“A ONU nem sequer consegue proteger o seu próprio pessoal ou os trabalhadores humanitários. De que é que estão à espera? O espírito das Nações Unidas morreu em Gaza”, declarou o Chefe de Estado turco, aludindo ao ataque do exército a um acampamento de refugiados que causou 45 mortes, realizado domingo.

Num discurso perante o grupo parlamentar do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), que lidera, Erdogan, à frente de um país predominantemente muçulmano, de 85 milhões de habitantes, além do ataque à impotência da instituição internacional, apelou aos seus pares do “mundo islâmico”.

“Tenho algumas palavras a dizer ao mundo islâmico: de que estão à espera para tomar uma decisão conjunta? Deus responsabilizará, aos israelitas, a vocês e a nós”, disse, acrescentando que “Israel não é apenas uma ameaça para Gaza, mas para toda a humanidade”.

“Nenhum Estado está seguro enquanto Israel não respeitar o direito internacional e não se sentir obrigado a respeitar o direito internacional. E isso inclui a Turquia”, acrescentou.

“Israel e aqueles que o apoiam esperam que este genocídio seja esquecido: este genocídio não será esquecido. O assassínio de bebés e crianças, os ataques a hospitais, igrejas e mesquitas não serão esquecidos”, alertou.

Erdogan considerou a ofensiva israelita em Rafah como um novo ato de “barbárie de um louco, um psicopata, um vampiro sanguinário”, referindo-se ao primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu.

“O genocídio de Israel em Gaza entrou numa fase mais sangrenta com os ataques de Rafah”, afirmou o líder turco.

“As imagens são insuportáveis, o coração não as pode suportar. Um pai desesperado, se puder, mostra ao mundo a cabeça decapitada do seu bebé”, afirmou, denunciando o ‘ataque às tendas’ de um campo de deslocados perto de Rafah, onde ’45 palestinianos inocentes foram martirizados’ no domingo.

Erdogan insistiu nas acusações a Washington e à Europa de serem cúmplices da morte de civis palestinianos na Faixa de Gaza.

“América, este sangue também está nas vossas mãos. São tão responsáveis por este genocídio como Israel”, declarou.

“Quanto aos dirigentes europeus, vocês também participaram nesta barbárie porque permaneceram em silêncio”, acrescentou o chefe de Estado turco.

Terça-feira, dando a sua versão dos acontecimentos, alguns dias depois de Netanyahu ter admitido que o ataque foi um “acidente trágico”, o Exército israelita atribuiu o incidente no campo de deslocados em Tal al-Sultan, a oeste de Rafah, à explosão de munições armazenadas em instalações do Hamas próximas das que bombardeou.

“Foi um incidente devastador que não esperávamos que acontecesse. O nosso Exército lançou 17 quilos de explosivos, a quantidade mínima que os nossos aviões de combate podem lançar. As nossas munições, por si só, não podem ter causado aquele incêndio devastador”, declarou o porta-voz do Exército de Israel, Daniel Hagari, que insistiu que a investigação ainda não está concluída.

O ataque israelita, ocorrido no domingo à noite e cujos alvos eram alegadamente dois altos responsáveis do Hamas, foi condenado pela maior parte da comunidade internacional e classificado por Israel como “um trágico acidente”, que se deu apesar de “todas as precauções tomadas para evitar danos à população civil não envolvida e usando a quantidade mínima de explosivos”.

JSD (ANC) // APN

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