Na resposta, o PS não se referiu à situação da fábrica de Setúbal, mas PCP e BE acusaram os sociais-democratas de trazerem um discurso de “medo e de ameaça” sobre os trabalhadores da empresa.
Numa declaração política na Assembleia da República, a vice-presidente do PSD e ex-ministra das Finanças Maria Luís Albuquerque sublinhou que a decisão da Volkswagen de produzir em Portugal o seu novo modelo “foi o resultado de um intenso esforço de negociação do anterior governo”, baseado na alta produtividade dos trabalhadores e na paz social na empresa.
“Mesmo que ainda se alcance um acordo, e desejamos sinceramente que assim seja, e rapidamente, a alteração de paradigma não deixará de ser lembrada quando houver novo modelo a produzir e outros países com fábricas da Volkswagen voltarem a concorrer com Portugal”, alertou, lamentando a “interferência politizada dos sindicatos afetos à CGTP” na empresa.
A ex-ministra acrescentou que, se a Autoeuropa vier a ser preterida no futuro, o PSD não deixará de apontar responsabilidades: “à ação e à cumplicidade de outros, todos desta maioria das esquerdas que reclama para si os méritos do que corre bem e empurra para outros a responsabilidade do que corre mal”.
“Primeiro vinha aí o diabo, agora sobre Autoeuropa traz a ameaça da deslocalização, será que é uma vontade escondida do PSD?”, questionou, na resposta, a deputada do PCP Paula Santos.
A parlamentar comunista considerou estranho que, quando se perspetiva uma nova negociação entre a administração da empresa e os trabalhadores, o PSD traga novamente o assunto da Autoeuropa a debate, acusando a ex-ministra de parecer querer “condicionar essa mesma negociação de forma a que sejam retirados direitos aos trabalhadores”.
Na mesma linha, a deputada do BE Joana Mortágua acusou Maria Luís Albuquerque de querer instrumentalizar os trabalhadores da Autoeuropa “para fazer a narrativa de que o diabo vem aí”.
“É inadmissível que o PSD e o CDS, movidos por raiva sindical, tragam uma teoria que não corresponde à verdade”, afirmou.
Na sua intervenção, Maria Luís Albuquerque desejou ainda um bom ano a todos os deputados e aos portugueses e que o próximo ano possa ser usado para preparar os que se seguirão, com muitos ‘recados’ ao atual Governo.
“Queremos um Novo Ano em que o Estado não falhe aos cidadãos na proteção do valor supremo da vida humana, um ano em que os alunos tenham comida em condições nas cantinas e em que o aquecimento possa ser ligado, um ano em que os doentes não tenham de esperar horas sem fim nas urgências”, apelou.
Pelo PS, o deputado Rocha Andrade optou por não se referir à situação da Autoeuropa e criticou o conjunto de “previsões bastante pessimistas” da ex-ministra das Finanças.
“Mas tendo em conta o seu registo recente sobre previsões, eu devo-lhe dizer que o facto de fazer essas previsões deve confortar até os mais pessimistas”, ironizou.
“A melhor garantia que nós temos de que este ano correrá melhor é a senhora deputada já não ser ministra das Finanças”, secundou a deputada do BE Joana Mortágua.
A reunião da Comissão de Trabalhadores (CT) com a administração da Autoeuropa, fábrica do grupo Volkswagen, em Palmela, sobre os novos horários de trabalho foi adiada de sexta-feira para terça-feira, foi hoje divulgado.
Depois da rejeição de dois pré-acordos sobre os novos horários negociados previamente com os representantes dos trabalhadores, a administração da fábrica anunciou a imposição de um novo horário transitório, para vigorar no primeiro semestre de 2018, e a intenção de dialogar com a CT no que respeita ao horário de laboração contínua, que deverá ser implementado em agosto, depois do período de férias.
O novo horário transitório, que entra em vigor nos últimos dias do mês de janeiro, com 17 turnos semanais, prevê o pagamento dos sábados a 100%, equivalente ao pagamento como trabalho extraordinário, acrescidos de mais 25%, caso sejam cumpridos os objetivos de produção trimestrais.
Os trabalhadores da Autoeuropa aprovaram em dezembro uma proposta para uma greve de dois dias, em 02 e 03 fevereiro.
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