Num contundente discurso no primeiro dia da 78.ª Assembleia Geral das Nações Unidas, Andrzej Duda invocou a II Guerra Mundial e a ocupação do seu país pela Alemanha Nazi para se referir à “brutal invasão” da Ucrânia pela Rússia, em 24 de fevereiro de 2022: “É precisamente por isso que entendemos a tragédia da Ucrânia melhor do que qualquer outro país do mundo, e a tragédia de outros países que vivem a loucura da guerra”.

Em resultado da agressão militar russa, Duda disse que o mundo mergulhou em “tempos perigosos” e que a paz não é um bem adquirido, mas “nunca esteve tão ameaçada como hoje”.

“A escravização, o imperialismo e o neocolonialismo são uma negação da liberdade, tanto como os sonhos insanos de dominar os outros ao desencadear a guerra na Ucrânia”, afirmou o chefe de Estado polaco

Duda acusou o Presidente russo, Vladimir Putin, de ambicionar, mas falhar, na tentativa de “restaurar o império russo, dividir o mundo e tornar a Europa sistematicamente dependente das suas matérias-primas”.

Defendendo que o mundo precisa de líderes corajosos e visionários, apontou o exemplo do seu antecessor Lech Kaczynski, que viu na intervenção de Moscovo na Geórgia em 2008 um sinal de que “pela primeira vez em muito tempo os russos mostravam a sua face” e que Putin acreditava no regresso aos tempos de um império e que os seus vizinhos devem ser subjugados à sua vontade.

“Dizemos não (…) Esses dias acabaram de uma vez por todas”, declarou o líder polaco, apelando para o combate à lógica da conquista mudando fronteiras pela força, do desrespeito pela lei e da negação ao povo ucraniano de existir.

Andrzej Duda disse que posição da Polónia é clara no sentido de que a guerra tem de acabar, o que só pode acontecer pela via do restabelecimento da integridade territorial da Ucrânia dentro das suas fronteiras internacionalmente reconhecidas. “É um elemento fundamental da ordem mundial. Hoje a vítima é a Ucrânia, amanhã poderá ser qualquer um de nós, se não seguirmos essas regras firmes”.

A alternativa, sustentou, é que os crimes de guerra e contra a humanidade sejam esquecidos, causando nos seus perpetradores uma sensação de impunidade.

É por isso que Varsóvia apoia as iniciativas para “responsabilizar a Rússia por violações grosseiras das normas fundamentais do direito internacional”, em concreto do Tribunal Penal Internacional e do Tribunal Internacional de Justiça, além da Comissão Internacional independente no âmbito do Conselho de Direitos Humanos da ONU, sendo ainda favor da criação de um tribunal especial ‘ad hoc’ pelos crimes imputados à Rússia.

“A mentira é usada para encobrir e justificar crimes russos contra a população civil, a Rússia tenta continuamente manipular a opinião pública internacional construindo uma falsa visão da realidade. Na Polónia, isto não nos surpreende, mas o mundo está a descobri-lo”, comentou.

Duda instou os seus pares a tirar conclusões da situação e enfrentar a manipulação e a desinformação, lutar contra a hipocrisia da história e inversão dos papéis de agressor e vítima: “O mal deve ser chamado mal, um crime deve ser chamado crime”.

O Presidente da Polónia contrariou também a ideia de que os estados que fornecem armas à Ucrânia estão a prolongar a guerra, comparando a invasão russa a um assalto à casa de um vizinho e advogando que a Ucrânia não seria capaz de resistir à agressão de Moscovo e defender a sua independência sem apoio de outros países, nomeadamente dos Estados Unidos, que “há mais de um século desempenham um papel na garantia da segurança na Europa”.

“É por isso que a principal prioridade da Polónia para o momento da nossa Presidência da União Europeia [EU] no primeiro semestre de 2025 será o reforço das relações transatlânticas e da cooperação entre a UE e os Estados Unidos”, anunciou Duda, apontando ainda que o seu país nunca teve colónias, mas conheceu a ocupação dos seus vizinhos e defende a luta contra o colonialismo em todo o mundo e está disponível para partilhar a experiência da transição económica do período socialista para um país líder da Europa central, de modo a que “ninguém fique para trás”.