"A nossa candidatura é para ir até ao fim, com base no seu projeto, nas suas linhas de intervenção", afirmou Jerónimo de Sousa, em conferência de imprensa, no final da reunião do comité central, que aprovou, por unanimidade, a estratégia e o candidato presidencial às eleições do próximo ano.

O secretário-geral do PCP não fixou fasquias para o resultado de João Ferreira, sem comparar com o resultado de há cinco anos de Edgar Silva (3,95%) nem com os 8,95% conseguidos pelo próprio Jerónimo, em 2006.

"Não fizemos essas contas", disse, afirmando que os comunistas estão "conscientes das dificuldades, da batalha exigente que tem que ser travada por João Ferreira", acrescentando, porém, que o eurodeputado "vai contar com algo importante": "Todo o nosso coletivo partidário."

A candidatura do PCP não é "para desistir, mas sim para se afirmar, para crescer, para ir para o terreno", insistiu Jerónimo, que sublinhou a "opção de autonomia e independência" relativamente a outros candidatos à esquerda.

A candidatura de João Ferreira, descreveu Jerónimo de Sousa, será para "dar voz ao projeto e valores de Abril, à defesa dos direitos dos trabalhadores e do povo e à afirmação da igualdade e justiça sociais".

As próximas presidenciais, afirmou ainda, são um "momento para a afirmação e defesa da Constituição", empenhando-se os comunistas em colocar no Palácio de Belém "alguém comprometido, nas palavras e nos atos, com a lei fundamental do país e com o regime democrático".

Jerónimo de Sousa insistiu, como já fizera antes, na crítica ao mandato de Marcelo Rebelo de Sousa como Presidente da República por se empenhar num "processo de rearrumação de forças políticas" à direita e de "branquear" o PSD.

"O mandato do atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, para lá do seu ativismo, é marcado pelo seu empenhamento no processo de rearrumação de forças políticas, posto em marcha para branquear o PSD, a política de direita e as suas responsabilidades, reabilitá-los politicamente e reconduzi-lo para um papel de cooperação intensa com o PS, que procura assegurar as condições para a chamada política de 'bloco central'", afirmou.

O líder do PCP acusou Marcelo ter falhado na defesa da Constituição e deu o exemplo da promulgação das alterações à legislação laboral, leis que levaram ao despedimento e à precarização de trabalhadores.

O candidato dos comunistas, prometeu, "estará agora onde sempre esteve e onde faltaram os presidentes da República: junto dos trabalhadores e do povo, nas suas lutas pelos seus legítimos direitos, interesses e aspirações".

João Ferreira, biólogo, 41 anos, é eurodeputado do PCP, sendo vice-presidente do Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Verdes Nórdica (GUE/NGL) e vereador da CDU na Câmara de Lisboa. É membro do comité central do partido.

A candidatura dos comunistas será apresentada numa cerimónia na quinta-feira, em Lisboa.

O eurodeputado foi candidato pelo partido em duas das mais recentes eleições no país.

Nas autárquicas de 2017, foi cabeça de lista da CDU por Lisboa e obteve 9,55% dos votos (24.110) e dois vereadores.

Nas europeias de 2019, concorreu, tal como Marisa Matias, do Bloco de Esquerda, que é também candidata a Belém, e recolheu 6,88%, 228.157 votos, elegendo a coligação dois eurodeputados, menos um do que nas eleições de 2014.

As candidaturas a Presidente da República só são válidas depois de formalmente aceites pelo Tribunal Constitucional, e após a apresentação e verificação de um mínimo de 7.500 e um máximo de 15.000 assinaturas de cidadãos eleitores, até trinta dias antes da data da eleição, que deverá realizar-se no final de janeiro do próximo ano.

Quem são os pré-candidatos às presidenciais

A seis meses do fim do mandato do atual Presidente da República, são já oito os pré-candidatos ao lugar de Marcelo Rebelo de Sousa.

Cronologicamente, foi o líder e deputado único do partido Chega, André Ventura, o primeiro a apresentar publicamente a sua intenção de concorrer ao mais alto cargo da nação, em 29 de fevereiro, em Portalegre.

Seguiram-se, no final de julho, as manifestações de vontade de concorrerem a Belém do advogado e fundador da Iniciativa Liberal Tiago Mayan Gonçalves e do presidente do Partido Democrático Republicano (PDR), Bruno Fialho.

Já em setembro, Marisa Matias, do BE, anunciou ser uma das ‘repetentes’ na corrida a Belém entre os nomes já conhecidos, depois de em 2016 ter conseguido o melhor resultado de sempre de um candidato da área política bloquista, ficando em terceiro lugar, com 10,12% dos votos.

Um outro candidato a Belém de há cinco anos, Vitorino Silva (mais conhecido por Tino de Rans), avançou à rádio Observador e depois à Lusa que irá novamente a votos, mas pretende que a disputa se realize apenas na primavera, para proteger os idosos, o grupo mais afetado pela pandemia de covid-19. Em 2016, o agora líder do partido RIR (Reagir Incluir Reciclar) obteve 3% dos votos e ficou em sexto lugar entre dez candidatos.

Na quinta-feira, 10 de setembro, foi a vez de a ex-eurodeputada socialista Ana Gomes apresentar a sua candidatura a Presidente da República na Casa da Imprensa, em Lisboa.

Também o ex-militante do CDS Orlando Cruz, que já por três vezes no passado fez este anúncio mas que nunca chegou a formalizar o processo junto do Tribunal Constitucional, se apresentou como candidato.

Agora, depois da reunião do Comité Central do PCP para decidir o candidato às presidenciais apoiado pelo partido, surge o nome de João Ferreira, enquanto oitavo pré-candidato anunciado.

Quanto a Marcelo, só “lá para novembro”, nas palavras do próprio, é que será anunciada a sua decisão quanto a uma eventual recandidatura nas presidenciais de 2021, que manteve em aberto ao longo do seu mandato, e sempre depois de ter convocado as eleições (o que tem de fazer com uma antecedência mínima de 60 dias, segundo a lei).

Há cinco anos, o Tribunal Constitucional admitiu as dez candidaturas formalizadas às eleições presidenciais, o que constituiu um número recorde.

Os dez candidatos às eleições presidenciais de 24 de janeiro de 2016 foram: Henrique Neto, António Sampaio da Nóvoa, Cândido Ferreira, Edgar Silva, Jorge Sequeira, Vitorino Silva (Tino de Rans), Marisa Matias, Maria de Belém Roseira, Marcelo Rebelo de Sousa (que venceu à primeira volta com 52% dos votos) e Paulo de Morais.

Antes, tinha havido, no máximo, seis candidaturas a eleições presidenciais, em 1980, em 2006 e 2011.