“Infelizmente, e apesar de todas as precauções que tomámos (…) para proteger os direitos humanos de todos, em alguns casos os protocolos não foram respeitados. Houve uso excessivo da força, cometeram-se abusos e os direitos de todos não foram respeitados”, reconheceu Sebastián Piñera.

A crise social sem precedentes que abala o Chile desde 18 de outubro deixou pelo menos 23 mortos e mais de 2.000 feridos, incluindo 200 pessoas com lesões oculares.

“Não haverá impunidade, nem para aqueles que cometeram atos de violência excecional, nem para aqueles que cometeram (…) abusos”, acrescentou o chefe de Estado, referindo-se, por um lado, à destruição perpetrada pelos manifestantes mais radicais e, por outro, à violência da polícia durante as manifestações.

O Presidente chileno expressou também solidariedade com todas as pessoas que foram “vítimas desta violência” e apresentou condolências aos familiares das vítimas.

Até ao momento, das 23 mortes, seis são referentes a cidadãos estrangeiros e cinco alegadamente ocorreram devido à intervenção das forças do Estado, entre polícias e militares.

De acordo com o Instituto Nacional de Direitos Humanos (INDH) do Chile, há pelo menos 2.381 feridos a registar, dos quais 1.360 foram baleados.

Para o INDH, os casos mais preocupantes dizem respeito às lesões oculares resultantes de munições não letais.

Piñera referiu-se ainda ao acordo para uma nova Constituição alcançado no Parlamento na madrugada de sexta-feira, que marca o caminho para uma nova Magna Carta.

“Se os cidadãos assim o decidirem, avançaremos para uma nova Constituição, a primeira elaborada em plena democracia e respeitada por todos”, explicou Piñera, já que a atual é herdada da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).

O Presidente disse esperar que a nova Constituição, caso a população vote a favor da sua redação, dê “legitimidade e estabilidade” a um novo e necessário pacto social, já que, segundo Piñera, o atual foi o detonador da explosão social.

As manifestações no Chile surgiram inicialmente em protesto contra um aumento do preço dos bilhetes de metro em Santiago, decisão que seria suspensa e posteriormente anulada pelo Governo liderado pelo Presidente chileno.

Mas, apesar do recuo das autoridades, as manifestações e os confrontos prosseguiram devido à degradação das condições sociais e às desigualdades no país.