Os dois candidatos já estiveram no mesmo dia, por vezes juntos, em iniciativas organizadas pelo PSD, como as jornadas parlamentares, um Conselho Nacional da JSD ou um congresso das Mulheres Sociais-Democratas, mas ainda não está marcado qualquer debate entre ambos.
Os debates originaram, aliás, a primeira polémica – e até agora única - entre as duas candidaturas: na sua apresentação formal, Santana Lopes desafiou cada uma das estruturas distritais e regionais a organizarem debates, o que, no limite, daria 21 debates e foi liminarmente rejeitado pela candidatura de Rio.
Depois de o ainda presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, ter anunciado a 03 de outubro que não se recandidatava ao cargo que ocupa desde 2010, foram precisos apenas dez dias para que o partido tivesse dois candidatos à liderança (o prazo para a entrega de candidaturas termina apenas a 02 de janeiro, mas é improvável que surjam novos candidatos).
Rui Rio apresentou-se aos militantes em Aveiro, a 11 de outubro, com um discurso curto, sem perguntas, e com duas mensagens centrais: candidatou-se à liderança do PSD devido à “situação particularmente difícil” dos sociais-democratas e defende que o PSD é um partido de poder “e não uma muleta de poder”, numa rejeição de um Bloco Central.
O antigo autarca do Porto tem repetido, nas suas intervenções, o alerta sobre a necessidade de travar a erosão eleitoral do PSD, dizendo que o partido corre o risco de perder a influência necessária para voltar a governar Portugal, como aconteceu em outros países europeus.
A este propósito, Rio tem repetido que os militantes devem pensar, antes de votar, qual o candidato que os portugueses preferem: “Não vale a pena ganhar eleições cá dentro se isso não significar nada lá fora”, defendeu recentemente, na apresentação da sua Comissão de Honra.
A este argumento, Santana Lopes tem respondido com as permanentes solicitações do partido para que fosse candidato à Câmara de Lisboa, o que, na sua opinião, demonstra que tem simpatia do eleitorado fora do partido.
O antigo primeiro-ministro apresentou a sua candidatura a 22 de outubro em Santarém e falou durante uma hora aos militantes, respondendo no final a perguntas dos jornalistas.
Nessa ocasião, justificou que se apresentava como candidato para “clarificar” e defendeu que os sociais-democratas devem orgulhar-se do trabalho de "salvação nacional" feito por Pedro Passos Coelho.
É sobre o legado do antigo primeiro-ministro que Santana tem dirigido as principais críticas ao seu adversário, acusando-o de alinhar com quem criticava o partido quanto este lidava com a ‘troika’.
Nas várias iniciativas de campanha, onde ambos têm privilegiado as sessões com militantes, os candidatos têm comentado temas de atualidade, mas as divergências não têm sido gritantes.
Em entrevista à TVI, Rio considerou que o que o separava de Santana era muito, mas antevia sobretudo “um choque de personalidades”, enquanto Santana tem repetido que a campanha interna “não é a guerra do Vietname”, embora vá apelando aos militantes que pensem se querem “um líder mais distante ou mais próximo das pessoas”.
Os dois são adeptos de uma descentralização mais profunda, ambos dizem querer o PSD ao centro e também concordam numa maior disponibilidade para consensos de regime em determinadas áreas, como os incêndios, embora admitindo que serão difíceis entendimentos na reta final da legislatura.
Mas também divergem, por exemplo, sobre a duração do atual Governo, com Santana a reiterar estar convencido que haverá eleições legislativas antecipadas, ou nas prioridades para a economia.
Em matéria económica, Santana põe a tónica no crescimento e avisa que o PSD tem de ter um líder mais preocupado com as pessoas do que com as contas, enquanto Rui Rio defende que o atual executivo devia ter conseguido “défice zero” – mas alertando que tal não traz felicidade, sendo apenas um meio de melhorar a vida das pessoas.
Em matérias internas, os dois apelaram ao pagamento de quotas por parte dos militantes – prazo que termina a 15 de dezembro.
No entanto, Rio já disse ser contra, por princípio, quaisquer alterações estatutárias que venham a ser debatidas no próximo Congresso, considerando que seria preferível fazer uma outra reunião magna apenas para discutir estatutos, já que defende “uma revolução” na forma de funcionar do partido.
Neste ponto, Santana admite analisar as propostas de revisão que venham a ser entregues e dar as suas sugestões e já anunciou que, se ganhar, convidará Rui Rio para o seu projeto de construção de uma alternativa ao atual Governo.
Além da "revolução" no partido, Rio pediu já também um "novo 25 de Abril" cívico que possa reformar o regime, de forma a aproximar as pessoas dos vários poderes, como o político, mas também da justiça.
Já Santana Lopes tem defendido uma “reinvenção do Estado” que possa pôr fim ao que chama de “Estado abusador e castigador” que cobra demasiados impostos e falha nas funções essenciais, como a segurança dos cidadãos.
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