“Após deliberações internas decidimos dissolver (o partido) e cessar toda a atividade devido às circunstâncias”, comunicou a formação partidária através de uma mensagem divulgada através da rede social Twitter.
O anúncio da dissolução do partido ocorre poucas horas depois de quatro líderes partidários, Joshua Wong, Nathan Law, Jeffrey Ngo e Agnes Chow terem anunciado a demissão do Demosisto.
O partido foi fundado pelos estudantes de Hong Kong em 2014 contra a interferência de Pequim no sistema político e social da ex-colónia britânica.
O partido destacou-se pela defesa de um sistema eleitoral universal na Região Administrativa Especial de Hong Kong rejeitado por Pequim.
Militantes como Joshua Wong, que chegaram a ser detidos por causa das atividades políticas, são atacados frequentemente pela imprensa da República Popular da China que os aponta como “separatistas” apesar do Demosisto nunca ter incluído a questão da independência na agenda do partido.
Segundo Pequim, o partido agora dissolvido é acusado de receber apoio de “potências estrangeiras” e de personalidades políticas internacionais.
“Eu vou continuar a defender a minha casa – Hong Kong – até que eles me reduzam ao silêncio e me eliminem da face da terra”, escreveu Joshua Wong através da página que mantém na plataforma digital Facebook.
“Um destino fatídico é-nos apresentado, as dificuldades pessoais são imprevisíveis e temos de as enfrentar com coragem. Anuncio a minha renúncia como secretário-geral do Demosisto e a minha partida do Demosisto. Realizarei o meu protesto a título pessoal”, afirmou nas redes sociais o ativista Joshua Wong, referindo-se a um “reinado de terror”.
Horas antes da dissolução do partido textos semelhantes a anunciar a saída foram publicadas também por Nathan Law e Agnes Chow, membros fundadores da mesma organização política.
Wong também defendeu que “nem a lei de segurança nacional nem qualquer outra lei do mal vai congelar a vontade de Hong Kong” e considerou que os enormes protestos pró-democracia lançados há um ano contra o projeto de lei da extradição “despertou inúmeras pessoas”.
Law indicou que “as personalidades políticas estarão em maior perigo e é difícil prever sua segurança”, embora tenha afirmado que “a luta do povo de Hong Kong não cessará e continuará com resistência constante”.
A República Popular da China confirmou que aprovou hoje a lei de segurança nacional que vai permitir às autoridades combater atividade considerada “subversiva e secessionista” em Hong Kong, provocando os receios sobre as restrições às liberdades na região.
Tam Yiu-Chung, o único representante de Hong Kong no Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional, o órgão máximo legislativo da China, confirmou hoje que a lei foi aprovada.
O responsável não avançou mais detalhes, limitando-se a dizer que a pena de morte não consta entre punições por “atos de secessão, subversão, terrorismo e conspiração com forças estrangeiras para comprometer a segurança nacional”.
Organizações que defendem os direitos humanos já expressaram oposição ao texto legal, que, segundo fontes citadas pelo jornal South China Morning Post, pode ser punido com pena de prisão perpétua por “atos de secessão, subversão, terrorismo e conspiração com forças estrangeiras para pôr em risco a segurança nacional”.
“Neste momento-chave para Hong Kong, é imperativo que a lei de segurança nacional não seja usada para atropelar os direitos humanos e minar as liberdades que diferenciam a cidade da China continental”, disse a Amnistia Internacional em comunicado.
A Declaração Sino-Britânica de 1984, que articulou a transferência de Hong Kong para a República Popular da China em 1997 (quarta-feira assinalam-se 23 anos) estabeleceu a manutenção por pelo menos 50 anos a partir dessa data de uma série de liberdades no território, que não existem na China continental.
A comunidade internacional, com os Estados Unidos e a União Europeia em destaque, para além de diversas ONG expressaram por mais do que uma vez o receio de que a lei sirva para silenciar vozes críticas em Hong Kong, após um ano de protestos na ex-colónia britânica.
Há duas semanas, um grupo de 86 organizações, incluindo a Amnistia Internacional e a Human Rights Watch, defendeu que a lei de segurança nacional da China devia ser abandonada porque ataca violentamente os direitos humanos e as liberdades de Hong Kong.
A imposição da lei em Hong Kong foi aprovada por Pequim a 28 de maio no encerramento da sessão anual da Assembleia Popular Nacional.
O documento surgiu após repetidas advertências do poder comunista chinês contra a dissidência em Hong Kong, abalada em 2019 por sete meses de manifestações em defesa de reformas democráticas e quase sempre marcadas por confrontos com a polícia, que levaram à detenção de mais de nove mil pessoas.
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