"Espero que ele tome a difícil e dolorosa decisão de se retirar. Peço-lhe respeitosamente isso", afirmou Lloyd Doggett, o primeiro congressista democrata a pedir publicamente que Biden atire a toalha ao chão.

"Acho que é uma pergunta legítima dizer: 'Isso foi um episódio ou é uma condição?'" afirmou a muito influente Nancy Pelosi, de 84 anos, ex-presidente democrata da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, à rede MSNBC.

Pelosi referia-se ao desastroso debate de quinta-feira passada entre Biden e o republicano Donald Trump, de 78 anos, no qual o democrata se atrapalhou várias vezes e perdeu o raciocínio, intensificando os temores sobre a sua acuidade mental.

Numa tentativa de levantar os ânimos, a vice-presidente Kamala Harris disse que se sente "orgulhosa" de ser a companheira de corrida do presidente. "Joe Biden é o nosso candidato. Derrotamos Trump uma vez e vamos derrotá-lo de novo", acrescentou.

Num evento de campanha com doadores democratas perto de Washington, Biden deu "uma explicação" pelos desastrosos 90 minutos de debate. "Não foi muito inteligente" ter "viajado por todo o mundo algumas vezes [...] pouco antes do debate", disse. "Quase adormeci no palco", contou.

O presidente americano esteve em França de 5 a 9 de junho, para assistir às cerimónias do desembarque aliado na Normandia e realizar uma visita de Estado. Na sua chegada, a 5 de junho, permaneceu o dia todo no hotel.

De 12 a 14 de junho, viajou para a Itália para participar numa reunião do G7. Na sequência, viajou diretamente para a Califórnia para um evento de campanha. Depois, o democrata fez uma pausa de seis dias para se preparar para o debate com os seus assessores na residência de Camp David, cerca de Washington, período durante o qual não realizou nenhuma atividade pública.

Até agora, o principal argumento dos seus correligionários tinha sido que Joe Biden tinha passado uma "noite complicada" e que estava "constipado".

O presidente "sabe como dar a volta por cima", disse a porta-voz Karine Jean-Pierre aos jornalistas, descartando a possibilidade de o octogenário se submeter a um teste cognitivo porque "não se justifica, não é necessário". Em fevereiro, o seu médico declarou-o apto a governar.

Durante o debate, o presidente americano foi incapaz de se expressar fluentemente e com vigor sem um teleponto. Esta sexta-feira, Biden dá uma entrevista à ABC News, que vai transmiti-la integralmente no domingo.

A Casa Branca também promete uma conferência de imprensa na próxima semana durante a cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) em Washington, além de conversas com funcionários, governadores e congressistas democratas de alto escalão.

Uma sondagem publicada nesta terça-feira pela CNN aumentou ainda mais o pânico entre os democratas: 75% dos eleitores entrevistados acreditam que o partido teria mais hipóteses em novembro com outro candidato.

Trump recebe 49% das intenções de voto a nível nacional, contra 43% do seu rival, uma diferença que não mudou desde a última sondagem deste tipo, realizada em abril.

A vice-presidente Kamala Harris, embora não ganhasse, estaria melhor posicionada, com 45%, contra 47% do ex-presidente republicano.

O The New York Times informou nesta terça-feira que alguns colaboradores do presidente notaram "ausências mais frequentes" e "mais pronunciadas" nos últimos meses, mas também momentos de lucidez, por exemplo, perante crises internacionais.

As questões sobre a acuidade mental do presidente mais velho da história dos Estados Unidos, que tem mostrado um declínio físico evidente, são "legítimas", insistiu Karine Jean-Pierre nesta terça-feira, mas evitou respondê-las diretamente. A porta-voz afirmou que o governo "não esconde absolutamente nenhumas informações" sobre as aptidões do presidente.