Em declarações à Lusa, o antigo líder parlamentar manifestou-se ainda “surpreso” com a rejeição de debates por parte do atual presidente do PSD e recandidato ao cargo, Rui Rio, considerando que estes “nunca são prejudiciais em democracia, que vive do confronto de ideias".
José Pedro Aguiar-Branco sublinhou que tem relações pessoais “normais e históricas” com os dois candidatos à liderança do PSD nas eleições diretas de 27 de novembro, frisando que a motivação da sua escolha se baseia “na estratégia que o PSD deve seguir em relação à sua afirmação como alternativa à governação socialista”.
“E aí a minha escolha recai sobre o dr. Paulo Rangel porque acho que representa melhor e tem mais capacidade para uma afirmação clara e inequívoca do PSD em relação ao PS”, afirmou.
Há dois anos, Aguiar-Branco tinha apontado a mesma justificação para apoiar Luís Montenegro contra Rui Rio, recordando que deixou em 2019 a Assembleia da República também por discordar da estratégia seguida pela direção do PSD.
“Na altura, fazia um balanço de que não era suficientemente clara no que devia ser a oposição à governação socialista. Dois anos depois, verifico que o quadro não só se manteve como até piorou em algumas dessas matrizes de afirmação da oposição”, considerou, dizendo que se manteve em silêncio neste período para não prejudicar o partido.
Aguiar-Branco justificou o seu apoio a Paulo Rangel - com quem disputou a liderança do PSD em 2010, numa corrida a três de que saiu vencedor Pedro Passos Coelho - também pela “personalidade e características” do eurodeputado, que, na sua opinião, garantem que o país tenha “dois projetos explícitos” para escolher nas legislativas antecipadas de 30 de janeiro.
“Em democracia, devemos ter projetos claros para os portugueses poderem fazer a sua opção, creio que o PSD ficará melhor representado nessa matéria pela candidatura do dr. Paulo Rangel”, afirmou.
Questionado sobre a posição anunciada na terça-feira por Rui Rio - de que não irá fazer campanha para as diretas para se concentrar na oposição ao PS e ao Governo e rejeitando debates com Rangel por entender que podem ser “prejudiciais ao partido” -, Aguiar-Branco disse ter ficado “surpreso”.
“Vejo com alguma surpresa que o dr. Rui Rio entenda que não deve existir algo que em democracia é básico e contribui para um melhor esclarecimento dos militantes e dos portugueses em relação às propostas dos partidos”, afirmou.
Sobre este tema, estranhou que não seja possível encontrar, “até por acordo, temas que possam se debatidos entre os dois candidatos” que interessem aos portugueses e que teriam até uma maior divulgação num período em que “os holofotes” estão virados para o PSD.
“O debate interno em relação a propostas de um partido como o PSD é um debate que interessa a todos os portugueses, não é um debate que se concentre nas questões de intendência, mas nas alternativas que os portugueses esperam que sejam apresentadas pelo partido”, afirmou.
O antigo ministro da Defesa recordou que, também em 2010 como atualmente, ficou claro que “o candidato a líder do PSD seria candidato a primeiro-ministro”.
“E também ficou claro, dada a forma elevada como decorreram os debates e a discussão de ideias, como isso contribuiu para que o partido se sentisse mais mobilizado, mais forte e, depois, saísse mais unido para ter na altura o presidente melhor colocado para ser a alternativa ao engenheiro José Sócrates, primeiro-ministro em funções”, apontou.
“O debate em democracia dentro de um grande partido enriquece para fora (…) O debate e a vitória que acontecer será do que estiver melhor posicionado para bater o dr. António Costa, o que acredito que é possível de fazer nas próximas eleições”, afirmou.
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