A reunião, marcada para as 17:00, no Porto, surge depois de o antigo líder parlamentar do PSD Luís Montenegro ter pedido a convocação de eleições diretas antecipadas – nas quais seria candidato - e de Rui Rio ter rejeitado o repto e decidido submeter a direção a um voto de confiança do Conselho Nacional.

A cronologia de como o PSD chegou até aqui:

8 de janeiro

- Jornal Público noticia que vários dirigentes distritais têm em curso um movimento de recolha de assinaturas para a realização de uma reunião extraordinária do Conselho Nacional, com vista à apresentação de uma moção de censura à direção de Rui Rio.

- Ex-líder do PSD Manuela Ferreira Leite afirma na TSF preferir que o PSD tenha um "pior resultado" eleitoral do que ficar com um "rótulo de direita", a propósito de uma Convenção do Movimento Europa e Liberdade, com a participação de vários críticos sociais-democratas.

9 de janeiro

- Também na TSF, o antigo líder parlamentar do PSD Luís Montenegro considera as declarações de Ferreira Leite "gravíssimas e descabidas", assegura que não aceita "um PSD pequenino" e deixa a promessa: “Muito em breve falarei sobre o estado do PSD, falarei mesmo sobre o futuro do PSD porque entendo que este estado de coisas tem de acabar e isto tem de mudar: o PSD assim não se vai conseguir afirmar”.

- Ao final do dia, em declarações aos jornalistas a meio da Comissão Política do partido, Rui Rio rejeita responder diretamente aos críticos - recusa apenas que o PSD seja "um partido pequeno" -, manifesta a convicção de que a estratégia não tem de mudar e anuncia o arranque da preparação das eleições europeias e uma Convenção Nacional do Conselho Estratégico para 16 de fevereiro.

10 de janeiro

- Fonte próxima de Luís Montenegro comunica que o antigo líder parlamentar anunciará na sexta-feira a sua disponibilidade para disputar a presidência do partido, em conferência de imprensa no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, pelas 16:00.

Miguel Morgado: "Nesta fase, Rui Rio deve ver testada nas urnas a sua estratégia"
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- Miguel Morgado, antigo assessor político do anterior líder Pedro Passos Coelho, afirma que, se forem convocadas eleições diretas no PSD, irá ponderar “muito a sério a possibilidade de ser candidato”.

11 de janeiro

- Ainda antes da declaração de Montenegro, a vice-presidente do PSD Isabel Meirelles acusa-o de tentativa de “golpe de Estado” que prejudica o partido e o país, e assegura que a direção tenciona fazer cumprir “à risca” os estatutos do partido.

- Em Lisboa, pelas 16:00, Luís Montenegro confirma estar disponível para ser candidato à liderança do PSD, faz um diagnóstico arrasador do ano de mandato de Rui Rio e desafia o presidente a marcar diretas de imediato: “Se tem mesmo Portugal à frente de tudo, mostre coragem e não hesite em marcar estas eleições internas, não tenha medo do confronto, não se justifique atrás de questões formais, o tempo é de confronto político”.

- Horas mais tarde, após uma audiência com o Presidente da República sobre outras matérias, no Porto, Rui Rio promete responder a Montenegro "com calma e na devida altura": "Eu vou responder, naturalmente, não vou fazer de conta que nada está a acontecer, seria uma grande hipocrisia. Agora eu fui corredor de cem metros, mas quando tinha 20 anos de idade, agora é mais meio fundo e fundo, portanto, com calma e na devida altura".

- A Presidência da República informa que Marcelo Rebelo de Sousa receberá Luís Montenegro na segunda-feira, no Palácio de Belém.

- Aos jornalistas, Marcelo Rebelo de Sousa afirma que "a vida do PSD é com o PSD" e enquadra o encontro com o líder social-democrata com a necessidade de discutir com Rui Rio questões de política interna e externa.

12 de janeiro

- No final de uma reunião do Conselho Estratégico Nacional do PSD, em Coimbra, Rui Rio repete que irá responder a Luís Montenegro "a seu tempo".

- O fundador do PSD e antigo líder do partido Francisco Pinto Balsemão afirma que os últimos acontecimentos no partido tiveram “um conteúdo um pouco melodramático, ou patético” e com um ‘timing’ que não foi oportuno, em declarações proferidas em Cabo Verde.

- A meio da tarde, o gabinete de imprensa do PSD informa que o presidente do partido fará uma declaração à imprensa às 18:30, num hotel do Porto.

- À hora marcada, Rio recusa o repto de Montenegro de convocar diretas - "a minha resposta é não" - mas anuncia que pediu a convocação de um Conselho Nacional extraordinário para que o órgão aprecie e vote uma moção de confiança à sua direção.

"Se for esse o seu entendimento, o Conselho [Nacional] pode retirar a confiança à direção nacional e assumir democraticamente a responsabilidade de a demitir. Se os contestatários não conseguiram reunir as assinaturas para a apresentação de uma moção de censura, eu próprio facilito-lhes a vida e apresento [...] uma moção de confiança", referiu o presidente do PSD, num discurso em que acusou Montenegro de levar a cabo um “golpe palaciano" e de prestar “um serviço de primeiríssima qualidade” ao PS e a António Costa.

- Num jantar da distrital da Guarda do PSD, o eurodeputado Paulo Rangel - que já foi candidato à liderança do partido - elogia Rui Rio, considerando que demonstrou “coragem”, “bom senso e sentido de Estado”, e defendeu que “não é bom nem positivo” abrir uma crise política a meses de eleições.

13 de janeiro

- Rui Rio completa um ano de mandato à frente do PSD, tendo sido eleito em 13 de janeiro de 2018 com 54% dos votos contra Pedro Santana Lopes, que entretanto saiu do PSD para formar a Aliança.

- A ex-ministra das Finanças Maria Luís Albuquerque reage à intervenção de Rui Rio da véspera, lamentando que o presidente do PSD não tenha marcado “de imediato” eleições diretas para “uma verdadeira clarificação”, e considerou “desnecessários” os “ataques pessoais” a Luís Montenegro.

- No seu espaço de comentário semanal da SIC, o ex-líder do PSD Luís Marques Mendes elogiou quer Luís Montenegro, por desafiar a liderança, quer a resposta do presidente do partido, e vaticinou que Rui Rio conseguirá fazer aprovar a sua moção de confiança no Conselho Nacional. Se for esse o caso, defende, Luís Montenegro também não sairá a perder, porque ficará na ‘pole position’ para uma futura disputa de liderança no PSD.

- Vários órgãos de comunicação social noticiam que os dirigentes distritais que preparavam uma moção de censura se reuniram e decidiram não a levar a votos.

14 de janeiro

- Numa semana dedicada às empresas, o líder do PSD avisa em Famalicão que não vai "andar a animar a comunicação social" com questões internas do partido, preferindo criticar a "carga fiscal brutal" que disse existir em Portugal com o atual Governo.

- O presidente do Conselho Nacional do PSD, Paulo Mota Pinto, marca para dia 17, quinta-feira, às 17:00, no Porto, a reunião extraordinária deste órgão para submeter à votação a moção de confiança do presidente Rui Rio.

- À saída de uma audiência com o Presidente da República, Luís Montenegro acusa Rui Rio de ter tido “medo” de convocar diretas no partido, mas mantém a sua disponibilidade de ser candidato, se algum órgão as convocar.

- Mais tarde, em Viana do Castelo, Rio avisa que só responderá às acusações de Luís Montenegro no Conselho Nacional extraordinário.

- O antigo presidente da Assembleia da República e ex-líder do Governo Regional dos Açores Mota Amaral defende ser “fundamental” respeitar a vontade dos militantes do partido que elegeram Rui Rio como líder, por dois anos, e para enfrentar os próximos atos eleitorais.

- Presidentes das distritais de Lisboa e Setúbal, Pedro Pinto e Bruno Vitorino, contestam a hora de marcação do Conselho Nacional, em horário laboral a meio da semana, e exigem clarificação quanto ao método da votação, que defendem ter de ser secreto.

Alguns deputados escrevem ao líder parlamentar do PSD, Fernando Negrão, a pedir-lhe que interceda junto da direção, uma vez que para estarem presentes no Conselho Nacional os parlamentares sociais-democratas terão de faltar aos trabalhos na Assembleia da República.

- Na resposta, Paulo Mota Pinto justifica a hora a que começa o Conselho Nacional com a necessidade de um "amplo espaço de debate" e remete para a reunião de quinta-feira qualquer discussão "sobre a condução dos trabalhos", como a forma de votação.

"A expectativa é que a votação só ocorra ao fim de algumas horas de reunião, quando estiverem esgotadas as intervenções", justificou.

- Em entrevista à TVI, Luís Montenegro considera que uma eventual aprovação da moção de confiança do presidente do partido pelo Conselho Nacional não representaria uma derrota política sua, uma vez que defendeu a realização de diretas.

15 de janeiro

- Em entrevista à TSF, o ex-líder parlamentar do PSD Hugo Soares alerta que a direção não tem o exclusivo da escolha dos candidatos eleitorais, rejeitando que o objetivo dos críticos seja garantir lugares no parlamento e admite sair "pelo próprio pé".

O único deputado que esteve presente quando Montenegro desafiou o líder critica igualmente a hora escolhida para o Conselho Nacional e diz nem admitir que a votação se faça sem ser por voto secreto.

- O presidente do PSD, Rui Rio, escusou-se a comentar a polémica relacionada com o dia e a hora escolhidos para a realização do Conselho Nacional extraordinário do partido, considerando que os portugueses não querem saber de “tricas”.

- O antigo presidente da Assembleia da República Mota Amaral anuncia que vai avançar com um requerimento de votação nominal da moção de confiança. À Lusa, justifica que lhe "repugna e envergonha" haver quem no PSD "tenha medo de assumir as suas posições".

17 de janeiro

- O Conselho Nacional do PSD, órgão máximo do partido entre Congressos, decide hoje se mantém a confiança política na direção de Rui Rio. A reunião, com início marcado para as 17:00, num hotel no Porto, arrancará com o discurso do presidente do partido, Rui Rio, que justificará perante os conselheiros os seus argumentos em favor da manutenção da confiança da direção, que vai a meio do seu mandato. Segue-se um período de intervenções que deverá demorar várias horas (está prevista uma interrupção dos trabalhos para jantar). Encerradas as inscrições, será o momento de votação, determinando o artigo 68.º dos estatutos do PSD que “as moções de confiança são apresentadas pelas Comissões Políticas e a sua rejeição implica a demissão do órgão apresentante”.