
“Uma das ações de Putin, pode ser chegar a acordo imediatamente antes [da cimeira da NATO], para reduzir a perceção de ameaça”, destacou João Vieira Borges na conferência "Uma visão atlantista da política externa portuguesa: o legado de Mário Soares e os desafios do futuro", em Lisboa, organizada pelo Instituto Diplomático e que integra o programa das comemorações do centenário do nascimento de Mário Soares, no âmbito do 40.º aniversário da Fundação Luso-Americana - Para o Desenvolvimento (FLAD).
O presidente da Comissão Portuguesa de História Militar apontou que Vladimir Putin pode tomar uma ação deste género para dividir os aliados e para “contrariar o espírito” que estará presente na próxima cimeira da NATO, em 24 e 25 de junho em Haia, nos Países Baixos.
O major-general sublinhou que nessa cimeira estará “politicamente em jogo” a pressão do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para os aliados investirem 5% do PIB em defesa, considerando que o republicano pede esse valor para negociar e chegar a um valor entre os 3 e os 3,5%.
“Isto são valores políticos e para nós militares interessa mais as capacidades. Para chegar aos 3,5% (…) há também que negociar as capacidades, têm que ficar definidas”, analisou durante a discussão num painel que contou também com o antigo comissário europeu António Vitorino e o historiador David Castaño, com a moderação da diretora de informação da agência Lusa, Luísa Meireles.
Para o também coordenador do Observatório de Segurança e Defesa da SEDES - Associação para o Desenvolvimento Económico e Social, a conjuntura atual é favorável, por Trump já ter percebido o que Putin pretende.
“[Putin] não abdica um centímetro do que foram os objetivos iniciais, antes pelo contrário, sistematicamente vai alargando aquilo que são as suas condições de rendição da Ucrânia”, destacou.
“Na essência politica, estrategicamente há agora condições para que a Nato seja reforçada e tenhamos caminho traçado de dissuasão em relação à Rússia”, acrescentou, ressalvando a possível tomada de posição de Putin sobre o conflito.
Também António Vitorino considerou que existe atualmente uma predisposição dos políticos e população para o investimento em defesa, lembrando que será incerta a opinião pública após o fim do conflito, com a “redução da perceção da ameaça”.
O antigo comissário europeu sublinhou ainda que caso seja estabelecido um compromisso de investir 3,5% do PIB em defesa, este terá uma marca ‘By America’ [Produzido pelos Estados Unidos], apontando que os países europeus devem “provar que têm uma agenda”.
“É incontornável porque há capacidades que se não forem adquiridas aos Estados Unidos não existem simplesmente, mas, e é um grande mas, as condições de utilização dos equipamentos não têm de obedecer às regras contratuais atualmente em vigor. Esse é que é o ‘trade off’. (…) Em matéria de transferência de tecnologia, software, condições de utilização, os contratos em vigor não podem continuar, têm de ser alterados”, defendeu.
“Se não tivemos também capacidade de aproveitar essa oportunidade para criar condições que favoreçam a autonomia estratégica, estaremos a gastar mais dinheiro sem grande utilidade”, concluiu.
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