À saída da reunião do Conselho Nacional do PSD, Rangel foi questionado se admite candidatar-se à presidência do partido, depois de o atual líder, Pedro Passos Coelho, ter anunciado na terça-feira que não será recandidato nas diretas que poderão realizar-se já em dezembro.

"Nós hoje viemos aqui apenas fazer uma reflexão. Este não é o tempo para nomes nem para números, este é o tempo de pensarmos qual é o futuro que queremos para o PSD", disse, remetendo para o artigo que escreveu na terça-feira no jornal Público.

Perante a insistência dos jornalistas, Rangel fez uma alusão a uma passagem bíblica: "Como se diz no livro do Eclesiastes, há tempo para rasgar e tempo para coser, há tempo para estar calado e tempo para falar, o tempo para falar foi lá dentro e o tempo para estar calado é cá fora".

De acordo com conselheiros nacionais presentes na reunião que decorreu à porta fechada, Rangel fez uma intervenção muito aplaudida, na qual disse que o PSD não pode embarcar em "soluções amigas do Bloco Central", no que foi entendido como uma referência crítica a Rui Rio, que deverá em breve apresentar a sua candidatura à liderança do partido.

O eurodeputado detalhou, perante os conselheiros, os temas que defende deverem ser centrais para o PSD, referindo-se a matérias que tem abordado noutras intervenções - e até no último Congresso -, como o alargamento à sociedade civil ou a importância da mobilidade social.

Rangel foi elogiado na reunião pelo vice-presidente Marco António Costa, que salientou o bom resultado obtido pelo eurodeputado nas eleições europeias de 2014, quando o PSD ainda governava um país sob assistência financeira.

Também o ex-líder parlamentar Luís Montenegro fez uma intervenção muito aplaudida no Conselho Nacional, centrada nos elogios a Passos Coelho e na qual não abordou a futura disputa da liderança.

No final, Montenegro escusou-se a falar à comunicação social.

O Conselho Nacional decorreu num tom mais pacífico do que seria de esperar, depois dos resultados autárquicos muito negativos do partido, mas a intervenção inicial de Passos a justificar que saía para não criar a ideia de um partido "agarrado ao poder" e ao passado acabou por 'esvaziar' algumas das intervenções mais críticas que estavam preparadas.

Segundo os relatos da reunião, não houve nenhum apoio explícito a Rui Rio, que deverá avançar em breve para a disputa da liderança do partido, e houve até intervenções críticas, como a de Luís Rodrigues, ex-líder da distrital de Setúbal, que desafiou o antigo presidente da Câmara do Porto a dizer "ao que vinha" em matéria de regionalização.

Já o presidente da Câmara de Aveiro, Ribau Esteves, que já foi secretário-geral no tempo da liderança de Luís Filipe Menezes, avisou que está de volta à vida interna do partido e criticou duramente alguns antigos líderes do PSD, sem nomear, e que classificou como "principais açoitadores do partido".

Passos Coelho usou a sua intervenção final sobretudo para agradecimentos ao partido, e, em resposta a Ribau Esteves, salientou que houve líderes do PSD que tiveram para com ele um "comportamento irrepreensível", citando Fernando Nogueira, Rui Machete e Luís Filipe Menezes.

O líder do PSD deixou ainda uma palavra de apoio à sua candidata a Lisboa, referindo-se à forma "muito corajosa" como Teresa Leal Coelho aceitou o desafio.

O Conselho Nacional do PSD voltará a reunir-se, de forma extraordinária, na próxima segunda-feira para fixar o calendário interno do partido, que poderá passar pela realização de eleições diretas já em dezembro.