“Eu trato das nossas contas”, disse Giuseppe Conte em resposta a declarações de Angela Merkel, numa entrevista a vários jornais europeus publicada hoje, defendendo que os países europeus devem recorrer a todos os instrumentos aprovados pela União Europeia para fazer face à crise económica e social provocada pela pandemia, incluindo os empréstimos do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE).
“Nada mudou no ponto de vista de Angela Merkel, mas é a mim, com [o ministro da Economia, Roberto] Gualtieri e os técnicos de conta do Estado, que cabe tratar das contas” de Itália, disse Conte.
“Estamos a preparar um plano de relançamento para Itália que vamos apresentar em setembro”, acrescentou o primeiro-ministro italiano, que falava numa conferência de imprensa sobre o início do ano escolar em Itália.
Conte reagia a declarações de Merkel numa entrevista publicada hoje por seis jornais europeus, o italiano La Stampa, o alemão Süddeutsche Zeitung, o britânico The Guardian, o francês Le Monde, o espanhol La Vanguardia, e o polaco Polityka.
Questionada sobre se Itália deve recorrer ao MEE, através do qual os países da zona euro podem requerer até 2% do respetivo PIB para despesas direta ou indiretamente relacionadas com cuidados de saúde em empréstimos com juros baixos, Merkel afirmou que “a decisão é de Itália”, mas acrescentou que a UE criou mecanismos como MEE, a linha do BEI e o programa SURE, que “qualquer um pode usar”.
“Não os disponibilizámos para ficarem por usar”, disse a chanceler.
O MEE é particularmente controverso em Itália e divide inclusivamente a coligação de governo, em que o Movimento 5 Estrelas (M5S, antissistema) se opõe ao recurso ao mecanismo e o Partido Democrático (PD, centro-esquerda) é a favor.
Do lado dos que contestam o recurso ao MEE, em que está também a oposição de direita, argumenta-se que ele acarreta o risco de um controlo de Bruxelas sobre as contas italianas através de condições associadas aos empréstimos, e defende-se antes o recurso ao fundo de recuperação, ainda em negociação, que prevê que as verbas sejam canalizadas sobretudo através de subsídios.
O MEE, criado em 2021 durante a crise das dívidas na Europa, disponibiliza linhas de crédito aos países mais afetados pela pandemia para despesas direta ou indiretamente relacionadas com cuidados de saúde, tratamentos e prevenção de covid-19.
Ao contrário dos empréstimos concedidos durante a crise das dívidas, sujeitos a um programa de reformas, esta linha específica do MEE tem como única condição que as verbas sejam usadas para aqueles fins.
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