No centro da capital moçambicana, o caos instalou-se antes mesmo de a presidente dos Conselho Constitucional, Lúcia Ribeiro, terminar a leitura do acórdão, com as avenidas Joaquim Chissano e Acordos de Luzaka, duas das principais, bloqueadas pelos manifestantes, que queimavam pneus.
“Não faz sentido isto. Eles roubaram o nosso voto”, gritava à Lusa um dos jovens manifestantes no meio da avenida acordos de Luzaka, entre o fumo negro de pneus queimados e os disparos da Polícia da República de Moçambique, que tentava dispersar os grupos de manifestantes.
Os confrontos entre a polícia e os manifestantes prologaram-se por horas naquele ponto, com o registo de pelo menos um jovem baleado e que foi levado numa viatura das autoridades para o hospital.
Na Avenida de Moçambique, a alguns quilómetros da Avenida Acordos de Luzaka, o cenário era o mesmo, com a estrada bloqueada e, pelo menos, dois feridos a bala, que foram socorridos por populares.
Naquela avenida, mesmo com o início da noite, o caos prevaleceu apesar da chuva que começou a cair, com, pelo menos, duas agências bancárias queimadas e várias lojas vandalizadas, incluindo um dos principais supermercados do bairro de Choupal, periferia de Maputo.
A 53 quilómetros da Avenida de Moçambique, no distrito de Boane, uma viatura da polícia foi incendiada e, a 31 quilómetros de Boane, um tribunal foi queimado.
Um cenário que também foi vivido no bairro da Maxaquene, na periferia de Maputo, onde um tribunal foi queimado.
Em Cumbeza, na província de Maputo, uma portagem foi vandalizada.
Imagens feitas a partir do Katembe, na outra margem da baía de Maputo, mostravam, ao final da tarde, uma cidade coberta por fumo negro, resultado de pneus queimados em vários pontos das estradas da capital moçambicana que ainda carregavam o cheiro de gás lacrimogéneo.
Até ao final da noite, apesar da chuva, do centro de Maputo, ainda era possível ouvir alguns disparos, com a capital a funcionar a meio gás desde as primeiras horas do dia em que foram proclamados os resultados das eleições gerais de 09 de outubro.
O Conselho Constitucional de Moçambique proclamou hoje Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frelimo, como vencedor da eleição a Presidente da República, com 65,17% dos votos, sucedendo no cargo a Filipe Nyusi.
A proclamação destes resultados pelo CC confirma a vitória de Daniel Chapo, jurista de 47 anos, atual secretário-geral da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), anunciada em 24 de outubro pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), mas na altura com 70,67%.
Esse anúncio da CNE desencadeou durante praticamente dois meses manifestações e paralisações, convocadas pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, que não os reconhecia, provocando pelo menos 130 mortos em confrontos com a polícia, segundo dados de organizações não-governamentais que acompanham o processo.
Venâncio Mondlane, apoiado pelo Partido Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos, extraparlamentar), tinha ficado em segundo lugar, com 20,32%, segundo o anúncio anterior da CNE. O Conselho Constitucional na leitura dos resultados hoje confirmou o segundo lugar e atribuiu-lhe 24,19% dos votos.
As eleições gerais de 09 de outubro incluíram as sétimas presidenciais – às quais já não concorreu o atual chefe de Estado, Filipe Nyusi, que atingiu o limite de dois mandatos – em simultâneo com legislativas e para assembleias e governadores provinciais.
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