Em entrevista à Antena 1, Ana Gomes disse que não estava arrependida de ter referido “a amizade” de Marcelo com Ricardo Salgado no debate que teve com o Presidente no sábado, que originou o momento de maior tensão, e rejeitou tratar-se de uma crítica populista.

“Não me arrependo, porque há uma proximidade” entre os dois e porque no processo BES, ainda em investigação pela Justiça, está em causa a “gestão ruinosa de um banco a favor de uma família, com prejuízos tremendos para o país" e porque “a justiça não funcionou”.

E se Marcelo, durante o debate, invocou decisões do Tribunal da Concorrência contra Salgado e o pacto de justiça que propôs no início do mandato, a ex-eurodeputada do PS desvalorizou e insistiu: “O pacto não valeu o papel onde estava escrito porque a justiça não funcionou.”

Até porque, argumentou, já existiam outros processos em que o BES e Ricardo Salgado surgem associados, como “Monte Branco” e “Operação Furacão”.

A candidata às presidenciais de 24 de janeiro subiu o tom crítico ao lembrar uma notícia que “não foi desmentida” de que Rebelo de Sousa foi “intermediário para obter financiamento, primeiro junto do BES, para o jornal onde estava a escrever, o Sol”.

E depois “ter ido conseguir esse financiamento através da vinda de um investidor angolano, por indicação do dr. Ricardo Salgado, Álvaro Sobrinho para esse jornal”, afirmou ainda.

“Essa proximidade teve consequências para o panorama mediático e no investimento angolano no país, sem o escrutínio que seria necessário”, acusou ainda.

Ana Gomes recordou que Ricardo Salgado “até hoje não foi preso, continua descansado em casa, não foi feita justiça, não só no megaprocesso relacionado com o falhanço do BES”, mas também em casos anteriores, como a Operação Furacão e Monte Branco.

O problema, respondeu quanto a uma eventual acusação de inação a Marcelo nesta área, é que “a Justiça deixe passar o tempo e depois os crimes prescrevam”.

E disse que, se estivesse no Palácio de Belém, bater-se-ia para que a Justiça “tivesse todos os meios” para combater a corrupção e de forma a que fosse feita justiça nestes e noutros casos.

Porque, argumentou ainda, é esta situação que ajuda e “alimenta uma vaga populista que põe em causa a democracia”.

As eleições presidenciais estão marcadas para 24 de janeiro e esta é a 10.ª vez que os portugueses são chamados a escolher o Presidente da República em democracia, desde 1976.

A campanha eleitoral decorre entre 10 e 22 de janeiro, com o país a viver sob medidas restritivas devido à epidemia. Concorrem às eleições sete candidatos, Marisa Matias (apoiada pelo Bloco de Esquerda), Marcelo Rebelo de Sousa (PSD e CDS/PP) Tiago Mayan Gonçalves (Iniciativa Liberal), André Ventura (Chega), Vitorino Silva, mais conhecido por Tino de Rans, João Ferreira (PCP e PEV) e a militante do PS Ana Gomes (PAN e Livre).