Apesar das expectativas, não há certeza de que o ‘dia D’ do Governo brasileiro aconteça na data marcada porque o início da votação depende da presença de pelo menos 342 dos 513 deputados em plenário.
A denúncia contra Michel Temer é o capítulo mais recente de uma intensa crise política que dividiu o país nos últimos anos, mas, curiosamente, o seu conteúdo ocupa um papel secundário enquanto o quórum para abrir a votação centraliza as atenções da base aliada e dos partidos que fazem oposição ao Governo.
Apoiantes de Michel Temer acreditam que têm pelo menos 172 votos, número mínimo para impedir a abertura do processo, e querem votar para encerrar o caso.
Já a oposição discute a possibilidade de evitar para já o quórum mínimo para abrir a votação porque não tem os 342 votos que precisa para vencer e entende que, adiando a decisão, ganha ao prolongar o desgaste do Governo.
Os jornais Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo ouviram os deputados e indicam que Michel Temer tem o apoio, respetivamente, de 110 e 95 deputados.
As mesmas publicações apontam que entre 188 e 190 parlamentares se manifestaram contra o chefe de Estado, ou seja, a favor de que ele seja processado.
Segundo a Folha de S.Paulo 113 deputados disseram-se indecisos e outros 113 simplesmente não responderam ou não anteciparam o voto.
No levantamento feito pelo O Estado de S.Paulo 56 deputados declararam-se indecisos e outros 156 não quiseram responder.
A liderança nas projeções não desperta o otimismo dos partidos de oposição porque informações de bastidor indicam que muitos parlamentares que devem apoiar Michel Temer permanecem em silêncio ou dizem-se indecisos para evitar desgaste junto dos seus eleitores, dada a queda de popularidade de Michel Temer que, segundo a mais recente sondagem do instituto de pesquisa Ibope tem o apoio de apenas 5% da população.
O chefe de Estado brasileiro foi formalmente acusado do crime de corrupção passiva em junho pelo Procurador-Geral, Rodrigo Janot, após vir a público um esquema de corrupção denunciado pela multinacional do setor de carnes JBS.
Dois acionistas maioritários da empresa, Joesley Batista e Wesley Batista, e outros executivos afirmaram que o Presidente recebia subornos em troca de intermediar favores à empresa junto a órgãos do Governo.
Michel Temer também foi acusado de autorizar o pagamento de subornos para silenciar o ex-deputado Eduardo Cunha, condenado a mais de 15 anos de prisão por envolvimento nos desvios da petrolífera estatal Petrobras.
Os depoimentos dos membros da JBS aconteceram em maio, depois da empresa ter firmado um acordo de cooperação para confessar crimes em troca de perdão judicial.
Como a decisão de abrir um processo ou não contra um Presidente com mandato em exercício no Brasil depende da câmara baixa, o destino do país voltou a estar em suspenso um ano após o Congresso ter destituído a ex-Presidente Dilma Rousseff.
Se a abertura do processo for autorizada pelos parlamentares, será depois a vez do Supremo Tribunal Federal (STF) se manifestar.
Na hipótese do STF aceitar a denúncia, o Presidente é imediatamente afastado do cargo por 180 dias e julgado pelos onze juízes.
Em caso de condenação, Michel Temer acabará destituído e novas eleições indiretas, decididas pelos membros do Congresso, definirão quem será a terceira pessoa a ocupar a cadeira mais importante da República do Brasil em menos de quatro anos.
Comentários