“Nós somos um país democrático, há 25 anos que nós temos processos eleitorais reconhecidos internacionalmente como exemplares e não vamos permitir que o MLSTP, desta vez, queira manchar o processo e instalar o caos no país”, disse Patrice Trovoada.

Manifestantes concentraram-se na segunda-feira em frente à Comissão Eleitoral Distrital de Água Grande, na capital de São Tomé e Príncipe, para protestar contra uma alegada recontagem dos votos das eleições que favoreçam a Ação Democrática Independente (ADI), no poder.

Ao início da noite, a polícia de choque (conhecidos como ‘ninjas’) obrigaram os manifestantes a recuar, e estes responderam arremessando pedras e garrafas de vidro. A polícia disparou tiros para o ar, lançou granadas de fumo e gás lacrimogéneo.

No bairro 3 de Fevereiro, o cenário era inédito em São Tomé e Príncipe: duas grandes fogueiras, feitas de paus e pneus de carros, ardiam no meio da estrada, enquanto algumas dezenas de jovens se concentravam no local, com as caras cobertas com lenços. Do outro lado da estrada, uma barreira de polícias, protegidos com escudos e capacetes, impedia o acesso à rua.

A polícia acabou por desmobilizar cerca das 22:30, depois de se terem ouvido mais algumas explosões e de os bombeiros terem apagado os dois fogos.

“Eu digo o MLSTP, porque estavam lá dirigentes do MLSTP, alimentando um grupo de jovens entre os quais alguns delinquentes conhecidos da praça publica e até alguns menores”, disse Patrice Trovoada considerando que “o que aconteceu é extremamente grave”.

“Eu quero dizer a todos os são-tomenses e a comunidade internacional e todos os residentes em São Tomé e Príncipe que essa situação terá que cessar”, acrescentou o governante.

O primeiro-ministro sublinha que “os resultados até agora são provisórios”, lembrando que “nesta corrida, como em todas as corridas quem chega primeiro é o vencedor, e à luz dos resultados provisórios quem chegou primeiro é o ADI”, numa referência ao facto de o seu partido ter tido mais votos, embora insuficientes para uma maioria absoluta.

“Enquanto não houver o apuramento final e a decisão oficial do Tribunal Constitucional, nós devemos todos esperar que o trabalho se finalize com calma e sobretudo respeitando as pessoas, os bens e as instituições do estado”, explicou.

Em declarações aos jornalistas, Patrice Trovoada disse que o seu governo não vai “permitir que vida de magistrados sejam ameaçadas por partidos políticos e alguns apoiantes manipulados, comprados, alimentados com álcool”.

“É preciso que toda a gente perceba que o processo eleitoral que dá depois origem a uma nova legislatura é um processo que tem o seu tempo. Depois da publicação final oficial dos resultados, que todos os partidos terão que acatar, haverá um período de um mês até à constituição da nova assembleia nacional. Depois de constituir a assembleia nacional, então sim, estaremos na fase da formação do governo para dirigir São Tomé e Príncipe”, explicou.

Nessa ocasião, caberá ao Presidente da República chamar os partidos, a começar por aquele que venceu as eleições para apresentar uma solução de governo que poderá garantir que haja estabilidade no país, acrescentou

“Se o ADI não conseguir uma solução de governo será o segundo partido mais votado apresentar uma solução do governo. Se o MLSTP considera que, à luz dos resultados provisórios e dos seus contactos com outras formações nomeadamente a coligação, tem a possibilidade de formar governo, essa apreciação provisória só poderá ser definitiva há um mês quando estivermos na fase de formação do governo”, referiu o primeiro-ministro.

Patrice Trovoada diz que o ADI vai procurar uma solução de governo mesmo com minoria e lembrou que governos minoritários já governaram o país.

“Em 2006 o PCD (Partido da Convergência Democrática) e o MDFM (Movimento Democrático Força da Mudança) governaram durante dois anos com uma minoria parlamentar de 23 deputados. Em 2010, o ADI governou durante dois anos também com um governo minoritário de 26 deputados”, lembrou.

“Nós tivemos mudanças de governo durante legislaturas pelo facto de alguns partidos romperem os seus acordos para sanear outros, foi o caso em 2006 e 2008, quando se formou um governo com ADI, MDFM, PCD que durou três meses e que depois foi substituído por um governo MLSTP/PCD, explicou.

“Daqui para o futuro, eu posso vos garantir que o governo irá manter a ordem para que esse processo vá até ao fim e para que a palavra e a vontade do povo seja expressa e traduzida numa solução de governo”, acrescentou Patrice Trovoada.

A decisão de verificar os votos nulos decorre da lei e “todas a gente deve respeitar”.

Por isso, “vamos ficar calmos e serenos, vamos sobretudo respeitar a lei, os bens, vamos respeitar as pessoas, o povo e vamos, sobretudo, trabalhar para que a democracia em São Tomé e Príncipe continue a reinar”, apelou ainda.

Segundo os dados provisórios, a ADI foi a formação mais votada, mas não obteve maioria absoluta dos deputados. O segundo partido mais votado, MLSTP-PSD, terá condições para governar com o apoio da coligação que ficou em terceiro lugar.

MYB // PJA

Lusa/fim