Os manifestantes, debaixo de um calor sufocante, marcharam durante sete horas pelas ruas estreitas da ilha principal, formando uma impressionante procissão e segurando cartazes vermelhos onde se podia ler “Não à extradição”.
“Há 1,03 milhões de pessoas na marcha de hoje”, disse um dos organizadores à multidão concentrada defronte do Conselho Legislativo (LegCo, o parlamento local), citado pela agência AFP.
A polícia, que tradicionalmente divulga números de participação muito inferiores aos organizadores, estimou que a marcha teve, no seu ponto mais alto, 240 mil pessoas – o que, segundo estes números, será a segunda manifestação mais massiva desde a reintegração na China.
A marcha foi comparável a uma manifestação de 2003, em que meio milhão de pessoas saíram às ruas, forçando as autoridades a abandonar uma controversa lei de segurança nacional.
Os críticos do projeto de lei de extradição, apresentado pelas autoridades pró-Pequim de Hong Kong, colocará o povo à mercê de um sistema judicial chinês opaco e politizado.
A medida gerou críticas de juristas, nos círculos financeiros e entre diplomatas ocidentais preocupados com as consequências para os cidadãos da ex-colónia britânica que regressou à China em 1997.
Um comerciante local, Marco Ng, fechou o café para se juntar à marcha, considerando que a cidade “é mais importante” do que o seu negócio: “Se não protestarmos, o Governo não levará em conta as nossas preocupações”.
“Esta lei não afetará apenas a reputação de Hong Kong como um centro financeiro internacional, mas também o nosso sistema judicial. Terá consequências para o meu futuro”, afirmou Ivan Wong, estudante de 18 anos, citado pela AFP, criticando que “a voz do povo não é ouvida”.
Muitos manifestantes disseram não acreditar no compromisso do executivo de Hong Kong de não enviar pessoas críticas ao governo chinês para o continente.
A proposta de lei apresentada pelo Governo de Hong Kong ao Conselho Legislativo autoriza a extradição de condenados em fuga para vários países, incluindo a China continental, com os quais não tem atualmente acordos de extradição.
As alterações à lei da extradição motivaram, em abril, a maior manifestação em Hong Kong desde o "Movimento dos Guarda-chuvas", em 2014, num protesto que reuniu meio milhão de pessoas.
A fórmula 'um país, dois sistemas' serviu para a integração de Hong Kong e Macau na República Popular da China, em 1997 e em 1999, respetivamente, com o estatuto de regiões administrativas especiais, garantindo que as políticas socialistas em vigor no resto da China não se aplicam nos territórios.
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