“Examinaremos a possibilidade de regressar [ao acordo], mas com uma condição: se todos os princípios de participação da Rússia neste acordo foram tomados em consideração e realizados sem exceção e na sua totalidade”, declarou Putin durante uma reunião governamental transmitida pela televisão.

A Rússia decidiu esta semana suspender o acordo sobre a exportação de cereais ucranianos após meses de críticas ao texto acordado, e afirmando que os seus envios de produtos agrícolas e de fertilizantes estão bloqueados pelas sanções.

Moscovo reclama a reintegração do seu banco agrícola, Rosselkhozbank, no sistema bancário internacional SWIFT, o levantamento das sanções sobre as peças sobresselentes para a maquinaria agrícola, o desbloqueio da logística de transportes e dos seguros e o descongelamento de ativos.

Pretende ainda o reinício do funcionamento da gigantesca conduta que liga a cidade russa de Togliatti a Odessa destinada à exportação de amoníaco, componente decisivo dos fertilizantes. Esta estrutura, fora de serviço desde o início do conflito, foi danificada por uma explosão em 5 de junho e que Moscovo atribuiu a Kiev.

Em paralelo, o líder do Kremlin acusou os ocidentais de se servirem do acordo sobre a exportação de cereais como um instrumento de “chantagem política”.

“Em vez de ajudar os países que têm efetivamente necessidade, o ocidente utilizou o acordo sobre os cereais para fins de chantagem política e tornou-o num instrumento de enriquecimento de multinacionais, de especuladores no mercado mundial”, assinalou no decurso da reunião.

Segundo Putin, o acordo cerealífero provocou perdas avaliadas em 1,2 mil milhões de dólares (cerca de mil milhões de euros) aos agricultores russos e uma baixa de rentabilidade das exportações.

“O nosso país está em condições de substituir os cereais ucranianos, em simultâneo, comercialmente e gratuitamente”, prosseguiu Putin, que prevê uma “colheita recorde” em 2023.

Assinado no verão de 2022 em Istambul pela Ucrânia e pela Rússia, sob a mediação da ONU e da Turquia, o acordo abrange os cereais ucranianos e a exportação de fertilizantes e de produtos alimentares russos.

Segundo dados das Nações Unidas, desde que o acordo entrou em vigor, perto de 33 milhões de toneladas de cereais foram escoados a partir dos portos do sul da Ucrânia.

A ofensiva militar russa em curso no território ucraniano, lançada a 24 de fevereiro do ano passado, mergulhou a Europa naquela que é considerada a crise de segurança mais grave desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Os aliados ocidentais da Ucrânia têm fornecido armas a Kiev e aprovado sucessivos pacotes de sanções contra interesses russos para tentar diminuir a capacidade de Moscovo de financiar o esforço de guerra.