estava a ficar perigosamente fora de controlo. Embora não tenham nada contra os próprios coelhos, as pessoas estão também a ficar cansadas da destruição que os animais estão a deixar em jardins.

Além disso, mais de 200 crianças numa escola deixaram de utilizar o seu parque infantil desde o ano passado, devido aos riscos para a saúde colocados pela urina e excrementos dos coelhos. Numa outra, os coelhos cada vez mais descarados comeram todas as cenouras e cebolas do jardim educativo.

"Os coelhos não têm vergonha nenhuma", diz María Secos Morales, presidente do grupo de pais do Colégio Ártica. "E tudo se agravou durante a pandemia, porque ninguém foi autorizado a sair".

O passado deixa margem para preocupações: há 12 anos, um surto de doença parasitária na cidade vizinha de Fuenlabrada infetou centenas de pessoas e levou ao abate de dezenas de milhares de coelhos e lebres.

Por tudo isto, o conselho distrital de Carabanchel diz que está a trabalhar com as escolas afectadas para manter os coelhos afastados e para levar as crianças de volta para os seus parques infantis, campos de areia e hortas. Para além de escorar vedações, está a levar a cabo ações com furões, que conseguem controlar a praga de coelhos.

De acordo com Juan García Vicente, da associação  Ecologistas em Ação, não há "nenhuma solução mágica" para o conflito com estes animais em Carabanchel.

"Não é que nos estejam a invadir — nós é que estamos a ocupar o seu habitat natural de uma forma prejudicial", diz. "Não podemos agir como se fôssemos donos de tudo; precisamos de partilhar estes espaços. Trata-se apenas de controlo e de tentar manter o equilíbrio".