Num ‘briefing’ à imprensa, hoje realizado na sede da ONU, em Nova Iorque, o diretor-executivo adjunto do PAM, Carl Skau, falou sobre a sua recente visita à Faixa de Gaza, descrevendo a situação como “cada vez mais desesperante e caótica”, intensificando-se o cenário de insegurança alimentar no enclave palestiniano.
Durante a trégua de sete dias entre Israel e o grupo islamita palestiniano Hamas, o PAM conseguiu chegar a mais pessoas em Gaza e descobriu que metade da população passa fome.
“A realidade sombria é que nove em cada dez pessoas não estão a comer o suficiente, não comem todos os dias e não sabem de onde virá a próxima refeição”, afirmou Skau.
“O que vimos também foi o medo nos olhos das pessoas. Há muitas perguntas, muita confusão e não sabem o que vai acontecer a seguir”, explicou, relatando o “desespero” que observou em abrigos sobrelotados, o que poderá levar ao colapso da lei e da ordem, conforme já havia alertado o secretário-geral da ONU, António Guterres.
À beira do colapso estão também as operações humanitárias, não sendo possível entregar ajuda ordenada nas condições atuais, com Skau a defender a abertura de mais passagens de fronteira para aumentar o volume de ajuda que entra no enclave palestiniano.
O funcionário do PAM pede também a entrada de camiões comerciais, sendo para isso imprescindível um “cessar-fogo humanitário” que permita que a ajuda chegue a toda a Faixa de Gaza.
“A boa notícia é que durante a trégua de sete dias fomos capazes de entregar ajuda de maneira ordenada, entregando produtos como trigo, óleo, atum, feijão e outras mercadorias. Também tínhamos camiões e comboios a caminho do norte, mas isso não foi possível desde que os combates foram retomados”, lamentou.
Face à escala e complexidade da situação, o PAM conseguiu fazer compras de produtos na região e está pronto para entregar alimentos aos milhões de pessoas que deles precisam, “caso as condições o permitam”.
Confrontado pelos jornalistas sobre as acusações feitas pelo Governo israelita, de que não há obstáculos à entrega de ajuda humanitária, culpando a logística da ONU por essa ajuda não chegar às pessoas, o diretor-executivo adjunto do PAM admitiu “desafios” nas semanas iniciais do conflito, mas defendeu que o problema não está no sistema da ONU, mas sim na falta de condições de segurança e de acesso ao enclave.
O ataque inicial do Hamas a Israel, sem precedentes desde a criação do Estado de Israel em 1948, provocou, segundo as autoridades de Telavive, 1.200 mortos e mais de 200 reféns.
Em retaliação, Israel tem bombardeado Gaza e bloqueou a entrada de bens essenciais como água, medicamentos e combustível.
Embora os dois lados tenham feito uma trégua de alguns dias para troca de prisioneiros e reféns, bem como para possibilitar o acesso de ajuda humanitária, os combates foram retomados e o número de mortos em Gaza ultrapassa os 18 mil — 70% dos quais mulheres, crianças e adolescentes –, vítimas dos intensos bombardeamentos israelitas ao enclave palestiniano, segundo o Ministério da Saúde tutelado pelo Hamas, que controla Gaza desde 2007.
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