Discursando na reunião virtual do Fórum Económico Mundial (FEM), Putin apontou o crescimento da desigualdade e do desemprego e o aumento do populismo como “potenciais gatilhos” para novos conflitos que, afirmou, “podem mergulhar o mundo em uma “anti-utopia sombria”.
“A pandemia exacerbou os problemas e os desequilíbrios que têm sido acumulados. As instituições internacionais estão a enfraquecer, os conflitos regionais estão a multiplicar-se e a segurança global está a degradar-se”, afirmou o Presidente russo.
Putin saudou a decisão da Rússia e dos Estados Unidos de prolongar o programa New Start (pacto para o controlo de armas nucleares) e considerou-a um “passo positivo”, mas acrescentou que as crescentes tensões estão a assemelhar-se à situação que se vivia antes da Segunda Guerra Mundial (1939/45).
“Espero mesmo que esse conflito global seja atualmente impossível. Isso significaria o fim da civilização. Mas a situação pode tornar-se imprevisível e ficar fora de controlo. Há um perigo real de enfrentarmos uma desaceleração no desenvolvimento global por causa de uma guerra total, por causa de tentativas para resolver contradições procurando inimigos internos e externos e pela destruição de valores tradicionais básicos”, afirmou o chefe de Estado russo.
Putin atribuiu a degradação da crise a um modelo económico liberal ocidental que, sustentou, “fomenta a intolerância social, racial e étnica com tensões que eclodem mesmo em países com instituições civis e democráticas aparentemente estabelecidas há muito tempo”.
O Presidente russo responsabilizou o “papel negativo” das empresas de tecnologia que administram as principais redes sociais, alegando que “abusaram” da posição e tentaram “controlar a sociedade, substituir instituições democráticas legítimas e usurpar o direito de um indivíduo decidir como viver e quais as opiniões que pode expressar”.
“Vimos tudo isso nos Estados Unidos”, acrescentou, sem pormenorizar.
Putin também afirmou que tem havido uma “pressão cada vez mais agressiva” sobre os países que discordam de um “papel de satélites obedientes, do uso de barreiras comerciais, sanções ilegítimas, restrições nas esferas financeira, tecnológica e de informação”.
As relações entre a Rússia e o Ocidente caíram para mínimos do pós-Guerra Fria, na sequência da anexação da península ucraniana da Crimeia pela Rússia, em 2014, pela alegada intromissão de Moscovo nas eleições norte-americanas de 2016 e, mais recentemente, no caso do envenenamento e a subsequente prisão do líder da oposição russa, Alexei Navalny.
“A era marcada por tentativas de criar uma ordem global unipolar centralizada acabou agora”, disse Putin, numa aparente referência à perceção da dominação global por parte dos Estados Unidos,
Em relação às tensões com a União Europeia (UE), o Presidente russo pediu a Bruxelas para “renunciar às fobias do passado”, defendendo que, atualmente “apenas importa” assumir o diálogo com “honestidade”.
“Aqui só importa uma coisa: há que assumir o diálogo com honestidade e livrarmo-nos das fobias do passado, de usar nos processos políticos internos os problemas herdados de séculos anteriores, e olhar para o futuro”, argumentou.
Segundo Putin, se Moscovo e Bruxelas conseguirem solucionar estes problemas, haverá uma “etapa positiva” nas relações bilaterais, algo consubstanciado por uma “cultura comum” que, na sua essência, “é a mesma civilização”.
Considerando “evidentemente anormal” o atual estado das relações entre a Rússia e a UE, Putin apelou a Bruxelas para “regressar à agenda positiva”, defendendo que, assim, quer Moscovo quer os países europeus, “parceiros absolutamente naturais”, poderão beneficiar.
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