“Todos temos consciência que ser no Terreiro do Paço é uma responsabilidade muito grande e quisemos assumi-la. Não vamos para o Terreiro do Paço desde 2008. É um espaço enorme. Evidentemente que poderíamos ir para um espaço mais pequeno, para a Assembleia da República, que é mais apertado, mas quisemos mostrar ao Governo, ao poder e aos portugueses que a indignação dos professores hoje é igual à que tiveram quando lhes tentaram dar cabo da carreira. Portanto, o Terreiro do Paço é como o algodão, não deixa enganar. Ou está cheio ou não está cheio”, disse à Lusa o secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), Mário Nogueira.

A manifestação nacional de professores convocada pelas dez estruturas sindicais unidas em plataforma para reivindicar a contagem integral do tempo de serviço congelado — os nove anos, quatro meses e dois dias — parte hoje do Marquês de Pombal pelas 15:00, descendo a Avenida da Liberdade, passando pelos Restauradores e pelo Rossio, e seguindo pela Rua da Prata até ao término, o Terreiro do Paço.

Há recados a passar aos partidos, dos quais os professores esperam uma solução via Assembleia da República, mas “também há um desafio aos professores”.

“Se há um desafio aos partidos de que compreendam a indignação e a justiça da reivindicação dos professores, que é contarem-lhes o tempo que trabalharam, também há um desafio aos professores, que é encher o Terreiro do Paço sob pena de se passar uma mensagem de fragilidade, e isso pode ser muito complicado”, disse Mário Nogueira.

Os sindicatos não se comprometem com números, mas querem uma manifestação a fazer lembrar aquela em que contestaram, em 2008, as mudanças na carreira propostas pela então ministra, também socialista, Maria de Lurdes Rodrigues, e são esperados em Lisboa centenas de autocarros vindos de todo o país.

Para a manifestação os sindicatos levam os resultados dos inquéritos colocados aos professores nos plenários das últimas semanas, e dos quais saíram dados como cerca de 96% dos docentes mantêm a exigência de ver todo o tempo de serviço contado e cerca de 88% não estão dispostos a um faseamento dessa recuperação que ultrapasse o prazo adotado na região autónoma da Madeira, ou seja, 2025.

Mostraram-se ainda dispostos a nova manifestação nacional a 05 de outubro, dia Mundial do Professor que este ano coincide com a véspera das eleições legislativas.

Os professores deverão também marcar presença na Assembleia da República a 16 de abril, data da apreciação parlamentar anunciada já por BE, PCP e PSD ao decreto do Governo que apenas recupera dois anos, nove meses e 18 dias, uma solução unilateral do executivo com base em argumentos de sustentabilidade financeira e tomada depois de falhadas as negociações com os sindicatos.

Do resultado dessa apreciação parlamentar ficam pendentes novas ações de protesto no 3.º período escolar e período de exames e avaliações: convocação de nova manifestação; greves de um dia em diversas semanas; greve coincidente com o período de avaliações a partir de 6 de junho; greves coincidentes com dias de exame e provas finais; greves por regiões ao longo de diversas semanas podem avançar se os partidos não se entenderem numa solução que vá ao encontro das reivindicações dos professores, podendo mesmo a luta estender-se ao arranque do próximo ano letivo.

“Se todos os partidos forem coerentes com a afirmação de princípio que têm feito e o PS com aquilo que tem sido a sua prática nas regiões [autónomas] até poderá ser encontrada uma solução por unanimidade. Era bom, era o consenso absoluto. Se não for, a luta vai estar aí”, disse Mário Nogueira.

O secretário-geral da Fenprof, que tem falado em nome da plataforma sindical, disse ainda que seria “muito agradável” ver partidos e centrais sindicais na rua, ao lado dos professores, mesmo não tendo sido feito nenhum convite nesse sentido.

“A rua é aberta e era muito agradável que todos os partidos estivessem na rua, não necessariamente a desfilar, mas a pelo menos a manifestar a sua solidariedade com os professores e estarem ali presentes e serem visíveis. Era muito bom que as centrais sindicais também o fizessem”.

Até ao final do dia de sexta-feira, estavam confirmadas as presenças dos líderes nacionais do BE, Catarina Martins, e do PCP, Jerónimo de Sousa, assim como do secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos.