A ação serviu para chamar a atenção para a crise da habitação e os seus efeitos nos estudantes universitários, mas também para promover as manifestações de sábado em Lisboa e noutras cidades do país em protesto contra a crise na habitação em Portugal.
Pelas mãos do artista Ticiano Rottenstein ergue-se em frente da Reitoria da Universidade de Lisboa um cubículo feito de pedaços de madeira, com porta e móveis dentro, e um cartaz à porta a dizer “Arrenda-se T0” e depois os sucessivos valores, riscados, de 300 e 600 euros, seguidos do valor atual, de 1.800 euros.
Uma instalação que simbolicamente diz que as pessoas estão já tão excluídas do acesso a habitação que “se calhar” o que têm pela frente é ir viver numa barraca, uma tenda ou “uma situação indigna de vivência”, disse à Lusa Rita Silva, do Movimento Vida Justa e porta-voz do Movimento Casa para Viver.
“Por outro lado aponta para a questão da subida do preço das rendas. Temos ali o preço de 1.800 euros, temos hoje em dia casas que às vezes não têm a mínima qualidade que estão nos 1.800 ou 2.000 euros. E nós perguntamos porque é que o Estado não tem coragem para falar de regulação de preços e regulação de rendas, uma vez que o mercado está completamente absurdo”, acrescentou.
Mas a instalação serve também, disse, para dar visibilidade à “muito grave” questão dos estudantes, que se confrontam com o facto de não poderem continuar a estudar por não terem onde viver.
“Conseguir um quarto no centro de Lisboa é praticamente impossível” e cada vez mais os estudantes procuram opções nas zonas periféricas, o que os obriga muitas vezes a várias horas de transportes púbicos diárias, salientou também à Lusa Diogo Ferreira Leite, presidente da Associação Académica da Universidade de Lisboa.
Por isso, o protesto de hoje serve para sublinhar as dificuldades que os estudantes do ensino superior têm sentido nos últimos anos no acesso a alojamento a preços acessíveis, disse.
Diogo Ferreira Leite garantiu que há muitos casos em que os estudantes entram para a Universidade, mas são obrigados a regressar aos seus locais de origem porque não têm forma de suportar um quarto em Lisboa.
Na Linha de Apoio que a Associação disponibiliza essa situação transparece em muitos casos: “Ou pagam 700 ou 800 euros por um quarto em Lisboa ou terão de ficar mais um ou dois anos a trabalhar para juntar dinheiro e voltar depois, ou esperar ter lugar numa residência”.
José Afonso Garcia, que já foi presidente da Associação Académica e pertence ao movimento Habitação de Abril, de defesa de habitação para estudantes e que esteve na organização da iniciativa, disse à Lusa que no ano passado 10% dos estudantes que entraram na primeira opção não se matricularam em Lisboa por não poderem pagar casa.
“Isto é alarmante”, disse, salientando que os jovens estão a ver o “futuro hipotecado”, porque não vão conseguir ter uma casa nem constituir uma família. E tudo por uma “questão básica” que é a habitação, um direito constitucional.
Nas palavras do jovem, é preciso para já aumentar e melhorar a mobilidade dos estudantes que são empurrados para as periferias, com transportes públicos mais eficientes, e depois construir mais residências.
É por isso que os estudantes participam no sábado na manifestação, disse, e foi por isso que apoiaram a ação de hoje, do T0 a 1.800 euros.
Foi construído em poucos minutos, sem janelas, mas com teto e uma porta, até um mini-terraço do lado do sol, duas cadeiras e uma arquinha que serve de mesa para vaso com uma flor.
E no interior uma cama no chão, onde pode dormir uma pessoa pequena, armário com loiça, uma mesa, na parede dois quadros, um com três cães a atacarem um javali, para dar atualidade. E para alargar o universo de candidatos ainda uma banheira e um bacio de criança.
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